Presidente da Petrobras diz que venderá refinarias: ‘não é concebível’

0
382
IMPRIMIR

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, disse que “não é concebível” o grau de monopólio da estatal no refino e que a empresa avaliará a venda de algumas de suas unidades.

Segundo ele, a posição monopolista não é benéfica para a empresa, porque expõe a companhia a críticas e “ataques por parte de muitas pessoas de segmentos da sociedade”. Ele citou a experiência da greve dos caminhoneiros como exemplo.

“Será que nós não poderíamos fazer melhor, vendendo algumas refinarias e utilizando esses recursos para financiar o pré-sal, onde nós somos o número um do mundo? Essas questões têm que ser levantadas e respondidas”, disse o executivo, em entrevista recente ao canal interno de comunicação da estatal, ao ser questionado sobre o futuro das refinarias dentro do programa de desinvestimentos e parcerias da empresa.

O presidente da Petrobras disse também que espera rever o atual plano de negócios 2019-2023 “o mais rapidamente possível” e que pode vir a fazer “ajustes pontuais”.

“Eu tive uma apresentação superficial, não tenho críticas severas ao material que foi elaborado, mas preciso de mais tempo para analisar e talvez fazer alguns ajustes marginais, como, por exemplo, a taxa de acidentes: é um item que merece atenção, porque nós estamos tratando da vida humana, da continuidade das operações, da reputação da companhia. Eu classifico como extremamente importante. Então, nós vamos rever o plano estratégico, o plano de negócios e ter uma resposta para isso o mais rapidamente possível”, afirmou o executivo.

O atual plano de negócios da Petrobras prevê investimentos de US$ 84,1 bilhões, com foco no pré-sal. A empresa, contudo, prevê investimentos de US$ 400 milhões em energias renováveis (eólica, solar e biocombustíveis) no período.

Questionado sobre o investimento futuro na área, Castello Brando disse que o pré-sal é o “carro-chefe” e que a decisão de investir em renováveis precisa ser cuidadosa.

“[O pré-sal] É o nosso negócio e nós vamos continuar, vamos acelerar sua exploração porque, até mesmo em função do desenvolvimento de energias renováveis e da eletrificação, o petróleo tende a perder importância ao longo do tempo. Mas nós temos que acelerar a produção de petróleo e fazê-lo de forma eficiente. Quanto às energias renováveis, agora, nós temos que, antes de nos lançarmos investindo, nós temos que refletir profundamente se nós temos as competências ou não. Tudo tem que ser baseado em critérios de risco e retorno esperado”, afirmou.

Demissões

Roberto Castello Branco descartou a existência de um plano de redução do efetivo pessoal da empresa.

“Em princípio não existe plano para redução de efetivo. O que se quer é um efetivo muito bem qualificado, treinado. Eu pretendo dar foco a treinamento, no desenvolvimento de inovações, no desenvolvimento do espírito de liderança, na formação de executivos para a Petrobras e aumentar a produtividade com a transformação digital”, afirmou.

A força de trabalho da companhia passou por uma série de cortes nos últimos anos, por meio de programas de incentivo à demissão voluntária. Entre 2013 e 2017, a controladora teve seu número de empregados reduzido de 62,6 mil para 46,9 mil.

Questionado sobre a privatização da Petrobras, Roberto Castello Branco voltou a descartar a hipótese.

“A privatização da Petrobras não está sobre a mesa. Eu não tenho nenhum mandato para privatizar a Petrobras. Nem eu, se tivesse, gostaria de transmitir o controle dessa empresa para uma empresa privada. Nós teríamos que pensar em algo mais inteligente. O que pode acontecer são eventuais desinvestimentos”, disse.

Subsídios

O presidente da Petrobras disse também que, se for mantido, o programa de subvenção ao diesel poderá custar mais R$ 20 bilhões à sociedade brasileira, ao defender o fim dos subsídios no preço do combustível.

