“O jornalista é um historiador do cotidiano”, avalia comunicador carioca

0
4174
IMPRIMIR
José Pedro Villalobos, carioca formado em comunicação no Rio Grande do Sul (Imagem: Arquivo Pessoal)
José Pedro Villalobos, carioca formado em comunicação
no Rio Grande do Sul (Imagem: Arquivo Pessoal)

O jornalista e o historiador estão interligados. O primeiro narra o presente. O segundo, o passado. Para José Pedro Villalobos, comunicador formado pela Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Famecos/PUC-RS), “o jornalista é um historiador do cotidiano”. Ele explica que estudar o passado envolve distanciamento para analisar em profundidade o acontecimento. O jornalista precisa confiar na sua apuração e contar os fatos de forma honesta, transparente e coerente.

O carioca cursou história, mas logo mudou para jornalismo. Queria ser historiador do presente. Colocou os pés no prédio 7 da Famecos pela primeira vez há 30 anos e diz que a escolha pela instituição não foi difícil, pois a considera a melhor daculdade de jornalismo até hoje. O diplomado não hesita em afirmar que o estúdio de televisão era seu ambiente favorito. Isso explica os caminhos que seguiu durante a carreira. Villalobos trabalhou na RBS TV e na TV Com por duas décadas. “Eu sentia o caminho que tomaria e – pelo menos até agora – é o mais marcante da minha trajetória”.

Todos que passam pela Famecos têm seus docentes favoritos. Villalobos teve a oportunidade de trabalhar com alguns de seus preferidos, como Alice Urbim, Raul Costa Júnior e Cláudia Nocchi. Ele também menciona Carlos Kober, de televisão, que marcou pelo conhecimento profundo e o jeito de transmitir este conhecimento. “E o Leonam, um ‘clássico’ com as suas leis. A minha preferida é: ‘jornalista pode pecar por tudo, menos por ingenuidade’”.

O primeiro trabalho de Villalobos foi em sua própria produtora de vídeo, chamada Canal Zero. “Foi um fracasso absoluto! Eu e mais dois sócios criamos a empresa no fim de 1989, uma época em que os vídeos empresariais estavam crescendo”. Mas, em 1990, veio o famoso Plano Collor, que confiscou a poupança e deixou todo mundo sem dinheiro. “Batalhamos por dois anos, mas acabou”. Além desta produtora, também trabalhou em jornais de nicho. Um deles voltado para o pólo petroquímico e outro focado no público que faz concursos. “Mas a minha atividade profissional mais relevante até hoje foi na RBS TV e TV Com, onde passei 20 anos”. Ele começou como produtor na RBS TV, depois foi editor-chefe do ‘Bom Dia Rio Grande’ por dois anos e editor-chefe do ‘Jornal do Almoço’ por quase nove anos. Ainda foi coordenador de produção e reportagem e, por fim, dois anos como gerente de produto na TV COM. “Agora estou iniciando uma empresa própria, chamada JPV Mídia, voltada para projetos digitais de comunicação”.

O carioca define jornalismo como informação qualificada, que contextualiza e analisa os fatos, comportamentos e situações do cotidiano. “Na medida do possível, deveria situar o público em termos históricos, fazer relações com outras épocas, pois a história sempre se repete”. Durante a carreira, participou de várias coberturas relevantes que fizeram a profissão fazer sentido. O jornalista lembra que em uma reportagem para o ‘Jornal do Almoço’ sobre a fila dos transplantes de fígado no Rio Grande do Sul, o entrevistado estava com os dias contatos e não conseguiria doador a tempo. “A repercussão foi tanta que o secretário da Saúde na época autorizou que a fila fosse ‘furada’, e a pessoa acabou se salvando”.

O que mais fascina Villalobos no jornalismo é a reportagem investigativa, o talento para descobrir aquilo que governantes e poderosos querem que permaneça oculto. “Este é o sentido mais nobre do jornalismo”. Ele defende o diploma para jornalistas. Afirma que a tarefa do dia a dia, da apuração, da checagem e da edição são funções para profissionais diplomados. “O que temos é um universo de informação repetida, de baixa qualidade. Isto deveria ser um fator de defesa do emprego do jornalista profissional”.

Sobre o futuro da profissão, o jornalista acredita que as plataformas vão mudar o tempo todo e é preciso mostrar trabalho em todas elas. Mas o que vai prevalecer é a qualidade. Por isso, aconselha aos alunos que, como “historiadores do presente”, nunca deixem de estudar História. “Se o negócio é ser produtor de conteúdo, tudo bem; mas seja um produtor altamente qualificado, não só na forma, mas na relevância do que estiver contando”.

(*) Integrante do projeto ‘Correspondente Universitário’ do Portal Comunique-se. Estudante do 4º semestre do curso de jornalismo da Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Famecos/PUC-RS).