Todas as pesquisas de campo previstas para o verão de 2020-2021 pelo PROANTAR foram canceladas devido a pandemia da COVID-19

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por Jefferson Cardia Simões

Os coordenadores de 20 projetos e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera (INCT da Criosfera) tomaram essa decisão devido ao risco para a saúde de pesquisadores e pessoal de apoio e a necessidade de quarentenas médicas tanto antes da ida quando da volta da Antártica. Em particular, o Conselho de Gestores de Programas Nacionais Antárticos, instituição internacional, teceu várias recomendações para prevenir a disseminação inter e intracontinental da COVID-19 e especificamente dentro das estações antárticas. Finalmente, existe a possibilidade de transmissão do vírus para espécies da fauna antártica. A Antártica é o único continente sem registro da COVID.

Assim, é inviável a realização de trabalhos de campo na região antártica no verão de 2020/2021. Os cientistas brasileiros seguem os passos da maioria dos programas antárticos nacionais (inclusive da Austrália, EUA, Nova Zelândia e Reino Unido) que já anunciaram o cancelamento da maior parte ou de todas expedições científicas antárticas programadas para este verão.
As pesquisas antárticas laboratoriais (por satélites, modelos, reuniões científicas online) continuarão, mesmo no auge da pandemia e os trabalhos científicos na Antártica retornarão no verão de 2021/2022 quando então os pesquisadores esperam que a pandemia tenha passado e/ou uma vacina efetiva disponibilizada.

Alguns comentários dos coordenadores de projetos do PROANTAR:

Prof. Jairo Werner, UFF, médico (jairowerner100@gmail.com): “Em termos médicos, frente ao risco de contaminação pelo Covid-19 e para garantir a segurança sanitária dos cientistas do PROANTAR e do Grupo Base da Estação Antártica Comandante Ferraz, apoiamos a suspensão, neste verão, das atividades de pesquisa na Antártica – local sem possibilidade de acesso à UTI, com reconhecida incidência de alterações na resposta imunológica humana e maior vulnerabilidade da saúde mental, agravada pela pandemia atual.”

Prof. Luiz Henrique Rosa, UFMG (lhrosa@icb.ufmg.br): “Como biólogo e microbiologista reforço minha grande preocupação com a questão sanitária referente à Covid-19. Vale ressaltar que caso algum pesquisador ou militar sofra com os efeitos danosos da Covid-19 nos navios ou na Estação Antártica seria muito difícil transporta-lo para o Chile ou Brasil para um tratamento adequado, considerando nos navios e na Estação Antártica não possuem ventiladores mecânicos e centros de tratamento intensivos.”

Prof. Rosa Maria Esteves Arantes, UFMG, médica (rosa.esteves.arantes@gmail.com): “Precisaremos garantir a segurança da equipe que passou o último inverno (2019) na Estação Brasileira Comandante Ferraz e a continuidade da operação, o que implica em uma logística operacional segura para a troca das equipes no final de 2020. Serão necessários protocolos robustos de pré-triagem, testes e medidas rigorosas de isolamento (quarentena) da equipe que fará o lançamento dos navios e cargas, e do grupo de militares que partirá do Brasil no início do verão austral (Out/Nov) e irá substituir o grupo que lá se encontra isolado desde março deste ano.”

Prof. Jefferson Cardia Simões, UFRGS, glaciologista, Vice-presidente do Scientific Committee on Antarctic Research – SCAR: (jefferson.simoes@ufrgs.br): “Toda a comunidade antártica está mobilizada para evitar a contaminação do continente pela COVID-19. O SCAR, o comitê internacional para ciência antártica, cancelou todos os encontros presenciais até 2021. O SCAR aprovou na semana passada projeto para avaliação rápida dos riscos e consequências que a pandemia traz a ciência antártica, aos pesquisadores, aos programas antárticos nacionais, à fauna e ao turismo.