Reciclagem do plástico, um drama da nossa geração

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O mundo produziu 8,3 bi de toneladas em 65 anos e reciclou só 9%

Os dados do título acima são de uma pesquisa publicada pela Science Advances, em 2017. Você sabia que  o ser humano fabrica quase 20 mil garrafas de plástico a cada segundo (a Coca-Cola sozinha põe no mercado 3.400 garrafas plásticas a cada segundo)?  Por ano são mais de 100 bilhões de garrafas de plástico descartáveis!  Mas o pior é que, embora a maioria das garrafas usadas para refrigerantes e água sejam feitas de tereftalato de polietileno (Pet),  altamente reciclável, as seis principais empresas de bebidas no mundo usam apenas 6,6% de Pet reciclado em seus produtos. E nenhuma  pretende usar 100% de reciclagem do plástico em sua produção global (Greenpeace).

imagem de catador de Reciclagem do plástico
Foto: The Guardian

Um milhão de garrafas de plástico são compradas em todo o mundo a cada minuto…

Pesquisamos na net o que acontece no Brasil e no mundo sobre a questão do plástico. As respostas não são fáceis. É preciso um esforço coletivo: das empresas produtoras, dos governos, e da população. Se não houver esta união, e convergência, a questão pode nos levar a um tremendo impasse.

A matemática é cruel. Segundo a Science Advances, o número de garrafas compradas vai pular mais 20% até 2021, criando uma crise ambiental que alguns ativistas prevêem tão grave quanto a mudança climática.  Somos 7,4 bilhões de pessoas no planeta. Em média, segundo a ONU, cada pessoa produz cerca de 1,5 kg de lixo por dia. Onde colocar este Everest de lixo-nosso-de-cada-dia?

Dois tipos de plástico

São dois tipos diferentes: os termorígidos ou termofixos e os termoplásticos.

O plástico ‘termorígido ou termofixo’

Segundo estudo da UNICAMP “os plásticos termofixos são aqueles que não se fundem e uma vez moldados e endurecidos, não oferecem condições para reciclagem. É o caso das telhas transparentes, do revestimento do telefone, do material do orelhão e de inúmeras peças utilizadas na mecânica e especificamente na indústria automobilística.”

imagem de plástico termofixo
O termorígido ou termofixo (foto: blogdoplastico.wordpress.com)

O Sindicato da Indústria do Material Plástico do Estado de Minas Gerais – SIMPLAST diz que “este tipo representa cerca de 20% do total consumido no Brasil.”

Os ‘termoplásticos’

“São aqueles que amolecem ao serem aquecidos, podendo ser moldados. Uma vez resfriados endurecem e tomam  determinada forma. Como o processo pode ser repetido várias vezes, esses plásticos são recicláveis podendo ser reaproveitados.”

imagem de termoplásticos
Os ‘termoplásticos’ (foto: mecanicaindustrial.com.br)

Mas, mesmo assim, há limitações…

“O termoplástico reciclado não pode ser empregado em embalagens de alimentos a fim de se evitar contaminações provenientes de tintas e produtos tóxicos. Eles podem voltar na forma de baldes, mangueiras, sacos de lixo e outras modalidades.”

As sete espécies de ‘termoplásticos’, segundo a UNICAMP

A- Polietileno Tereftalato – PET, utilizado em frascos de refrigerantes, de produtos de limpeza e farmacêuticos, em fibras sintéticas, etc..

B- Polietileno de Alta Densidade – PEAD, utilizado na confecção de engradados para bebidas, garrafas de álcool e de produtos químicos, bambonas, tambores, tubos para líquidos e gás, tanques de combustível, etc..

C- PVC ou Policloreto de Venilha – V,  utilizados em frascos de água mineral, em tubos e conexões para água, em calçados, encapamentos de cabos elétricos, equipamentos médico-cirúrgicos, lonas, esquadrias, etc..

D- Polietileno de Baixa Densidade – PEBD, empregado nas embalagens de alimentos, sacos industriais, sacos para lixo, filmes flexíveis, lonas agrícolas, etc.

E- Polipropileno – PP, empregado em embalagem de massas alimentícias e biscoitos, potes de margarina, seringas descartáveis, equipamentos médico-cirúrgicos, fibras e fios têxteis, utilidades domésticas, autopeças, etc..

