Vida no gelo

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Thomaz Brandolin na Antártida (Foto: Divulgação)

(Por Natália Mazzoni- ESTADÃO)

O filme A Era do Gelo 4 chegou aos cinemas mostrando a turma de animais malucos que a gente adora em mais uma aventura. O filme é bem legal e vale a pena ser visto na telona. Mas, antes de correr para ver, o Estadinho o convida a imaginar como seria viver num mundo de gelo.

Para dar uma mãozinha nessa tarefa, conversamos com duas pessoas que já passaram meses vivendo na neve. Ficou curioso? A matéria está nos links abaixo.

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Clique aqui para abrir o arquivo com as roupinhas. Imprima, pinte, recorte e vista o boneco do Sua Vez.

Tem mais curiosidades de como é uma expedição no gelo no bate-papo com os “homens do gelo”, da nossa reportagem de capa. Olhe só.

 

Thomaz Brandolin, alpinista que atravessou o Polo Norte a pé:

 Thomaz Brandolin na Antártida (Foto: Divulgação)

 

Como começa uma viagem para o Polo Norte?
Thomaz:
A primeira vez fui até uma vila esquimó no Canadá. Era meados de março, no auge do inverno, 40 graus negativos, ainda à noite, porque não tem as 24 horas de luz. De lá, fretei um avião que me levou para o meio do gelo. Eu e um cachorro.

O que você levou?
Levei um trenó. Nele eu carrego mantimentos, comida desidratada, combustível do fogareiro, barraca de camping, saco de dormir, rádio-comunicador e espingarda para me proteger de urso polar. O trenó começa a viagem pesando 90 quilos. E carrego mais 10 quilos na mochila.

O que é mais difícil de lidar?
Incomoda quando venta demais. Para tirar a bota, ir ao banheiro, aí você sente muito frio. O vento corta a pele mesmo, precisa deixar a barba crescer, colocar gorro, usamos óculos que protege o rosto. Não pode deixar nada exposto.

Como você se prepara antes da viagem?
Antes de ir é preciso fazer uma preparação física, na academia. Tem treinamento técnico também, que é basicamente esquiar puxando o trenó. É bem difícil, trabalha uma musculatura que não estamos acostumados a usar. Tem o treinamento de procedimentos, que ensina a lidar com coisas como o óculos embaçado: é preciso acoplar uma peça que desvie o ar que expiramos para a frente, o que evita que a lente embace.

Como é estar sozinho num deserto de gelo?
Quando você está sozinho, tem de se bastar, ser o navegador, o cozinheiro, quem faz a logística, quem é o ombro amigo. Você só pensa em sobreviver e avançar.

 

Jefferson Simões, glaciólogo e coordenador de projetos do Programa Antártico Brasileiro

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Jefferson Simões, na Antártida (Foto: Jefferson Simões/Divulgação/NUPAC)

Tem como tomar banho numa expedição na neve?
Não tem como lavar roupa nem tomar banho. A higiene pessoal é apenas escovar os dentes e lavar o rosto. Uma vez por semana nós fazemos uma higiene geral com lenços umedecidos. Já fiquei 2 meses e meio sem tomar banho. Usamos muita roupa, às vezes cinco camadas para aguentar o frio. A última camada é uma blusa que barra o vento, peça muito importante para não deixar a temperatura do corpo baixar.

Você sentia muito frio em temperaturas que chegavam a 50 graus abaixo de zero?
Na verdade a gente não sente frio. Se sentir frio, fica doente, vai dar tudo errado. É perigoso ter um congelamento da parte exposta ao frio ou ter hipotermia. O cuidado maior é com as pontas do dedo, nariz e orelha. Teve gente no passado que perdeu partes do corpo por causa do frio. No nosso grupo não acontece, nós vamos sempre protegidos. Um explorador polar não é um aventureiro, só nos expomos ao perigo quando é necessário.

Como foi a travessia da Antártida?
Foi em 2004. Era uma missão chilena em que o único brasileiro na equipe era eu. Foram 2.500 km, ida e volta, em 2 meses pesquisando o comportamento do gelo. Eram 13 pessoas vivendo dentro de um contêiner.

Quando é necessário?
Às vezes nos deparamos com fendas no gelo, tempestades. É preciso estar bem treinado e preparado para passar por isso. Nós sabemos dos riscos. Eu já cai numa fenda, mas estava amarrado e fui puxado na hora.

O que tem de mais especial em ser um explorador polar?
Às vezes estamos em locais que ninguém nunca pisou, nos lugares mais frios do mundo. Além de ver cristais de gelo caindo de um céu azul, numa paisagem totalmente branca. É um contraste muito grande, muito bonito.

Veja fotos de uma das expedições polares do glaciólogo Jefferson Simões