Para as companhias, não há expectativa de um “boom” do mercado devido às novas regras. Algumas já têm planos de investimento que independem do programa federal. Ainda assim, a expectativa é positiva: as mudanças deverão dar mais competitividade ao transporte marítimo e estimular a migração da carga, que hoje viaja principalmente por estradas, para a costa brasileira.
O governo está em vias de enviar ao Congresso um projeto de lei com mudanças importantes para o setor. Uma das propostas consideradas prioritária para as empresas é a flexibilização do uso de navios estrangeiros – inclusive com uma possibilidade de utilizar tripulação internacional, que é duas vezes mais barata que a brasileira. Hoje, as empresas até podem usar navios estrangeiros, mas há uma série de restrições. A ideia do governo é afrouxá-las.
Um dos grandes grupos do setor, a Log-in Logística Intermodal tem planos de expandir sua frota e as rotas em que atua, mas hoje está em espera. Além da crise econômica, que demanda mais cautela, o grupo pretende acompanhar o avanço da nova legislação.
“O crescimento não necessariamente dependerá do marco legal, mas, com ele, poderemos tomar uma decisão melhor. Vamos esperar, até porque a pandemia gera um freio de arrumação”, afirma o presidente, Márcio Arany.
No fim do ano passado, o grupo levantou R$ 551 milhões em uma oferta subsequente de ações, com objetivo de fazer sua expansão. “Estamos com o dinheiro em caixa, sem pressa. O plano é manter nossa fatia atual no mercado de contêineres, de 30%, acompanhando crescimento do setor.” O executivo evita detalhar os planos de expansão, mas diz que há oportunidades para crescer no Arco Norte do país e em novos mercados da América do Sul.
A Mercosul Line, braço de cabotagem do grupo francês CMA CGM, também tem um plano agressivo de crescimento na região, que não dependerá da aprovação das novas normas, segundo a nova presidente da empresa, Luiza Bublitz.
Ela também evita abrir informações sobre o projeto, mas diz que há potencial para reforçar a rota entre o Sudeste e o Nordeste brasileiro, além de ampliar a integração com o grupo CMA, que comprou a empresa, da Maersk, no fim de 2017. “É uma oportunidade de avançar para projetos logísticos mais complexos, envolvendo armazéns, operação de controle de estoques.”
A executiva, que assumiu recentemente o cargo, afirma que já tem o aval da matriz para o plano de crescimento, mas que a nova legislação poderia ampliá-lo. “Ficaríamos contentes se o projeto do governo fosse finalizado, a discussão vem se prolongando. Ajudaria bastante, mas o investimento vem com ou sem mudança”, afirma Luiza.
Para Marcus Voloch, diretor executivo da Aliança Navegação e Logística, a nova legislação dificilmente dobrará o crescimento do mercado de cabotagem, como chegou a ser anunciado. Mas certamente as mudanças irão facilitar a expansão, diz ele.
“Não acredito em um crescimento tão acelerado porque não há demanda reprimida. Hoje, o mercado tem capacidade para mais um ou dois anos. Porém, quando for necessária uma expansão, ela poderá ser muito mais rápida e barata com uma flexibilização”, afirma.
A Aliança, que faz parte do grupo Maersk, detém quase metade do mercado de cabotagem de contêineres do Brasil, e tem uma frota de 14 navios – enquanto a Mercosul Line tem cinco e a Log-in, seis.
Para Voloch, a nova legislação poderá ampliar a concorrência, mas a expectativa é que isso só ocorra apenas no longo prazo, com a possível entrada de grandes empresas de navegação no mercado.
Hoje, a avaliação dos executivos é que, mais do que demais empresas do setor, sua verdadeira competição é o caminhão.
Fonte: Valor