As missões de paz no Líbano, que integram as ações da Força Interina das Nações Unidas no país (Unifil na sigla em inglês), são repletas de tensão, já que a região vive em conflito armado. Mas, em uma viagem tão longa como a realizada pela fragata União, da Marinha do Brasil, outros riscos são enfrentados. Incêndios, alagamentos e ataques externos podem acontecer a qualquer momento.
Entre janeiro e outubro deste ano, a embarcação participou da missão que tem como objetivo impedir a entrada de armamento ilegal no país da Ásia Ocidental. De acordo com o comandante da embarcação, o capitão-de-fragata Guilherme Lopes Malafaia, esta foi uma viagem “tranquila”, mas a tripulação estava sempre atenta aos perigos, tanto em mar, quanto em terra.
“A região é complicada, com o conflito agora na Síria. Sempre tem situações também de pequenas interações ou conflitos pontuais na fronteira do Líbano com Israel. De vez em quando, a gente acompanha, pela mídia, algumas notícias de problemas na fronteira terrestre. Mas, na parte marítima, a gente não teve nenhum problema neste período em que o navio esteve lá. Correu tudo normalmente”, revelou o oficial.
Por conta desses conflitos, no Mar Mediterrâneo, é grande o número de refugiados que se arriscam para tentar uma vida mais segura na Europa. E a fragata União foi acionada para atuar no salvamento de cerca de cem pessoas, durante a viagem de volta ao Brasil, em setembro.
“Estávamos em patrulha pela Unifil e fomos acionados de madrugada, porque tinha uma embarcação com cerca de cem refugiados próximo ao Chipre. Eu estava um pouco distante, mas era o navio de guerra mais próximo. Fomos acionados para aproximar e fazer o resgate, mas os refugiados já estavam sendo recolhidos por lanchas”, contou o comandante.
A fragata União esteve no Líbano de janeiro a outubro deste ano, em missão de paz |
Madrugada
Além dos perigos externos, o dia a dia no navio também é repleto de aventuras. Nesta última viagem, um dos compartimentos da embarcação foi totalmente alagado, durante uma tempestade, por volta da meia-noite. “Os problemas, para variar, só acontecem de madrugada, quando está todo mundo dormindo. Nesses casos, o navio todo guarnece, todos acordam. Começamos a preparar para combater e tentar evitar que a água entrasse. Vimos que não tinha como, porque as ondas estavam quebrando bem ali, na popa (parte de trás da embarcação). Isolamos o compartimento para que a água não passasse e o mar só foi melhorar lá pelas 6, 7 horas da manhã. Esse é um momento de tensão constante e que precisa ser administrado rapidamente”, explicou.
Sensores e monitores do Centro de Operações de Combate permitem monitoramento de outras embarcações |
Tripulação
Mas, nesta missão, dois militares tiveram crises de apendicite e precisaram ser desembarcados e removidos para um hospital em Beirute, a capital libanesa.
“Se a gente estivesse muito longe de terra, atravessando o Atlântico, e tivesse que mandar alguém para o hospital para fazer uma cirurgia de apendicite, seria impossível. Aí, seria obrigado a fazer a cirurgia no mar mesmo, senão a pessoa poderia morrer. Em casos de emergência, a gente faz porque é melhor tentar fazer e sobreviver do que não fazer nada e a pessoa morrer”, admitiu o oficial.
COC
O Centro de Operações de Combate (COC) é o local da fragata União, da Marinha do Brasil, onde são tomadas todas as decisões operacionais durante uma missão. Assim, é onde o comandante da embarcação, o capitão-de-fragata Guilherme Lopes Malafaia, passa a maior parte do tempo durante jornadas e operações de treinamento.
No COC, estão concentradas as informações captadas por todos os radares. É possível selecionar os ambiente aéreo, de superfície e até submarino para verificar a aproximação de ameaças à segurança da embarcação.
Em 2005, a União foi totalmente modernizada. Foram trocados sensores, armamentos e os próprios equipamentos de navegação. A embarcação ganhou mísseis, canhões e consoles novos, além da atualização de todos os sistemas de combate.
“Aqui, a gente recebe dados de câmeras que têm informações e imagens infravermelho, para que a gente possa, à noite, detectar uma embarcação. Assim, é possível ver se ela é realmente amiga, um barco pesqueiro, um navio mercante ou qualquer outra coisa. Essas informações também vão para um sistema, para que seja direcionado o armamento adequado para detê-lo, se for uma ameaça”, explicou o oficial.
É deste local também que o comandante dá as ordens para inspeções de embarcações suspeitas de tráfico de armas, já que a principal missão no Líbano é impedir a entrada de armamento no país. Neste momento, entra em ação o grupamento de operações especiais da fragata brasileira.
“Em caso de ser necessário abordar algum navio que não esteja obedecendo as orientações, a gente manda um helicóptero, uma lancha, para tomar o navio e, a partir daí, ele passará a obedecer as nossas ordens para ser inspecionado”, explicou o comandante Malafaia.