>Se comer bombom, não dirija

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>Interessante o artigo do advogado e escritor Paulo Wainberg publicado hoje no jornal Zero Hora. Vale a pena ler. Acesse também esse link( http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/PlayerEmbed.aspx?uf=1&midia=25671&channel=39), para assistir o comentário do jornalista Paulo Santana feito hoje no Jornal do Almoço, abordando a polêmica sobre o projeto de lei que proíbe a ingestão de álcool por motoristas .

Exatamente, minha cara, não ouse comer um bombom recheado com licor na festa de aniversário do filho de uma amiga se, depois, for dirigindo para casa. Você estará cometendo um crime que, além de lhe custar quase R$ 1 mil, porá você na cadeia e não adianta chorar, pedir perdão e jurar que nunca mais.A desfaçatez legislativa no Brasil só é menor do que os cerca de R$ 3,6 bilhões por ano que nos custam senadores e deputados federais, isto apenas no “oficial”.Tolerância zero não é isto que esta lei absurda que acaba de entrar em vigor significa. Muito pelo contrário.

O crime consiste em dirigir embriagado, o que não é a mesma coisa que dirigir após ingerir bebida alcoólica.Porém, nossos congressistas, devidamente sancionados por nosso presidente, resolveram inverter o mando de campo, mudando a regra no meio do jogo: bebeu um xarope e dirigiu, se ferrou! Enquanto isso, os corruptos contumazes, mensaleiros, propineiros, armadores e integrantes de esquemas, charlatães e mentirosos, gozam dos sagrados direitos de ampla defesa, espaços gigantescos nos cenários apropriados, autolouvação e louvação alheia, desafios impetuosos e silêncios arrogantes para, no fim dos tempos, saírem de mãos limpas e caras lavadas, sem uma única multinha que seja, nem mesmo para pagar o tempo desperdiçado.E, como de hábito, esquemas devem estar sendo armados para aproveitar essa verba extra que a nova lei disponibilizou e que, dentro de três a quatro anos, a Polícia Federal vai descobrir, juntamente com o Ministério Público, gerando dezenas de CPIs “éticas” e processos judiciais postergáveis.Em nome da transparência.

Naquilo que o Brasil precisa realmente de tolerância zero, temos tolerância máxima. Naquilo que o rigor da lei deveria desabar com toneladas de indignação sobre os delinqüentes juramentados aplicam-se os prazos processuais, os recursos, as instâncias e, novamente no fim dos tempos, a prescrição e a impunidade.Não sou apologista da bebida, muito pelo contrário. Acho que quem dirige embriagado deve ser severamente multado e preso. Automóvel mata muito, mas não sei se a maioria dos acidentes é causada por motoristas embriagados. Acho até que não. Aliás, se considerarmos a quantidade de carros que circula no país durante um dia, associada às condições das nossas estradas e à falta de planejamento de nossas cidades, o número de acidentes, estatisticamente falando, é ínfimo. Não sei se já fizeram essa conta, mas assim, a olho nu, já é possível esta conclusão.

Acontece que os jornais, as rádios e as TVs enfatizam cada acidente fatal – e fazem muito bem – porque a morte no trânsito é extremamente chocante, fútil e inútil. Morrer em acidente é a interrupção inglória e sem propósito de vidas em andamento. Pior do que isto é morrer com uma bala perdida de um tiroteio alheio.De leis bombásticas e inócuas, este país está cheio, e nós, o povo, estamos chegando ao limite de nossa tolerância.