F- Poliestireno – PS, usado em copos descartáveis, placas isolantes, aparelhos de som e de TV, embalagens alimentícias, revestimento de geladeiras, material escolar, etc..

G- Outros, são as resinas plásticas não indicadas até aqui e são utilizadas em plásticos especiais na engenharia e em CD¢ s, em eletrodomésticos, corpo de computadores e em outras utilidades especiais.

Três tipo de reciclagem do plástico

Além dos dois tipos  de plástico, e das sete espécies do ‘termoplástico’, há três tipos de reciclagem possíveis segundo estudo da UNICAMP. Note que todas estas especificidades tornam o processo de reciclagem do plástico mais complexo que o do alumínio, por exemplo.

imagem de Oficina de reciclagem do plástico
Oficina de reciclagem do plástico (Foto: http://www.elobservatoriodeltrabajo.org)
  1. “No Brasil, o maior mercado é o da reciclagem primária. Consiste na regeneração de um único tipo de resina separadamente. Este tipo de reciclagem absorve 5% do plástico consumido no país. É geralmente associada à produção industrial (Pré-consumo).”
  2. “Um mercado crescente é o da reciclagem secundária. O processamento de polímeros, misturado ou não, entre os mais de 40 existentes no mercado.”
  3. “A reciclagem terciária, ainda não existente no Brasil, é a aplicação de processos químicos para recuperar as resinas que compõem o lixo plástico, fazendo-as voltar ao estágio químico inicial.”

Reciclagem do plástico no Brasil

Parece fácil responder a pergunta, certo? Nem tanto. Ao pesquisar  os dados brasileiros encontramos dificuldades. As cifras de várias pesquisas, sites especializados, ‘grande imprensa’, e da própria indústria do plástico, não batem. Um ponto, entretanto, é consenso: a taxa de reutilização é baixa. A reciclagem do plástico não anda bem no Brasil. A maioria das taxas encontradas giram em torno de 20%.

As taxas de reciclagem do plástico no Brasil

A Cempre- Compromisso para a reciclagem empresarial diz que “cerca de 21,7 % dos plásticos foram reciclados no Brasil em 2011.”

Antonio Silvio Hendges, em artigo para o ecodebate informa que “o índice de reciclagem mecânica – IRmP (resíduo reciclado + resíduo exportado para reciclagem)  – em 2012  foi de 20,9%.”

A UNICAMP  informa que a reciclagem primária absorve 5% do plástico consumido no país e é geralmente associada à produção industrial (Pré-consumo).

A Plastivida, entidade composta pelos representantes da atividade, diz que o índice nacional de reciclagem do plástico pós-consumo bateu na casa dos 21% em 2012.

Reciclagem do plástico no mundo – alguns dados

Como dissemos, o problema é mundial. A seguir, dados da…

Europa

Em 2011 o país campeão na reciclagem de plásticos foi a Suíça (53%). Em seguida, a Alemanha (33%), Suécia (33,2%), Bélgica (29,2%), Itália (23,5%), países que incineram a maior parte do plástico coletado seletivamente (dados do Cempre). Antonio Silvio Hendges informa que “a média da União Europeia (2012) foi 25,4%.”

Estados Unidos

De acordo com a Environmental Protection Agency- EPA,  9,5% de material plástico gerado no fluxo de resíduos sólidos municipais (MSW) dos EUA foi reciclado em 2014. Outros 15% foram queimados para energia. E 75,5% foram enviados para aterros sanitários.

Os três atores: a indústria, o governo, e os cidadãos

Da pesquisa feita pelo Mar Sem Fim, destacamos alguns pontos que envolvem os três protagonistas deste drama mundial. O plástico é um dos materiais mais poluentes e com menor taxa de degradação no meio natural (estimativas indicam 500 anos para ele se desfazer).
O plástico está entupindo os oceanos, inviabilizando a vida marinha, cuja cadeia de alimentação já foi atingida pelo material; e voltando-se contra o ser humano que consome peixes e frutos do mar e, junto com  eles, o plástico que nós mesmos produzimos e descartamos de forma errada.

