O sonho da fábrica de cascos, se transformou em um grande escândalo

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Agora, a saída especulada para a “fábrica de cascos” de Rio Grande, anunciada com solenidade e a presença do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é a venda para um grupo chinês

por Diniz Júnior
Um consórcio de cinco empresas do Japão, lideradas pela Mitsubishi Heavy Industries, anunciava no dia 22 de outubro de 2013 a compra de 30% do estaleiro brasileiro Ecovix-Engevix por 30 bilhões de ienes (US$ 305 milhões).
A Mitsubishi Heavy Industries foi anunciada como o sócio majoritário do consórcio, do qual também fazem parte os estaleiros Imabari Shipbuilding, Namura Shipbuilding e Oshima Shipbuilding, além da Mitsubishi Corporation.
A Ecovix, um dos principais estaleiros do Brasil, foi criada em 2010 para construir navios e cascos flutuantes para a Petrobras, destinados à produção, armazenamento e descarga nas operações de exploração do pré-sal.
O pré-sal era apontado como um novo horizonte de exploração descoberto pela Petrobras em áreas muito profundas do oceano Atlântico, em frente ao litoral de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo e sob uma camada de sal de dois quilômetros de espessura.
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Em agosto 2012, a Ecovix conseguiu contratos para fornecer serviços de engenharia, abastecimento e construção para três novos navios perfuradores da Sete Brasil, uma empresa de investimentos criada em 2011 e especializada em gestão de portfólio de ativos voltados para a exploração na camada do pré-sal.
Pouco mais de dois anos depois de comprar 30% do negócio, a sonhada fábrica de cascos virou uma fábrica de incertezas. A Mitsubishi Heavy Industries revende a sua participação. O grupo de empresas japonesas que era a esperança de uma solução para o impasse da Ecovix (Engevix + Funcef/Caixa), empresa instalada em Rio Grande que tem contrato para fornecimento de oito cascos de plataformas de petróleo e já entregou dois, vai se retirar do negócio. A informação foi publicada originalmente no jornal Valor Econômico e confirmada por Zero Hora em documento do Conselho Nacional de Defesa Econômica (Cade) que autoriza a venda da fatia do consórcio para o fundo Jackson Empreendimentos.
Esse fundo é controlado pela Engevix, empresa que teve seus proprietários, entre eles o diretor presidente Gérson Almada, presos e punidos por envolvimento no caso de corrupção da Operação Lava-Jato. O consórcio havia comprado 30% da empresa em outubro de 2013 por US$ 300 milhões e, conforme o Valor, deve vender por uma quantia simbólica, registrando o investimento realizado como perda.

 

Sindicato e federação das indústrias dizem que chineses serão bem-vindos
Em dificuldades, a Ecovix precisa de um sócio ou de um comprador interessado em ficar com todo o negócio para viabilizar a entrega da encomenda. No início de dezembro de 2015, os trabalhadores da empresa fizeram protesto em Rio Grande porque faltaram recursos para pagar o salário de novembro, a primeira parcela do 13º salário e o vale-alimentação.
Logo que surgiram os primeiros sinais das dificuldades da Engevix, envolvida na Operação Lava-Jato, a grande expectativa no Estado era de que o consórcio, liderado pela Mitsubishi e com participação de outras empresas japonesas, assumisse o controle do negócio, pelo interesse no contrato de US$ 3,5 bilhões com a Petrobras. No entanto, interlocutores da empresa relataram que os japoneses queriam distância do escândalo em que se transformaram os negócios das empreiteiras brasileiras com a Petrobras.
Já havia sido feita uma tentativa de venda aos chineses, mas os japoneses, por questões históricas e culturais, recusavam-se a fechar negócio com os chineses.  A maior probabilidade de interesse no estaleiro seria da China Offshore Oil Engineering Corporation (COOEC), do mesmo grupo da China National Offshore Oil Corporation (CNOOC), sócia da Petrobras no campo de Libra, no pré-sal.

 

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“Precisamos trabalhar acreditando que o pré-sal vai dar certo. O governo e todas as esferas precisam estar envolvidos, pensando no país”,Gérson Almada em entrevista à Revista Conexão Marítima.Em 14 de dezembro de 2015 o juiz Sérgio Moro condenou Gerson Almada a 19 anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa

Na sentença, o juiz Sérgio Moro disse que, só em uma negociação, foram pagos mais de R$ 5 milhões em propina. Ao todo, foram pagos mais de R$ 15 milhões à diretoria de Abastecimento da Petrobras, que na época era comanda por Paulo Roberto Costa.

Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, a Engevix simulou contratos de prestação de serviços com empresas controladas pelo doleiro Alberto Youssef para esconder o pagamento de propina.

Carlos Alberto Pereira da Costa, que trabalhava para Youssef, foi condenado a dois anos de prisão. Ele teve a pena substituída por prestação de serviços à comunidade.

Outros três ex-executivos da Engevix foram absolvidos por falta de provas. Carlos Eduardo Albero, Newton Prado Junior e Luiz Roberto Pereira.

Na edição 105 de dezembro de 2013 da Revista Conexão Marítima, Gérson Almada concedeu uma entrevista exclusiva.Clique aqui e leia a entrevista nas páginas 18 e 19.

 

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