Operação da PF no setor de portos repercute no meio político

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O presidente Michel Temer estava em casa, no Palácio do Jaburu, quando soube que parte de seu círculo mais próximo de amigos tinha acabado de ser preso. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, chegou cedo para um encontro com Temer. Às 9h, os dois saíram de Brasília rumo a Vitória, no Espírito Santo. Nessa hora, a repercussão das prisões e das buscas da operação já ocupavam o noticiário.

Na cerimônia de ampliação do aeroporto da cidade, Temer não falou da operação. Fez um discurso sobre as dificuldades do cargo de presidente. Enquanto falava, seus aliados começavam a dar explicações em depoimentos à Polícia Federal.

“Sem embargo a presidência ser um trabalho dificílimo – é uma coisa que você fica sujeito a bombardeios a todo momento – mas tenho a felicidade de ter chegado aqui, e não estou falando de um governo de quatro anos ou oito anos, estou falando de um governo que completou dois anos, tem um ano e 11 meses, e foi nesse período que pudemos fazer tudo isso que foi feito e, particularmente – e aqui quero comemorar – poder inaugurar no dia de hoje o aeroporto de Vitória”, discursou Temer.

Mas, na própria cerimônia, a primeira reação. Uma resistência declarada que veio do colega de partido: o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, do MDB. Ele estava em Vitória, não foi à cerimônia e divulgou uma nota oficial.

“O país amanheceu mais uma vez sobressaltado com fatos políticos preocupantes. Apoio a investigação dessas denúncias com profundidade e, como democrata que sou, também defendo o amplo direito de defesa de todos os citados. Mas ressalto que os episódios políticos sucessivos e graves dessa natureza têm prejudicado o país e a economia, trazendo prejuízos sociais com impacto direto na vida das pessoas, particularmente os mais pobres”.

 Em Brasília, por causa da véspera do feriado, o Congresso estava vazio, mas, em suas cidades, parlamentares de oposição fizeram duras críticas ao presidente.

O líder da Rede defendeu uma terceira denúncia contra Temer.
     
“Eu acho que torna inevitável uma terceira denúncia contra o presidente da República à Câmara dos Deputados. Desta feita, eu espero que a Câmara perceba e corrija o erro de não ter acatado as duas denúncias anteriores”, disse Randolfe Rodrigues.

O presidente já foi denunciado duas vezes pela Procuradoria-Geral da República, mas a Câmara barrou as duas denúncias.

E, já de olho nisso, o entorno do presidente começa a avaliar indicações para o comando da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, onde uma eventual terceira denúncia começaria a tramitar.

No Rio Grande do Sul, o ministro Luiz Edson Fachin falou sobre a operação:

“Tem se compreendido que ninguém está imune à investigação. Com o devido cuidado, no sentido de preservar as instituições, mas todas as pessoas, independentemente do cargo que ocupam, são suscetíveis a investigações nos termos e nos limites da Constituição. Isso, obviamente, como se dirige a todas as pessoas, não há quem esteja excluído, por mais elevado que seja o seu posto, deste tipo de procedimento”.

À tarde, Temer voltou à Brasília e chamou os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, do Gabinete de Seguranca Institucional, Sérgio Etchegoyen, e o da Secretaria de Governo, Carlos Marun, para uma reunião no Palácio do Planalto.

Em conversas nesta quinta, governistas também tentaram politizar a operação – atribuir as medidas autorizadas por Barroso aos planos eleitorais de Temer. Conforme a investigação avança, integrantes do governo vêm intensificando esse discurso de críticas ao ministro.

No início da noite, o ministro da Secretaria de Governo chamou os jornalistas. Como de costume, foi o porta-voz escolhido por Temer para reagir em nome do governo. Marun falou em complô contra Temer por causa da candidatura à reeleição:

“Nós entendemos que a decisão do presidente de colocar a possibilidade de que venha a disputar a reeleição, colocar como concreta essa possibilidade, faz com que novamente se dirijam contra nós os canhões da conspiração”.

O que dizem os citados

A defesa de Wagner Rossi afirmou que, desde que ele se aposentou, há 7 anos, não atuou mais profissionalmente e nem teve relacionamentos políticos; que Rossi nunca foi chamado a depor nesse caso; e que ele pode ser facilmente encontrado. A defesa disse que, por isso, considera abusivas as medidas tomadas e que Rossi vai provar a inocência dele.

A defesa de José Yunes disse que é inaceitável a prisão de um advogado que sempre que intimado, ou mesmo espontaneamente, compareceu a todos os atos para colaborar; que a prisão é ilegal e uma violência contra o cliente e contra a cidadania. A defesa de Yunes solicitou ao ministro do Supremo Luís Roberto Barroso a revogação da prisão temporária, alegando que o cliente já prestou três depoimentos em 2018.

A assessoria da Rodrimar, de Antônio Celso Grecco, declarou que os advogados não tiveram acesso aos autos porque esta quinta-feira é feriado no Judiciário; que a empresa nunca pagou propina a nenhum agente público nem autorizou que alguém fizesse isso em seu nome. Sobre o Decreto dos Portos, a Rodrimar afirmou que seus dirigentes atuaram, sim, como representantes e parceiros das entidades setoriais para ajudar a construir o texto do decreto, como fizeram todas as empresas que atuam nos portos, e que o decreto não beneficiou nenhuma empresa.

A assessoria do Grupo Libra declarou que está prestando todos os esclarecimentos à Justiça, e que uma das acionistas do grupo já depôs à Polícia Federal. E que dará mais informações depois de ter acesso integral aos documentos da investigação.

A defesa de Milton Hortolan declarou que a prisão dele é absolutamente desnecessária e desprovida de suporte fático e que Hortolan deixou o cargo que ocupava na Companhia Docas do Estado de São Paulo em 2008, quase dez anos antes da edição do decreto dos portos.

A defesa de Carlos Alberto Costa, sócio fundador da Argeplan, e de Carlos Alberto Costa Filho, declarou que os dois não têm qualquer envolvimento com os fatos que são objeto da investigação e não cometeram qualquer irregularidade. E que a prisão é desnecessária porque os clientes sempre estiveram à disposição das autoridades.

A direção do MDB Nacional afirmou que não vai se posicionar e reforçou a manifestação dos advogados dos acusados.

A defesa do Coronel Lima disse que ele é inocente e que não tem nenhuma participação nos fatos citados no inquérito; que é do interesse dele esclarecer tudo; que só não prestou depoimento antes por problemas de saúde; e que, em fevereiro, solicitou que o depoimento dele fosse feito por escrito, o que foi negado.

O JN não conseguiu contato com Eduardo Luiz de Brito Neves, Maria Eloisa Brito Neves, Celina Borges Torrealba Cápri, Rodrigo Borges Torrealba, Ana Carolina Torrealba Affonso, Zuleika Borges Torrealba, e Gonçalo Borges Torrealba.