Entrevista Antonio Dominguez diretor superintendente da Maersk Line

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Antonio-Dominguezpor Bruno Viggiano / Petronotícias

O complexo ambiente econômico vivido faz companhias dos mais variados segmentos reavaliarem seu posicionamento global, estrutura, serviços e maneiras de executá-los. O setor de transportes marítimos não escapa à regra e a Maersk Line, operadora logística do Maersk Group, passa por um processo desse tipo na América do Sul. Um novo cluster integra a Costa Leste da região, unificando as equipes administrativas no Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. De acordo com o diretor superintendente da nova divisão, o panamenho Antonio Dominguez, a reorganização não fechará nenhum escritório, apenas integrará as atividades, agilizando serviços e sendo mais responsivos aos clientes. O público alvo da companhia inclui as empresas brasileiras que buscam atividades nos países vizinhos, com as exportações em alta. A baixa nas importações, no entanto, preocupa a Maersk e o setor, ambos passando uma fase difícil com as movimentações do mercado. Para se manter bem posicionada, a companhia anunciou investimentos em 27 novos navios e 130 mil contêineres, em agosto do ano passado. Desses, 30 mil unidades refrigeradas serão destinadas a operações no País. “O Brasil é o quinto maior mercado de bens refrigerados do mundo, por isso o investimento realizado”, afirma.

Quais os ganhos com a unificação das equipes administrativas no Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai?

O principal benefício com essa mudança é a facilidade que nossos clientes passam a ter. Especialmente os clientes brasileiros, que têm aumentado suas participações nesses mercados vizinhos. Basta um contato único com o escritório de São Paulo para que se tenha uma cotação para toda a região abrangida pelo novo cluster da Maersk. É importante destacar que não estamos fechando nenhum escritório. Mantemos abertos nossos dois escritórios no Brasil, o de Buenos Aires e o de Montevideo. Nós queremos ser parceiros nesse momento de expansão de mercados, passando contatos e ajudando os investidores.

Na prática, alguma alteração será sentida pelos clientes da Maersk? A Maersk está deixando de prestar algum serviço do seu portfólio?

Não. A frequência e a abrangência continuam as mesmas. Nós mantemos as escalas de maneira semanal para todos os destinos. A maior mudança é que tínhamos um serviço maior e um menor vindos da Ásia, mas esse menor foi fechado. Para continuar provendo esse serviço, a Maersk comprou o espaço em um concorrente. É um movimento comum no mercado face aos níveis de importação e exportação.

Como tem sido as movimentações do mercado ultimamente?

A importação caiu até 30% e o frete chegou a cair 90%. Esses números são preocupantes para a companhia. Com a queda da importação, o número de contêineres também diminui drasticamente. A receita passa a ser menor, já que a importação era o maior custo do serviço. Hoje, há falta de contêineres, o que nos leva a trazer de outras regiões, que é um custo muito alto. Boa parte da exportação é precificada como carga de retorno, mas isso não faz mais sentido na atual conjuntura. No mínimo, o custo de trazer o contêiner tem que ser coberto e tem que se achar rentabilidade pela exportação.

Quais os planos imediatos da Maersk com essa nova organização?

O novo cluster assegura que estamos trazendo o melhor serviço para os nossos clientes, adaptado a uma nova realidade de mercado, que visa os serviços corretos, através de rotas corretas, com clientes recebendo uma resposta rápida para as suas demandas. Como dito, os brasileiros vêm expandindo suas exportações, principalmente de proteína. Nesse setor, apenas no último ano, as exportações cresceram 111% da costa leste sul americana para a China, por exemplo.

A crise vivida no Brasil já influencia as receitas da companhia no país?

Sem dúvida. Se pegarmos o volume de importação, principalmente o automobilístico e eletroeletrônico, as quedas são bastante acentuadas. Não é segredo que os armadores e a Maersk estão operando no negativo e, se essa relação entre importação e exportação não for mudada, o negócio deixará de ser sustentável em médio prazo. Nós da Maersk vemos na crise uma oportunidade a ser aproveitada, já que as exportações estão muito fortes, mas não são responsáveis por grandes cifras. Apesar da fase econômica ruim que o país atravessa, a Maersk ainda acredita muito no mercado brasileiro e de toda a região. O Brasil é o quinto maior mercado de bens refrigerados do mundo, por isso o investimento realizado na compra de 30 mil novos contêineres refrigerados.