Os gargalos dos portos

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O Brasil já dá sinais de saída da recessão e, em diversos setores, existe uma série de gargalos que precisam ser pensados a longo prazo, não podem esperar a retomada da economia. Um exemplo é a área portuária, por onde ocorre mais de 90% do comércio exterior brasileiro.

Em 2015, a movimentação de carga nos portos brasileiros foi de aproximadamente 1 bilhão de toneladas, e a previsão é do dobro em 2035, de acordo com o Plano Nacional de Logística Portuária. Há estudos que mostram que em 2050 serão 4 bilhões. Além disso, já temos navios cada vez maiores, por economia de escala; e, no entanto, os nossos canais de acesso praticamente não mudaram. Como vamos desenvolvê-los para atender a demanda do agronegócio e da indústria?

Como garantir a manutenção do baixíssimo índice de acidentes e, consequentemente, a preservação do meio ambiente sabendo que os riscos aumentam quando uma embarcação se aproxima da terra? Investimento portuário leva tempo para se tomar realidade.

Temos terminais antigos que operam a 90% ou mais da sua capacidade, construídos com instalações voltadas a navios menores. Onde atracavam duas embarcações hoje atraca uma maior. O comprimento delas praticamente dobrou desde o ano 2000.

Ao mesmo tempo, a dragagem tem sido insuficiente, baseada em informações desatualizadas e não é realizada de forma contínua. Precisamos, sim, de novos terminais e de nos preocupar com a profundidade dos canais, mas e quanto à dimensão horizontal desses acessos? Não vamos planejar o tráfego dos navios? Quantos poderão passar em 24 horas em cada canal? Teremos encontro de navios ou monovia? Temos que pensar nisso a priori, porque não adianta dragar e construir novos terminais se as embarcações continuarão passando pelos mesmos acessos. Uma hora o gargalo será o canal.

A praticagem assessora os comandantes dos navios nas manobras nessas águas restritas e precisa ser ouvida desde o início da discussão. O desafio, aliás, é conjunto e envolve também a autoridade portuária, as empresas de engenharia, dragagem e rebocadores. É um diálogo que se faz extremamente necessário e, infelizmente, nem sempre existe coordenação entre as entidades envolvidas. No Fórum de Discussões Hidroviárias e Portuárias, que promovemos em parceria com a Universidade Federal do Paraná, nós da praticagem apontamos, além do diálogo, a necessidade de uma rede de sensores ambientais para a coleta de dados permanentemente, de forma que tenhamos um histórico das mudanças climáticas para o planejamento de um canal.

E não temos essa coleta na maioria dos portos, assim como não temos estudos de análise de impacto de novos terminais no tráfego dos canais, muitos menos profissionais com conhecimento específico da área portuária. Muitos são oriundos dos setores rodoviário e ferroviário. Temos que incentivar a formação de especialistas pela academia. Só assim teremos melhores projetos. Afinal, são os requisitos adotados no planejamento que vão definir as restrições operacionais futuras.

O Gustavo Martins Prático, é diretor-presidente do Conselho Nacional de Praticagem (Conapra).