Tenho que me preocupar com cultura organizacional?

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Segundo o antropólogo britânico Edward B. Taylor, cultura é “aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.

Cultura organizacional, por sua vez, pode ser definida como um conjunto de comportamentos de pessoas que fazem parte de uma organização, assim como o significado associado a essas ações. Nesse ambiente, a cultura engloba aspectos como valores, visão, normas, crenças, entre outros. Isso tudo afeta diretamente a interação entre as pessoas e grupos, e deles com os clientes.

No entanto, não podemos nos esquecer que, antes de pertencer a determinados grupos, as pessoas têm características muito diferentes, influenciadas por fatores como ambiente familiar, formação, vivências etc.

Se observarmos alguns povos que sempre preservaram, valorizaram e se preocuparam em transmitir para as gerações seguintes a sua cultura, vamos perceber que, embora as individualidades existam, seus membros conseguiram permanecer unidos, transmitindo uma mensagem muito clara de suas convicções e modo de agir.

Não entrarei aqui no mérito de eventuais radicalismos, muito menos em avaliar se determinadas culturas poderiam ou deveriam ter evoluído (algo desejável em todas as estruturas humanas). Trata-se de saber em que medida a preservação de uma cultura influencia o comportamento das pessoas que fazem parte do respectivo grupo.

Analisando o momento atual, veremos que há uma tendência de crescimento dos negócios que menos dependem de ativos tangíveis como imóveis e fábricas.

Ainda me lembro, no início de minha carreira como consultor, de uma visita que fiz a uma editora responsável por importantes publicações. O fundador e presidente me mostrou com muito orgulho a foto de um parque gráfico que acabara de ficar pronto. Apenas três anos depois, voltei a visitá-lo e ele me disse, mostrando a mesma foto: “E pensar que já me orgulhei disso!”

O comentário estava associado a uma percepção, que viria a se confirmar em pouco tempo, de que seu negócio não era imprimir revistas, mas gerar conteúdo, não importando o suporte: revista física, internet, tablets, mobile e o que viesse.

Esse caso exemplifica uma mudança importante na dinâmica empresarial: as organizações passaram a se preocupar cada vez mais com o negócio principal, terceirizando alguns ativos tangíveis ou atividades adjacentes. Ocorreu em diversos setores.

A mudança de paradigma permitiu aos gestores concentrar os investimentos dos recursos nas atividades que de fato podem gerar diferencial competitivo.

Estamos, portanto, caminhando para um modelo em que o valor dos negócios estará mais concentrado em ativos intangíveis do que nos tangíveis. Sendo assim, a criação, a preservação e a evolução da cultura organizacional serão fundamentais para a sobrevivência e o crescimento das empresas.

Dessa forma, empreendedores deverão concentrar-se em aspectos como desenvolvimento de pessoas, processos, criação de soluções e produtos, políticas de qualidade, canais de venda, sistemas de controle e sistemas que busquem “turbinar” o relacionamento com seus clientes.

Lembre-se: a cultura representará o significado de seu negócio, representado pelas ações associadas a todos os processos, e do relacionamento pessoal, externo ou interno. Isso, no longo prazo, é o que fará o negócio prosseguir por várias gerações.

* Carlos Miranda é presidente e fundador do fundo de private equity BR Opportunities, mestre em administração de empresas pelo Ibmec-RJ e coautor do livro “Empresas Familiares Brasileiras”, organizado pelo prof. Ives Gandra Martins