Pampa gaúcho sofreu desmate de 44%

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por Diniz Júnior / Especial

Artigo publicado no jornal Zero Hora edição de sábado e domingo (27/06/2021), de autoria da escritora Julia Dantas, aborda um tema muito pouco divulgado pela grande mídia brasileira. Com o título “ Lembremos do Pampa”, Julia lembra que muito se fala no desmatamento recorde da Amazônia, das queimadas do Pantanal, do volume nunca antes visto de madeira ilegal sendo transportada no país, mas aqui na nossa região, relata a escritora, fica quase esquecida a situação igualmente dramática do Pampa”.

O artigo segue alertando para uma série de transformações. “As áreas destruídas do Pampa são geralmente transformadas em áreas de cultivo agrícola, muitas delas em territórios que deveriam ser protegidos por lei. Os avanços das florestas de eucalipto e pinus, além de projetos de mineração, também ameaçam a integridade do bioma que, vale lembrar, abrange territórios de países vizinhos e abriga o aquífero Guarani uma das maiores reservas mundiais de água doce. Ao contrário do que acontece na Amazônia , onde muitas terras são arrasadas para dar espaço a criação de gado, aqui o Pampa sofre com a substituição da pecuária pela monocultura de soja”.

Os dados revelados no artigo pela escritora Julia Dantas são confirmados pelas medições do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), aquele mesmo que Ricardo Salles, ex. ministro do Meio Ambiente, quis passar a boiada. O monitoramento  mostra que somente 47,3% da vegetação nativa está preservada. Dados apontam também para aumento no número de queimadas nos oito primeiros meses de 2019 em comparação com o mesmo período de 2018, saltando de 593 para 981 focos de incêndio, um crescimento de 65%. É o maior índice desde 2009.

Para quem pesquisa o Biobama Pampa a vastidão é o que mais impressiona no Pampa preservado. Ao contrário das extensas planícies do Cerrado, os campos sulinos estão sobre colinas com declives, conhecidas pelos locais como coxilhas. Do alto, nada obstrui a vista. Para onde quer que se olhe, avistam-se amplos espaços abertos com gramíneas de diversos tons de verde-amarelado, pequenas casas e gado. Cenas assim, contudo, são cada vez mais raras. “Hoje, o Pampa está muito diferente das suas características originais pela conversão agrícola e pela silvicultura”, alerta Valério De Patta Pillar, professor do Instituto de Biociências da UFRGS.

O Inpe começou a processar os dados, ano a ano, desde 2004, para saber como evoluiu o desmatamento. Ao final do estudo será possível afirmar se a supressão da pampa efetivamente aumentou ou se alguma área foi regenerada nesse período. Também será feita uma projeção até 2022, segundo Cláudio Almeida, coordenador do programa de monitoramento da Amazônia e demais biomas do Inpe.O levantamento é possível graças a imagens feitas por dois satélites: o Landsat-8, operado pela Nasa, e o CBERS-4a, montado no Brasil pelo Inpe e lançado pela China.

 

 

A vegetação em forma de campo do Pampa, composta por mais de 450 espécies de gramíneas, pode parecer simples ao olhar leigo se comparada a uma floresta vistosa, mas ela guarda uma imensa biodiversidade, diz Daniel Hanke, professor da Unipampa (Universidade Federal do Pampa).

No campus da universidade em Dom Pedrito, próxima de Bagé, ele conduz uma pesquisa sobre o tema. “Ao modificar um sistema que estava em equilíbrio, com os organismos trabalham todos juntos, destruindo a vegetação, retira-se o alimento de muitos animais e o refúgio de várias espécies com funções ecológicas específicas”, explica.

Embora o estudo do Inpe ainda não aponte a causa do desmatamento de 43,7% do pampa, Hanke afirma que o que vem ganhando espaço é o plantio de soja, enquanto cultivo de arroz está estabilizado e o de milho decresce.

Para o jornalista e ambientalista Eduardo Peixoto, o estímulo econômico, com conhecimento, pode ser um importante vetor para levar a sustentabilidade para o campo. Em sua opinião não há outro caminho para a produção se não unirmos preservação com o desenvolvimento. “Para isso, é preciso promover uma mudança de filosofia na região, e muitas pessoas resistem um pouco a essa mudança. Precisamos aumentar a capacidade técnica para aumentar a produtividade com sustentabilidade”, frisou Peixoto, que destaca também a produção de mudas nativas e reciclagem do lixo orgânico para produção de muda e respectiva floração para alimentação das abelhas. Eduardo Peixoto desenvolve um projeto de sustentabilidade em sua propriedade a Estância Santa Maria & Isabella em Rio Grande (RS), próximo a reserva ecológica do Taim.Coneça o projeto abaixo.