Praticagem: pioneirismo, segurança e tecnologia

0
272
IMPRIMIR

por Francisco Barros (*)

O Século XXI está trazendo muitos desafios à navegação. Os navios adquirem proporções incríveis e já atingem 400 metros de comprimento, quase o dobro dos existentes até o ano 2.000. Isso determinou que os profissionais diretamente envolvidos nas manobras de embarcações se aperfeiçoassem de forma a poder acompanhar esta inédita evolução tecnológica, garantindo assim a homologação para a manobra de grandes embarcações e alavancando a quebra de sucessivos recordes de transportes de carga realizados no porto santista.

A chegada dos navios cada vez maiores em Santos obrigou os setores marítimo e portuário a buscar soluções para receber e operar as embarcações num canal sinuoso, raso e estreito. A Praticagem saiu na frente para enfrentar os novos desafios: implantou o C3OT – Centro de Coordenação, Comunicações e Operações de Tráfego.

Usando tecnologia de ponta, através da instalação de modernos sensores para o monitoramento das condições meteorológicas reinantes, como direção e intensidade de ventos e correntes, altura das ondas, pressão atmosférica e altura de maré, bem como para o acompanhamento em tempo real da movimentação de navios, permitiu, dessa forma, otimizar o tráfego de embarcações no canal santista com segurança e confiabilidade.

Esse centro, que proporcionou novos avanços para a segurança das manobras, foi o primeiro do Brasil e totalmente implantado com recursos próprios.Sempre proativa, a Praticagem de São Paulo desenvolveu em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) o sistema Redraft – Sistema de Calado Dinâmico, um software que calcula com mais precisão o calado máximo dos navios considerando as condições ambientais de maré, ondas e correntes marítimas. Antes, a restrição de operação era mais conservadora para evitar que um navio batesse no fundo.

Graças  aos avanços citados acima, a Praticagem de Santos ficou preparada para mais um grande passo técnico, o de receber navios acima de 334m. Desde 2018, às primeiras notícias de que os navios de 366m poderiam vir para o Brasil, a empresa vem se preparando para receber os grandes navios e investiu no treinamento de 48 práticos no Maritime Pilots Institute, centro de treinamento especializado na Louisiânia, nos Estados Unidos, em manobras simuladas com réplicas em escala menor desses navios e nos simuladores existentes no centro de provas da USP, em São Paulo. Ao final de todo treinamento e simulações, foi emitido um minucioso relatório para a Capitania dos Portos de São Paulo (CPSP) que, em janeiro de 2021, homologou o Porto de Santos a receber e operar as embarcações de até 366m de comprimento.

 

Números

O resultado de todo esse esforço é medido em benefícios ao porto e ao Brasil. As manobras não param durante 24 horas, 7 dias por semana e 365 dias por ano. Sofre também menor tempo de espera devido a restrições de calado: 8 dias e 10 minutos em 2013, enquanto no ano passado, foram apenas 2 dias, 14 horas e 15 minutos, em média.

Todas essas medidas são importantes para um porto de localização geográfica privilegiada e que, mesmo durante a pandemia, vem batendo recordes sucessivos de movimentação de cargas. Os números são reforçados pela Autoridade Portuária: em 2009, foram movimentados 3,2 milhões de TEUs (unidade equivalente a um container de 20 pés, cujas dimensões internas medem cerca de 20 pés de comprimento, 8 pés de largura e 8 pés de altura) e no ano passado a marca atingiu 4,8 milhões (incremento de 50%).

No total de carga movimentada no porto, foram 147 milhões de toneladas em 2021, 0,3% acima do verificado em 2020, principalmente pela atuação de contêineres, soja e fertilizantes (só para se ter uma ideia dessa evolução, em 2009 foram 83,2 milhões de toneladas. Desta forma a marca de 2021 representa um incremento de aproximadamente 76%).

Cabe ressaltar que a Praticagem do Brasil tem como sua função precípua, definida por lei, a salvaguarda da vida humana e a segurança da navegação, no mar aberto e hidrovias interiores, e a prevenção da poluição ambiental por parte de embarcações, plataformas ou suas instalações de apoio. Logo, é importante salientar que todo esforço no sentido de se aumentar a eficiência portuária, será sempre precedido de minuciosos trabalhos técnicos, como avaliação em tanques de provas e simulações efetuadas em centros especializados. Só então, após verificada a segurança das alterações propostas nestes trabalhos, passa-se paulatinamente a fase de implementação das mudanças propostas no ambiente real.

A nível de ilustração, o índice de acidentes no Porto de Santos nos últimos 6 anos é de 1 para cada 32.245 manobras, representando um percentual de 0,003 %, índice equivalente ao das melhoras marcas das principais empresas de praticagem do mundo. Vale ressaltar que, diferentemente dos principais e mais movimentados portos existentes, o Porto de Santos, apesar de sinuoso, de águas restritas e com intenso tráfego de embarcações, recebe um baixíssimo nível de investimentos públicos, tornando-o um dos mais desafiadores e com menores margens de segurança.

A Praticagem de São Paulo mostra, assim, que sua expertise, aliada à alta tecnologia, tem um papel de destaque na segurança e evolução do porto santista, permitindo que, ao lado da modernização que todo o setor portuário vem introduzindo, haja um continuado aumento da eficiência das operações e consequente aumento do volume de carga transportado, de forma a atrair ainda mais investimentos para toda a região.

(*) O prático Francisco Barros é sócio da empresa Santos Pilots, formado em Ciências Navais pela Marinha do Brasil e atua como prático em Santos desde 2017.