A indústria do plástico

No Brasil, o consumo chega a 10 Kg por ano/por pessoa. Na Europa e Japão, 50 Kg por ano/por pessoa. Nos Estados Unidos o número é de 70 Kg por ano/por pessoa.

imagem de indústria de plástico
A reciclagem do plástico deveria se modernizar como a indústria do produto (Foto: http://www.sindicatodaindustria.com.br)

A produção anual subiu de 2 milhões de toneladas métricas, em 1950, para 400 milhões de toneladas métricas, em 2015. O Correio Brasiliense (22/07/2017)  informa que,  “das 6,3 bilhões de toneladas de lixo plástico produzidas de 1950 até 2015, apenas 9% foram reciclados12% terminaram incinerados, e 79% estão acumulados em aterros sanitários ou no ambiente natural.”

Roland Geyer, principal autor do estudo e professor-associado da Escola de Ciências e Gestão Ambiental da Universidade da Califórnia,  explicou:

Espero que nossos números mostrem que apenas continuar a reciclar e incinerar plásticos — alternativas que usamos atualmente — não é o suficiente. Precisamos repensar fundamentalmente a forma como produzimos e utilizamos esse material. Esse estudo levou muitos anos e finalmente está completo.

Empresas devem planejar descarte

Ana Maria Domingues Luz, ambientalista e presidente do Instituo GEA – Ética e Meio Ambiente, disse ao Correio Brasiliense:

Acredito que as empresas deveriam planejar o descarte de suas embalagens e produtos antes de eles serem produzidos. Eles fabricam, mas não levam em conta qual será o destino final de sua produção.  A indústria precisa pensar em alternativas para que seu produto não vá para o lixo, como parcerias com cooperativas de reciclagem, por exemplo.

Apoio público ou privado

O professor Leandro Fraga, coordenador de pesquisa da FIA (Fundação Instituto de Administração), disse sobre a indústria do plástico e reciclagem:

Trata-se de uma cadeia produtiva que se desenvolve com seus próprios recursos e poderia fazer ainda mais se contasse com apoio público ou privado

O exemplo da Natura:  “Dentro do processo de desenvolvimento de produtos, reduzimos o consumo de materiais de embalagens e incorporamos o material reciclado pós-consumo”, conta o gerente de sustentabilidade da companhia, Keyvan Macedo (O Tempo Economia).

Também disponibilizamos refil desde 1983. Com isso, o consumidor tem acesso a produtos com custo mais acessível, já que o refil utiliza menos material de embalagem”, conclui.

Os governos

Paulo Da Pieve, especialista em economia circular e sustentabilidade e coordenador do grupo de resíduos sólidos da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), declarou ao site O Tempo Economia:

Falta investimento na indústria de reciclagem.  Em outros países, como a Alemanha – que desde 2010 já recicla mais de 50% do seu lixo –, existem subsídios para as empresas que utilizam material reciclado. No Brasil não tem incentivo. Pelo contrário, tem uma tributação que o encarece. O imposto incide no produto quando ele é matéria prima e depois, quando é reciclado. No caso do plástico, chegam a incidir oito impostos. Não existe o incentivo fiscal necessário para estimular o desenvolvimento dessa cadeia de material.

Desrespeito à Política Nacional de Resíduos Sólidos

O desrespeito à Política Nacional de Resíduos Sólidos (lei nº 12.305/10), que prevê o fim dos lixões nos municípios, é outro problema que dificulta o desenvolvimento da indústria de reciclados no Brasil.

Aterros sanitários

O Tempo Economia explica que “a construção dos aterros sanitários facilita a reciclagem do produto descartado. Muitas prefeituras não se adaptaram à lei que previa o descarte de todo o lixo do país em aterros sanitários até 2014. O Senado (2015) prorrogou o prazo de adaptação. Os municípios passaram a ter de 2018 a 2021 para se adequarem à lei, de acordo com o seu tamanho.”

imagem de aterro sanitário e catadores de material para reciclagem do plástico
Os aterros são um dos problemas da enorme cadeia de reciclagem do plástico (Foto:http://www.gazetadopovo.com.br)

Incentivo à economia privada

Estudo da Unicamp conclui: “o governo deveria incentivar a economia privada na execução dos serviços de coleta seletiva dos plásticos. Essa parece a melhor política a ser seguida pelos administradores municipais. Ela traz  conseqüências  positivas para a proteção do meio ambiente.”

