Porto da capital completa 95 anos com projetos de crescimento no volume de cargas

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Apesar de possuir características fluviais, o porto da cidade de Porto Alegre é considerado marítimo, conforme resolução da ANTAQ, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários, do governo federal
Um quase centenário com muita vida pela frente: apesar de possuir características fluviais, o porto da cidade de Porto Alegre é considerado marítimo, conforme resolução da ANTAQ

por Bruno Waick

Sexta-feira, 29 de julho de 2016. 11h30min da manhã. Vindo de Bahia Blanca, na Argentina, o Eastern Confidence, com 9.850 toneladas de cevada atracava na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Apenas mais um navio descarregando sua carga em um porto qualquer. Seria, não fosse o fato do carregamento ser despejado junto as mais de 400 mil toneladas de produtos que deixaram os porões das embarcações no primeiro semestre desse ano para os silos do maior porto fluvial do Brasil.

Apesar de possuir características fluviais, o porto da cidade de Porto Alegre é considerado marítimo, conforme resolução da ANTAQ, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários, do governo federal. São oito quilômetros de cais atracáveis, divididos em três instalações. O cais Mauá, com 3.240 metros de comprimento. O cais dos Navegantes, com 3.268 metros, além de cinco pátios descobertos. Um para carvão, com 36.105 mil metros quadrados e os demais com 22.340 mil metros quadrados.

Este último constituindo três silos para grãos, com capacidade de 83.750 toneladas, sendo um silo vertical de 18,750 toneladas, operado pela CESA, a Companhia Estadual de Silos e Armazéns, um silo de 15 mil toneladas da Sociedade Anônima Moinho Rio-grandense (Samrig) e um terceiro de 50 mil toneladas sob responsabilidade da Companhia de Armazéns Graneleiros (Ciagram). O último trecho, conhecido como Cais Marcílio Dias, tem 1366 metros de comprimento e serve para movimentação de areias e seixos rolados.

Para se chegar a estrutura atual foram anos de discussões, obras e paralizações. Os primeiros projetos surgiram de Vereadores atuantes no ano de 1833, que aprovaram a ideia de construção de um cais estruturado, desde a Ponta do Arsenal (atualmente Usina do Gasômetro) até o Caminho Novo (hoje Avenida Voluntários da Pátria). Mas a ideia ficou mesmo apenas no papel. Somente na década de 1850 é que o porto da capital gaúcha viu surgir seus primeiros trapiches. Na verdade, uma única doca de atracação em pedra.

Após a realização de obras de sinalização na Lagoa dos Patos é que o porto de Porto Alegre começou a ser mais procurado. Com a demanda, trapiches e pontes foram erguidos, mas de forma desordenada, o que levou as autoridades da época, como o Intendente da cidade, Alfredo Augusto de Azevedo, a discursar sobre a importância da construção de um cais. “A construção de um cais na parte do litoral compreendida entre a Cadeia Civil e a Rua Ramiro Barcellos é, a meu ver, uma necessidade palpitante a que devemos atender com solicitude”, afirmava o governante municipal.

Apesar do alerta, os anos se passaram e nada foi concretizado em relação ao porto da capital. Até que obras na Barra da Lagoa dos Patos, na cidade de Rio Grande, resultaram na abertura da navegação de grande calado no Estado, obrigando assim, a realização de melhorias e um planejamento efetivo da construção de um porto compatível com o movimento que existia e que certamente aumentaria em Porto Alegre.

Enfim, saía do papel através das mãos do então Secretário de Obras à época, Dr. Cândido Godoy, a contratação da empresa Rudolf Ahrons, para a construção de 146 metros de cais, com quatro metros de profundidade e mais um projeto de ampliação em 180 metros, possíveis devido aos aterros realizados na área central da cidade. As obras que iniciaram em 1911 foram concluídas dois anos depois.

Novos projetos surgiram, mas a ampliação do porto da capital voltou a ficar somente nos debates até o ano de 1919, quando Borges de Medeiros, Presidente do Estado do Rio Grande do Sul na ocasião, retomou as ideias de ampliação. Outros governantes vieram e seguiram atuando com obras de melhorias e expansão.

Flores da Cunha, por exemplo, acrescentou mais algumas centenas de metros ao cais, criou o Frigorífico do Porto, ergueu o cais Navegantes e Marcílio Dias e deu como concluída a obra geral do porto de Porto Alegre em 1962. A administração e exploração comercial do porto era feita pelo DEPRC, o Departamento de Portos, Rios e Canais. Isso até 27 de março de 1997, quando a assinatura de um convênio entre o Ministério dos Transportes e o Governo do Estado passou a concessão para a Superintendência de Portos e Hidrovias do Rio Grande do Sul, SPH.

Hoje, as principais cargas embarcadas são soja, celulose, bobinas de ferro e aço, máquinas e aparelhos elétricos, petróleo cru, óleo diesel, combustível, benzeno, tolueno e xileno. Já as cargas trazidas ao porto da capital são trigo, sulfatos, fertilizantes, papel, nafta, petróleo, gasolina comum, propeno e etileno.

548b3a649a0b7Devido a retração econômica que o país atravessa, o volume de cargas no primeiro semestre de 2016 foi de 400 mil toneladas. Mesmo assim, há uma expectativa de fechar o ano com mais de 1 milhão de toneladas de cargas movimentadas. O Diretor Superintendente da SPH, Luiz Capoani, afirma que ações junto a iniciativa privada estão sendo buscadas para desenvolver serviços importantes. Um exemplo disso foi a reforma da draga Triches, que realiza manutenção permanente na hidrovia, permitindo o fluxo contínuo das embarcações.

A ideia é claramente expandir o volume de cargas nos próximos anos, mas alcançar esse objetivo não será nada fácil, já que o porto da capital não possui áreas de expansão. Por outro lado, ainda restam cinco quilômetros de extensão para novos empreendimentos e instalação de terminais. A capacidade operacional atualmente é muito superior à demanda, garante o Diretor de Portos e Chefe da Divisão do Porto de Porto Alegre, Cláudio Neves.

Para igualar a demanda com a capacidade operacional, a SPH disponibiliza a infraestrutura para a movimentação da produção das empresas do Rio Grande do Sul. “Cabe a iniciativa privada o uso dessa estrutura”, conclui Neves.

Com características muito mais de importador do que de exportador, investir na capacidade de operação e armazenamento é fundamental para dar confiança e agilidade às operações, possibilitando uma redução de custo das empresas e consequentemente ao consumidor final.