Nova estação na Antártida qualifica o Brasil no cenário científico

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Base Comandante Ferraz, da Marinha do Brasil, foi projetada por arquitetos brasileiros e contará com 17 laboratórios de pesquisa (Foto: Ilustração/Estúdio 41)

por Diniz Júnior

Com investimentos de R$ 500 milhões, a nova Estação receberá profissionais que atuam no Programa Antártico Brasileiro, o Proantar, criado em 1982 para desenvolver as pesquisas nas áreas de oceanografia, biologia, glaciologia e meteorologia.

Uma área de 4,5 mil metros quadrados tem capacidade para acomodar 64 pessoas e é dotada de 17 laboratórios (a estação anterior tinha 5), além de alojamentos e espaço de convivências e de lazer. As pesquisas na Antártida são divididas da seguinte forma:

40% são realizados no oceano a bordo do navio Polar Almirante Maximiano da Fonseca;

25% na Estação Comandante Ferraz;

20% em acampamentos instalados em diferentes regiões da Antártida;

15% são feitas no módulo Criosfera 1, instalado no continente antártico, a cerca de 2,5 quilômetros da estação.

                               Antiga estação era formada por contêineres

A nova estação foi construída no mesmo local da estrutura antiga, instalada em 1984 na Península Kellen, na ilha de Rei George. A primeira estação abrigou pesquisadores até fevereiro de 2012. Um incêndio onde ficavam os geradores de energia, destruiu quase toda a estrutura e provocou a morte de dois militares. O projeto impressiona no meio do gelo da Antártida. Ela é totalmente suspensa (para evitar a perda de calor para o solo). A nova base também foi projetada para reduzir o impacto ambiental, com a instalação de uma usina eólica e placas para captar energia solar.

Conheci a estação antiga em 1986 que era formada por contêineres interligados e realmente o escritório curitibano Estúdio 41 desenhou a nova base, que além da funcionalidade ficou esteticamente bonita, a ponto do jornal americano The New York Times descrevê-la como um prédio que facilmente pode ser confundido com um museu de arte ou um hotel boutique. As mudanças são superlativas como tudo no continente antártico. Eu diria que a casa do Brasil na Antártida é um hotel cinco estrelas.

O projeto da nova Estação Antártica teve início em 2012, com um concurso público promovido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) para a seleção de propostas. O escritório de arquitetura Estúdio 41, de Curitiba, foi escolhido para a empreitada. A partir do projeto da Estúdio 41, a construção foi feita na China pela CEIEC (China Electronics Import and Export Corporation). Ela foi transportada em grandes módulos, durante os verões antárticos de 2017, 2018 e 2019, para a Ilha Rei George, na Antártida brasileira. 

O local foi projetado para suportar as condições extremas de clima no local, que pode chegar a temperaturas abaixo de -50°C. Por isso, a estação possui pilares de sustentação pesando até 70 toneladas para que a estrutura fique a mais de três metros do solo e longe da neve. “O Brasil é um país tropical, então não estamos acostumados com essas condições”, disse Emerson Vidigal, um dos responsáveis pelo projeto, ao jornal americano New York Times.

Foto Bruna Pavani

LUCIANO PEZZI / COORDENADOR DO LABORATÓRIO DE ESTUDOS DO OCEANO E DA ATMOSFERA (LOA) DO INPE

Será mais um apoio da Marinha do Brasil, do MCTIC e do próprio Proantar para desenvolver essas pesquisas e também as que virão. Já contamos com o navio polar Maximiano da Fonseca, que é uma excelente plataforma flutuante de observações que tem nos apoiado durante todos esses anos as nossas pesquisas e na logística. Temos um grande potencial para desenvolver pesquisas de alto impacto nacional e internacional. Porém para que possamos atingir isto dependemos da constância de fomentos e recursos para manter a ciência antártica.

 

MOACYR ARAÚJO / VICE-REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO /UFPE

A nova estação vai dar um adicional de suporte às pesquisas. Temos muito que fazer na Antártida com relação à dinâmica oceânica, mas a dinâmica costeira. Com a nova base vamos possibilitar essa continuidade. Uma coisa é você vir de navio e ter que ficar no continente  30 dias, outra coisa é ficar quatro, cinco meses pesquisando na Antártida.

 

JOÃO CÂNDIDO MARQUES DIAS / CAPITÃO DE MAR E GUERRA COMANDANTE DO NAVIO POLAR MAXIMIANO DA FONSECA

O Brasil já tem uma presença científica muito respeitada. A presença da Marinha, dos navios, da uma segurança marítima para a região. No que se refere as pesquisa certamente o Brasil passará ainda mais ser respeitado do que já é.

 

CAPITÃO DE FRAGATA RODRIGO KRISTOSCHEK / SECRETARIA DA COMISSÃO INTERMINISTERIAL PARA OS RECURSOS DO MAR (SECIRM)

As capacidades de apoio que a nova Estação vai proporcionar são muito superiores em relação à antiga Estação. Tecnologicamente Comandante Ferraz é uma das mais modernas, se não for a mais moderna, que está instalada no continente antártico. É uma referência na parte ecologicamente correta, geração de energia, tratamento de resíduos.Ela vai proporcionar aos pesquisadores todas as facilidades para atuarem neste local. A capacidade para receber as pessoas é a mesma da Estação antiga, mas as facilidades são inúmeras e coloca o Programa Antártico Brasileiro em outro patamar mostrando a capacidade do Brasil de fazer pesquisas e ficar na Antártida realizando pesquisas de alto nível.