Política de preços mínimos

O IBGE, em matéria do noticias.uol.com.br,  acredita que “o estabelecimento, pelo governo federal, de preços mínimos para os materiais recicláveis deve elevar a proporção de materiais reciclados. Segundo o Instituto, apenas uma pequena parte do lixo produzido no Brasil, e os altos níveis de reciclagem (de alumínio, por exemplo, que ultrapassa 90% da produção) estão mais associados ao valor das matérias-primas e aos altos níveis de pobreza e desemprego do que à educação e à conscientização ambiental.”

Limpeza urbana

O sitewww.plastico.com.br sugere “sistemas eficientes de limpeza urbana, ampliação da coleta seletiva no País e a conscientização da população. Com isso pode-se criar uma cadeia produtiva da indústria da reciclagem. Ela gera renda, beneficia pessoas com empregos e deixa nossas cidades mais limpas.”

imagem de garis de limpeza urbana
O investimento em educação de qualidade está abaixo das taxas de reciclagem do plástico (Foto: http://www.maceio.al.gov.br)

A responsabilidade dos cidadãos

Consumir com responsabilidade. Evitar desperdícios, descartar no lugar correto, separar para a reciclagem, e usar plástico o menos possível. Por exemplo, é extremamente fácil abolir totalmente os canudinhos de plástico. Só nos Estados Unidos são produzidos 500 milhões de canudinhos por dia! No Brasil, repare, os canudinhos de bares e lanchonetes vêm embalados num envelope de…plástico! Quer desperdício maior? Simplesmente, não use. Está ao seu alcance.

Exercendo cidadania

Pressione as empresas que usam plástico em demasia sem se importarem com o descarte. Caso da Coca- Cola, por exemplo. Se você for comprar um mesmo produto que seja embalado em plástico, ou outro material, prefira esse último. As embalagens são uma parte enorme do problema. Você joga no lixo, e elas vão parar nos oceanos. Ninguém utiliza uma embalagem. Portanto, preste atenção ao ir às compras. Outro exemplo são os copos descartáveis usados em empresas, consultórios, escolas, etc. Converse com os responsáveis. É preciso cessar de vez a produção de copos descartáveis. Que cada um use o seu, ou lave depois do uso. Simples, não?

Mapeamento dos pontos de entrega de recicláveis

Se sua cidade não tiver coleta seletiva, pressione o poder púbico. Se tiver, separe seu lixo. Mapeamento dos pontos de entrega de recicláveis, trabalho de pesquisa da FIA, fez um mapeamento georreferenciado dos PEVs (Pontos de Entrega Voluntária). Foram cadastrados 1.936 pontos, em 61 cidades de 20 estados brasileiros, que podem ser acessados via aplicativo ou pela internet.

APP “Reciclagem de Plásticos”

O APP “Reciclagem de Plásticos” permite ao usuário acessar rapidamente o endereço do PEV mais próximo de sua casa ou estabelecimento comercial. As buscas pelo PEV ou por recicladores podem ser feitas por meio do CEP, nome de rua e, no caso dos aplicativos para celular, por georreferenciamento automático, quando o aparelho possuir essa função.”

Baixe aqui o APP “Reciclagem de Plásticos”

Os dados podem ser acessados gratuitamente pelo APP “Reciclagem de Plásticos”,  disponível aos usuários de smartphones com sistema iOS e Android, ou via internet.

EPS – Poliestireno expandido (isopor®), também pode ser reciclado em São Paulo. De acordo com matéria da ABIPLAST, Associação Brasileira da Indústria do Plástico. A matéria informa que, “criada em 2012, a Cooperativa Viva Bem é a única a realizar a triagem e gestão dos resíduos de isopor® na cidade de São Paulo, e uma das poucas unidades no País. Ela conta com uma máquina que retira o gás do EPS (12 bags de resíduos de EPS (cada um com 24 quilos), fazem 1 bag de EPS sem o gás). Uma das características desse tipo de reciclagem é a economia de água (que tem uso zero) e energia elétrica, que chega a um consumo similar ao de uma lâmpada de led.”

“O material reciclado é encaminhado para a fabricação de molduras, rodapés e cantoneiras destinadas para grandes lojas de material de construção.”

Fonte:Mar Sem Fim