Rio Grande: do refino do petróleo, aos carros elétricos

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Em setembro de 1937 o presidente Getúlio Vargas inaugurava em Rio Grande a Refinaria de Petróleo Ipiranga, dando início ao processo de refino de petróleo no país…
… 85 anos depois Rio Grande entra na era do carro elétrico, como o empresário Diego Lopes, dono do único carro totalmente elétrico da cidade ( em frente a Refinaria de Petróleo Riograndense). Mas os desafios são muitos

por Diniz Júnior

A instabilidade do preço dos combustíveis faz com que os motoristas do país se atentem a uma tendência mundial: os carros elétricos e híbridos, cuja venda subiu 66% no Brasil neste ano. O segmento de veículos elétricos segue em crescimento desde sua inserção no mercado, em meados de 2012. Segundo a Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), a venda de carros elétricos disparou 66% em 2021 no comparativo anual.

A principal vantagem dos automóveis movidos a eletricidade, além de poupar os motoristas de enfrentarem os bruscos aumentos do preço dos combustíveis e reduzir a emissão de gases poluentes, é que o quilômetro rodado utilizando a energia elétrica como combustível é mais barato. A cada 100 quilômetros rodados os carros elétricos custam R$ 16. Já os movidos a combustão podem custar até R$ 70 para rodar os mesmos 100 quilômetros.

Foram esses números, aliados ao custo da energia elétrica, que despertaram a atenção do empresário de Rio Grande do ramo de alimentação, Diego Lopes de 44 anos. Ele decidiu dar um novo rumo para o modo de viver. Lopes gastava por mês com energia elétrica cerca de R$ 600. “Decidi investir em uma casa sustentável, não poluente e com um custo mensal baixíssimo. Instalei um sistema fotovoltaico (placas solares). Me encantei com a tecnologia que se mostrou muito eficiente logo nos primeiros meses”, disse Lopes.

A redução foi de 90% segundo o empresário, mas as vantagens não param por aí. “Comecei a pensar em como poderia tirar melhor proveito do meu sistema. Substitui meu fogão a gás por um de indução movido a energia elétrica, logo eu agora não gastava mais gás para cozinhar e aquele custo foi riscado do orçamento”.

O empresário foi além. Investiu na compra de um veículo totalmente elétrico. “Comecei a pesquisar veículos elétricos e ver na internet os relatos de proprietários. Vendi a minha caminhonete HRV Honda a gasolina e comprei um carro totalmente elétrico um JAC EJ20/ 2021 (chinês) no valor de R$ 180 mil. Perco em alguns itens como o conforto, mas ganho na economia”, disse.

Lopes tem os valores anotados na ponta do lápis. Calcula reduzir os custos a cada ano em R$ 15 mil, incluindo também a isenção do IPVA e manutenção. “Recentemente viajei cerca de 900 quilômetros de Rio Grande até as praias do litoral norte, sem gastar uma gota de gasolina. Incrivelmente fui descobrindo que veículos elétricos dão baixíssima manutenção, por possuírem muitíssimo menos peças e também muito mais tecnologia”, comemora.

Depois das placas solares e do fogão e os custos da moradia caindo, Lopes comprou um patinete elétrico. “Felizmente o cassino conta com uma bela ciclovia o que tornaria nossa experiência não apenas mais rápida, mas também muito mais segura. A utilização do patinete me permita deixar minha SUV muitos dias na garagem de casa. A economia era sentida no bolso e só não priorizava o pequeno veículo em dias de chuva ou frio intenso”, destaca o empresário.

Infraestrutura é o maior desafio

Atualmente o Brasil possui uma frota estimada em torno de 60 mil carros movidos a energia elétrica. No 1º semestre de 2021, o modelo mais vendido foi o chamado híbrido, que ainda usa combustão, mas polui menos.

Em um ano, a quantidade de carros elétricos, emplacados no Estado, saltou 81,9% – de 1.043, em 2020, para 1.897 no fechamento de 2021, conforme aponta a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).

A taxa de expansão do Rio Grande do Sul, supera a nacional, que, em igual período, com 34.990 unidades, avançou 77%. Trata-se do melhor resultado da série histórica medida pela entidade no Brasil. A infraestrutura de recarga é o fator que mais joga contra o mercado no país. O Rio Grande do Sul é o estado que possui uma das menores malhas de abastecimento do país. A ideia é que a própria iniciativa privada assuma esse papel e dê mais capilaridade para a rede de abastecimento. Na região sul não há nenhum posto de abastecimento.

Depois do preço (um veículo eletrificado ainda custa de duas a quatro vezes mais do que um similar a combustível fóssil), a infraestrutura de recarga é o fator que mais joga contra o mercado no país.

Existe um projeto da montadora Nissan com postos de combustíveis para oferecer, em localizações estratégicas nas rotas da Capital a Santa Maria e Pelotas, equipamentos de recarga. Todos os serviços ainda não têm previsão de cobrança para os motoristas. Diego Lopes tem em sua residência um carregador do tipo wall box (alimentado pela rede doméstica tradicional, mas que fornece maior potência e transforma o carregamento lento, em rápido). Assim, em três horas, a bateria está completa e garante autonomia de 234 quilômetros de rodagem.

“O problema hoje dos veículos elétricos é nas viagens. Faltam eletropostos em todas as regiões. Eletropostos são pontos de recarga mais rápidos do que o carregador comum que você usa em casa. Ideais para viagens. Porto Alegre, Litoral Norte e a Serra possuem mais de 30 eletropostos”, é um grande desafio uma vez que o meu carro é totalmente elétrico”.

Denominada de 1ª Rota do Veículo Elétrico do RS, a estrutura já conta com três estações de recarga entre a Serra e o Litoral: em São Francisco de Paula, Caxias do Sul e Torres. Concebida por duas empresas, a Magnani e a Sicredi, a iniciativa prevê pontos em outros 15 municípios. Entre eles, estão Nova Petrópolis, Novo Hamburgo e Porto Alegre. A previsão é de que, até o final deste ano, outros cinco pontos sejam instalados nas estradas gaúchas.