Perdas do EAS poderiam construir outro navio do tipo Suezmax

0
1031
IMPRIMIR
O “João Cândido” seria utilizado, principalmente, para o transporte de longo curso

Reportagem publicada nesta semana no Jornal do Commercio de Pernambuco e assinada por Adriana Guarda, aborda a demora de quase 4 anos para construir o petroleiro João Cândido. Segundo a reportagem isso vai custar caro ao Estaleiro Atlântico Sul (EAS).

O primeiro navio do empreendimento vai sair de Suape com preço 53% acima do valor estabelecido no contrato com a Transpetro. Atraso no cronograma, retrabalho e necessidade de reforçar a contratação de mão de obra fez o valor saltar de R$ 323,4 milhões para quase meio bilhão de reais (R$ 495 milhões), no acumulado de 2008 a 2011.

O atraso também provocou efeito dominó na construção dos outros 22 navios encomendados pela Transpetro, dentro do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef). No balanço divulgado esta semana pelo EAS, a empresa reconhece uma perda de R$ 333,4 milhões na construção das três primeiras embarcações. O valor do rombo é suficiente para construir outro petroleiro Suezmax.

No que depender do cliente, o Atlântico Sul terá que arcar com o prejuízo. Pelo menos é o que diz a Transpetro. Procurada pela reportagem do JC, a empresa informou que “pagará pelos navios encomendados ao EAS o preço estipulado em contrato. Não houve aditivos de valor”. Especialistas em indústria naval afirmam que, por conta da curva de aprendizagem, a média histórica é que o primeiro navio de um estaleiro custe entre 15% e 20% mais caro.

“No caso do Atlântico Sul já era esperada essa explosão nos custos, provocada pela demora na entrega do João Cândido. Um navio que fica 2 anos a mais dentro de um estaleiro significa aumento dos custos fixos. Isso sem falar no superdimensionamento da mão de obra para entregar as encomendas e no retrabalho, porque soldas e tubulações precisaram ser refeitas”, observa Floriano Pires Júnior, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O petroleiro começou a ser construído em setembro de 2008, com o corte da primeira chapa de aço. Em maio de 2010, o então presidente Lula esteve em Suape para a cerimônia de batismo e lançamento ao mar da embarcação. Na solenidade, a expectativa era que o navio fosse entregue em setembro do mesmo ano, mas ele continuou encalhado no estaleiro e a previsão é que seja entregue até 5 de maio (quando completará aniversário de 2 anos dentro do empreendimento). Em agosto do ano passado a Revista Veja já denunciava a politicagem feita pelo governo Lula para entregar o navio antes das eleições que elegeram a presidente Dilma ( Leia a reportagem ” DINHEIRO AO MAR”).

 

A P-55 chegou em janeiro a Rio Grande. Do tipo semissubmersível, ela será instalada no campo gigante de Roncador, na Bacia de Campos

A plataforma P-55 – única encomenda entregue pelo estaleiro – também sofreu aumento de custo. O valor passou de R$ 823,6 milhões para R$ 1 bilhão. A situação não é diferente com o Zumbi dos Palmares (2º navio), que no contrato custa R$ 317 milhões, mas já está saindo por R$ 424,6 milhões (um ágio de 24%). A assessoria de comunicação do EAS disse que não tinha porta-voz para comentar o aumento de custos, porque a diretoria está imersa na entrega do João Cândido. O EAS já recebeu adiantamentos de pagamento da Transpetro para até o 22º navio. A estatal explica que adianta 5% do preço de cada navio, garantidos por fianças bancárias.

A P-55 é uma das maiores plataformas semissubmersíveis do Brasil. O casco é quadrado, com 94,32 metros de lado. É projetada para operar em águas profundas, com capacidade de produção de 180 mil barris de petróleo por dia. Depois de pronta, ela será levada de Rio Grande até o Rio de Janeiro e instalada no campo de Roncador, na bacia de Campos, a 130 quilômetros da costa, em uma lâmina d’água de 1.795 metros.