Ele destacou que a política de preços da Petrobras, com base na paridade internacional, “em tese, é a correta” e que é adotada em grande parte dos países o mundo.

“No fundo, se nós mantivermos esse subsídio de R$ 0,30 por litro, vai custar à sociedade brasileira mais de R$ 20 bilhões. Significa menos investimentos em saúde, educação, segurança, que são, constitucionalmente, obrigações do Estado brasileiro”, afirmou o executivo, em entrevista recente ao canal interno de comunicação da estatal.

Segundo ele, existem “formas mais inteligentes” de atender ao pleito dos caminhoneiros, sem “crucificar a Petrobras e impor um subsídio que prejudica a imagem do Brasil, afasta investidores e custa caro ao Tesouro Nacional”.

“Espero que o subsídio ao óleo diesel termine e seja substituído por outros mecanismos que atendam aos interesses dos caminhoneiros. E existem outras coisas: a possibilidade de introdução no Brasil do gás natural como combustível de caminhões, que baixaria muito o custo”, exemplificou.

Gigante do gás natural

Castello Branco também pretende transformar a estatal numa grande produtora de gás natural.

“Gás natural, embora seja um combustível fóssil, tem emissões de gases de efeito estufa muito menores do que o carvão e o petróleo. Então, é uma oportunidade que nós temos e nós, sem dúvida, vamos aproveitar” afirmou o executivo.

Atualmente, o mix de produção da empresa é muito concentrado no petróleo. Cerca de 80% do volume produzido pela estatal é óleo, contra 20% de gás natural, enquanto algumas petroleiras globais têm buscado nos últimos anos equilibrar cada vez mais essa balança, de olho na crescente importância do gás como fonte de transição para uma economia de baixo carbono.

Ao comentar como enxerga o futuro da Petrobras, Castello Branco disse que vê a empresa como “um produtor de petróleo muito importante no mundo em nível global”, a custo baixo, “com indicadores operacionais e financeiros comparáveis aos melhores das maiores empresas de petróleo do mundo”.

Boa cidadã

O presidente da Petrobras defendeu que o papel social da petroleira é ser uma “boa cidadã corporativa”.

“Se a companhia cresce, faz bem os seus negócios, é eficiente, ela vai pagar mais impostos, mais imposto de renda, mais royalties, mais participações especiais, que vão ajudar a equilibrar as finanças públicas, prover recursos para que o estado invista em benefício dos mais pobres e da segurança. O papel social da Petrobras é também respeitar as leis, respeitar as pessoas, respeitar o meio ambiente e ser uma boa cidadã corporativa”, afirmou o executivo.

Ao fazer uma avaliação sobre a situação atual da empresa, Castello Branco disse que desde que deixou o conselho da petroleira, em 2016, “a Petrobras melhorou muito”, citando como exemplos a “robusta governança corporativa” construída e o fato de que a “integridade é um foco da companhia”. O executivo, contudo, destacou que ainda há muitos ajustes a serem feitos na empresa.

“Mas é um trabalho em progresso. Nós não podemos relaxar e achar que nós atingimos o máximo. Acho que muitos ajustes têm que ser realizados”, disse.

Castello Branco citou que os níveis de endividamento caíram bastante, mas que ainda são altos. Ele também citou a estratégia da alocação de capital e a necessidade de uma gestão ativa do portfólio.

“A Petrobras possui ativos de classe mundial, onde ela é a dona natural. Dona natural porque ela é quem é capaz de extrair o máximo retorno desses ativos. O exemplo típico é o pré-sal. A fronteira da exploração de petróleo no mundo e a Petrobras é número um em termos de águas ultraprofundas. Não há empresa que tenha o conhecimento tecnológico ou capital humano adequado para explorar esse tipo de ativo. Mas tem outros que a Petrobras não é ou parece não ser a dona natural. Então, nós temos que analisar isso e, com base nisso, termos um programa de gestão do portfólio”, disse.

Fonte: Valor