Conteúdo local e as sondas da Sete Brasil

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As sondas,além de serem os itens mais caros e que mais agregam tecnologia, são os que mais geram emprego. Só a fabricação de um casco requer 2 000 pessoas

Com a Operação Lava  cresce um movimento para debater a exigência do conteúdo local – que poderá implicar compra ou aluguel desses itens no exterior.Quem acompanha esse setor de perto, sabe que  grandes potencias do mercado de óleo e gás são contrárias à política de conteúdo local. Afinal, é mais fácil encomendar itens em Cingapura ou então trazer equipamentos velhos, já usados no Golfo do México, do que encomendar a empresas brasileiras que estão apenas se iniciando na atividade. As multinacionais tem uma aliada forte que é a Operação Lava-Jato. É bom lembrar que o preço de uma plataforma está em torno de US$ 1 bilhão, ou seja, dá margem a muitas comissões para intermediários nas importações.

Pelas regras do conteúdo local, o Brasil precisa dos estaleiros nacionais para construir novas plataformas, sondas de perfuração, entre outros equipamentos.No mercado brasileiro, há uma grande carência nas empresas, quer sejam operadoras ou fornecedores que atuam nos primeiros elos da cadeia de suprimentos da indústria de Óleo e Gás, de poder contar com o suporte de uma consultoria especializada.

De todas as promessas que se sucederam à descoberta do pré-sal, a mais celebrada previa a criação de uma indústria local para suprir a exploração da nova fronteira e impulsionar a economia. Em nome desse objetivo, o governo definiu que pelo menos 60% dos equipamentos para a prospecção de tal riqueza deveriam ser fabricados no Brasil. Pagar mais caro pelos itens made in Brazil seria o preço de erguer uma indústria quase do zero. Pois até agora nenhum novo navio de perfuração genuinamente nacional singrou os mares em direção a esse eldorado. Ao contrário: os primeiros três dos 29 navios-sonda encomendados pela Petrobras estão sendo produzidos do outro lado do mundo, em Singapura.

Construir no Brasil as sondas e plataformas do pré-sal foi um compromisso de campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pilar da política industrial de Dilma Rousseff. Além de serem os itens mais caros e que mais agregam tecnologia, são os que mais geram emprego. Só a fabricação de um casco requer 2 000 pessoas. Ao estabelecer uma reserva de mercado, o Brasil trilha o mesmo caminho de outros países que se viram diante da riqueza do petróleo. Não funcionou com todos, mas só com aqueles que estabeleceram metas e prazos para que os fabricantes nacionais ganhassem fôlego para competir globalmente. Foi assim que a Noruega se tornou a maior potência mundial em tecnologia de ponta para a exploração em alto-mar e a Coreia do Sul, líder na produção de sondas.

Um levantamento feito pelo SINAVAL junto à indústria petrolífera deixa claro que, até agora, o conteúdo nacional não deslanchou. Das 104 sondas e plataformas lançadas ao mar desde 2003, o primeiro ano do governo Lula, 85% são totalmente estrangeiras.

Nos últimos meses, os estaleiros do pré-sal enfrentam  desemprego e  turbulências internas que levaram até a trocas societárias. Essa instabilidade lança dúvida sobre futuras entregas e faz florescer nos bastidores uma intensa movimentação de empresários para entrar no jogo.

Sondas na mira da Lava-Jato

A Sete Brasil foi criada pela Petrobras, Bradesco, Santander e BTG Pactual numa associação com bancos e fundos de pensâo, para construir 28 navios plataforma para perfuração do petróleo da camada do pré-sal. A empresa  era a cereja do bolo do “conteúdo nacional”. A dívida da Sete Brasil chega hoje a US$ 4 bilhões. A Sete estava destinada a construir 28 sondas para a estatal, orçadas em US$ 22 bilhões. Está paralisada, em fase de reestruturação, e aguardado dinheiro novo que a tire do buraco.

A crise da empresa —na qual sócios e os credores já colocaram mais de R$ 20 bilhões– se agravou com seu envolvimento na Lava Jato, que apura corrupção na estatal, e a queda no preço do petróleo, que inviabilizou financeiramente negócios no setor.Na tentativa de salvar o negócio, a companhia mudou e encolheu seu plano original. Mas precisa da confirmação de que a Petrobras vai alugar suas sondas por 15 anos para que os credores aceitem oficialmente rolar sua dívida.

2015061630180Há meses a Sete tenta fazer a estatal assinar documento atestando que continua interessada em seus equipamentos. Mas a petroleira impõe novas exigências a cada reunião. Uma das últimas é a garantia de que as seis empresas inicialmente contratadas para operar as sondas concordam em rescindir os contratos.Essas companhias haviam se tornado sócias minoritárias das sondas no início do projeto. Mas, como o número de sondas do projeto foi cortado, a Sete, para não perder rentabilidade, decidiu operar diretamente os equipamentos.

Na semana passada, André Esteves, o maior acionista do banco BTG Pactual, foi preso. Esteves era o banqueiro encarregado de negociar os 3, 6 bilhões de dólares de dívida da companhia. Em cinco anos de funcionamento, a Sete Brasil não entregou uma única sonda à Petrobras. João Carlos Ferraz (foto), ex. presidente da empresa, fez acordo de delação premiada e revelou que 1% de propina era pago sobre todos os contratos da empresa. Na verdade, a Sete Brasil só produziu dor de cabeça e prejuízos.