O perfume que veio do fundo do mar, mais de um século e meio depois

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Mais de um século e meio atrás, em 1864, um barco cargueiro afundou nas proximidades das Ilhas Bermudas com um carregamento de mercadorias diversas, que se destinavam aos apoiadores do Confederados, durante a Guerra Civil Americana. Em 2011, 147 anos depois, uma tempestade revirou a areia do fundo do mar no local onde havia acontecido o naufrágio e revelou a proa do velho barco afundado, que se chamava Mary Celestia.
 
 
 
 
Ela se interessou tanto pelo achado que decidiu investigar a origem do perfume, a partir de indicações nos vidros que os embalavam. E decidiu recriar o perfume, a partir daqueles dois únicos exemplares que restaram – mesmo eles tendo passado quase um século e meio no fundo do mar.Dentro do barco naufragado há quase um século e meio, foram achados dois vidros de perfume, ainda em perfeito estado. O achado intrigou os mergulhadores que haviam descoberto os restos do barco, e eles decidiram levar os dois frascos para serem analisados na principal perfumaria da ilha, a Lili Bermuda, da perfumista canadense Isabelle Ramsay-Brackstone.
 
 
 
Com a ajuda do especialista Jean Claude Delville, e usando técnicas de cromoterapia reversa, que fazem a engenharia ao contrário e identificam ingredientes e fórmulas originais de produtos, Isabelle conseguiu recriar a fragrância e trazer novamente à vida o “Perfume da Rainha”, uma suave combinação de aromas cítricos e florais, que só teve que ser ligeiramente adaptada porque um dos solventes, de origem animal, não mais poderia ser usado no mundo atual.
 
 
 
 
O (re)lançamento do perfume (que, na verdade, foi a volta à vida de algo que já havia desaparecido) aconteceu em grande estilo, no exato dia que marcou os 150 anos do naufrágio do barco (cujo nome, Mary Celestia, passou a batizar também o perfume), com um lote inicial de apenas 1 864 frascos, mesmo número do ano do naufrágio – que se esgotaram rapidamente.
 
 
Embora curiosos, os perfumes encontrados no velho barco americano afundado não foram as primeiras relíquias encontradas nas águas que banham as Ilhas Bermudas. Ao contrário, com mais de 300 naufrágios históricos, o fundo do mar das Bermudas são uma espécie de museu natural submarino, e já revelaram fascinantes histórias.
 
Animada com o sucesso da empreitada – e também das vendas, no dia do lançamento -, Isabelle decidiu incorporar o perfume Mary Celestia à linha regular de produtos da sua perfumaria. Hoje, o “Perfume da Rainha” é um dos preferidos dos turistas que visitam a mais famosa perfumaria das Ilhas Bermudas, embora custe o equivalente a cerca de R$ 700,00 o frasco de apenas 100 ml, e passou a ser vendido também pela internet.
 
Uma delas, a da fragata inglesa Sea Venture, que afundou na ilha em 1609, quando levava uma leva de colonos ingleses para o que viria a ser tornar os Estados Unidos, serviu até de inspiração para William Shakespeare criar a última de suas peças teatrais, batizada de A Tempestade (clique aqui para conhecer esta outra interessante história, também baseada em um caso real).
 
Do barco que inspirou o mais famoso poeta inglês da História nada restou nas águas das Bermudas. Mas dos escombros do Mary Celestia brotou um improvável perfume, que voltou à vida, depois de mais um século e meio no fundo do mar.
 
Fonte: UOL / Histórias do Mar