Surge o sétimo continente: o de plástico

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Cerca de 20% dos componentes desses depósitos são atirados ao mar por navios ou plataformas petrolíferas./Scientific Reports

por Diniz Júnior

Nunca se falou tanto na poluição dos oceanos nos últimos anos, como agora. Na verdade, pouco se fez para mudar esse quadro que preocupa o mundo. Cerca de 40% dos oceanos são intensivamente impactados pelas ações do homem. Entre nossos comportamentos mais preocupantes, destacam-se a pesca predatória, o lixo distribuído ao léu e a devastação de hábitats marinhos.

A poluição tem origem em atividades executadas em terra, como o descarte descuidado de fertilizantes, de agrotóxicos e de esgotos. Calcula-se que, todos os anos, inacreditáveis 8 milhões de toneladas de plástico percorram o caminho entre o continente e a zona costeira, até chegar ao mar. Estima-se que metade da fauna marinha, entre aves, tartarugas, peixes e mamíferos, já tenha ingerido pedaços de plástico ou neles se enroscado. O tema vem despertando a atenção de alguns chefes de Estado.

O presidente da França, em seu livro EMMANUEL MACRON-REVOLUÇÃO, dedica um capítulo ao meio ambiente. Diz Macron: ” Como permitir que mais de dez bilhões de serem humanos vivam no planeta sem degradá-lo e sem sacrificar nossa qualidade de vida? Gastamos mais dinheiro para extrair as últimas gotas de energia do passado do que para melhorar a do futuro. Um sétimo continente feito de plástico, surgiu nos oceanos. Uma mobilização internacional é necessária para proteger a biodiversidade, os oceanos, na continuidade de uma nova agenda de desenvolvimento sustentável”.

Emmanuel Macron levou para as Nações Unidas, em setembro de 2017, um projeto de acordo global dedicado às questões ambientais. Escrito por dezenas de peritos jurídicos internacionais, a iniciativa visa estabelecer um quadro internacional na luta contra as alterações climáticas e para a proteção do meio ambiente.

O sétimo continente, no qual o líder francês se refere, foi descoberto pelo oceanógrafo norte-americano Charles Moore quando participava de uma competição de iatismo entre Los Angeles e o Havaí quando ele tentou cortar caminho por uma rota evitada pelos navegadores. O lixão está no Oceano Pacífico, numa imensa região do mar que começa a cerca de 950 quilômetros da costa californiana e chega ao litoral havaiano.

Seu tamanho já se aproxima de 680 mil quilômetros quadrados, o equivalente aos territórios de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo somados – e não pára de crescer. Apesar de ser desconhecido pela população mundial, o problema é antigo. Na verdade ninguém dá a mínima. As pessoas desconhecem o problema porque é algo distante da realidade delas. No Brasil, por exemplo, quase nada se produz ou discute sobre a consequência da presença de plástico nos oceanos.

A sujeira produzida pelo homem que vai para o estômago do albatroz / Chris Jordan

A falta de informação vem da indiferença das pessoas em relação ao meio ambiente. A questão parece interessar somente a ambientalistas e cientistas. Grande parte da comunidade internacional parece indiferente. Existem poucas pesquisas mundiais que abordam o tema. Não deveria. Cerca de 20% dos componentes desses depósitos são atirados ao mar por navios ou plataformas petrolíferas. O restante vem mesmo da terra firme. O entulho plástico despejado pelo homem nos mares mata a cada ano mais de um milhão de pássaros e cem mil mamíferos marinhos, e sua entrada na cadeia alimentar representa risco para a saúde humana.

 

Acredita-se que 90% do lixo flutuante nos oceanos é composto de plástico – um índice compreensível, já que esse material é um dos que levam mais tempo para se decompor na natureza.

A redução do lixo marinho é alvo da campanha Mares Limpos, lançada em julho de 2017 pela Organização das Nações Unidas (ONU). O objetivo é convencer pessoas e empresas a reduzirem o consumo de plásticos e evitar seu descarte. Um aspecto importante da campanha é conseguir colaboração de empresas para substituir ou reduzir o uso de plásticos em seus produtos.

Jean-Michel Cousteau, oceanógrafo, ambientalista, ecologista e fundador da Ocean Futures Society (OFS), em entrevista publicada no livro de minha autoria, TOMA QUE O LIXO É TEU, diz que uma vez que o lixo é despejado no oceano, sua retirada é quase impossível. A melhor e talvez a única solução seja, desde o início, manter o lixo fora do oceano, relata Cousteau.  E este é um enorme problema. Não se pode responsabilizar unicamente a indústria. Todos podem ajudar tomando cuidado para não deixar que o lixo seja depositado no meio ambiente. Comprando produtos que utilizem menos embalagens, reciclando e não jogando nada na rua ou no meio ambiente, pois com toda certeza terminará no oceano. O embaixador do meio ambiente finaliza com uma mensagem para todas as gerações:

“Há somente uma única solução: ação individual! As pessoas devem se engajar. As pessoas devem compreender. As pessoas devem agir. E essa atitude resulta daquilo que fazemos em nossas próprias casas, em nossas comunidades e daquilo que na democracia permitimos ou não que nossos governantes façam. Depende de nós e somente nós”.

DINIZ JÚNIOR, jornalista e autor do livro TOMA QUE O LIXO É TEU que narra a história de toneladas de lixo enviadas ilegalmente da Europa em 2009 para os portos brasileiros.