Negócio com a Shell põe fim à trajetória do BG

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A Shell comprou uma empresa que tem dado bom retorno aos acionistas. Desde 1990, a ação do BG subiu cerca de 800% em comparação com os 165% das ações da Shell e da alta em torno de 200% do índice de gás e petróleo do FTSE.

A aquisição do BG Group pela Royal Dutch Shell por US$ 50 bilhões, que deve ser concluída ontem (15), encerra a trajetória de uma empresa que nasceu humilde para se tornar a terceira maior companhia britânica de petróleo e gás natural.

Na sexta-feira, foi o último dia de negociação das ações da empresa na Bolsa de Londres, onde há tempos ela era uma das principais a compor o índice FTSE 100.

Nos trinta anos desde que o BG surgiu de um desmembramento de uma empresa estatal britânica de gás em dificuldades, ela se tornou uma companhia internacional de energia com ativos como os valorizados campos de petróleo no Brasil, as enormes reservas de gás na costa da Tanzânia e uma unidade gigantesca na Austrália para liquefazer gás natural. O seu negócio de gás natural liquefeito (GNL) tornou-se pioneiro na comercialização do combustível mundo afora.

Os investidores também foram atraídos por promessas de crescimento impulsionadas pelo sucesso na exploração e por uma cultura empresarial empreendedora que permitiu que a empresa crescesse rapidamente em novas áreas onde as companhias maiores têm atuação mais lenta.

A qualidade dos ativos do BG e a recente queda na cotação das ações o tornaram há muito tempo um excelente candidato para aquisição, segundo profissionais de bancos e analistas. A Shell aproveitou a oportunidade em abril do ano passado, após os preços do petróleo terem caído cerca de 50%.

“O BG era um negócio pequeno de muito sucesso”, diz Chris Wheaton, gestor de portfólio da empresa de investimentos Allianz Global Investors, que tem ações do BG e da Shell. “Ele se tornou um grande gerador de caixa e depois foi vítima de seu próprio sucesso.”

Analistas têm dito que os ativos de gás do BG ajudarão a transformar a Shell em uma das maiores produtoras de GNL do mundo. Com os campos de petróleo em águas profundas do Brasil, a gigante anglo-holandesa vai recuperar suas reservas decrescentes, sob pressão das recentes quedas nos preços.

A Shell comprou uma empresa que tem dado bom retorno aos acionistas. Desde 1990, a ação do BG subiu cerca de 800% em comparação com os 165% das ações da Shell e da alta em torno de 200% do índice de gás e petróleo do FTSE.

As ações do BG foram negociadas pela primeira vez em Londres, em 1986, a 63 pences (cerca de US$ 0,92).

“O BG tem sido um criador excepcional de valor”, diz Ivor Pether, gestor de fundos do britânico Royal London Asset Management e investidor do BG e da Shell. “Eles tiverem muito sucesso em explorações e foram uma das primeiras empresas a globalizar suas oportunidades com o GNL”, diz ele.

A consultoria Wood Mackenzie espera que o mercado global de GNL cresça 50% de agora até 2020, apesar do atual excesso de oferta de GNL, porque as leis ambientais contra combustíveis poluentes como o carvão e o petróleo estão levando a uma migração para alternativas mais limpas como o gás natural.

As raízes do BG estão no GNL. Em meados da década de 50, dez anos antes das reservas de gás do Mar do Norte serem descobertas, a predecessora do BG – a estatal britânica Gas Council – começou a analisar a importação de GNL como fonte de combustível para o país carente de energia. Em 1959, a empresa realizou o primeiro transporte internacional do combustível, dos EUA para o Reino Unido. A iniciativa abriu caminho para um contrato de 15 anos com a Argélia, para que o país africano fornecesse cerca de 1 milhão de toneladas por ano de GNL ao Reino Unido.

O então diretor-presidente do BG, Frank Chapman, viu uma oportunidade para elevar seu negócio de GNL com embarques para os Estados Unidos no início dos anos 2000, fazendo o leasing de cargueiros e comprando capacidade nos EUA.

A empresa construiu um portfólio de contratos de longo prazo e de cargas de GNL de curto prazo. Ela podia direcionar seus embarques aos mercados que pagavam o maior preço, como os asiáticos, onde podia cobrar um preço à vista mais alto, enquanto honrava seus contratos de longo prazo em outros lugares.

O BG tem hoje cerca de 30 navios de GNL e entregou 282 carregamentos do produto em 2015, mais que o dobro do registrado no ano anterior. O sucesso da empresa ocorreu em meio a desafios. O BG fracassou em projetos complexos e não conseguiu honrar prazos e metas de produção que ele mesmo estabeleceu. Os custos estouraram na Austrália e os lucros diminuíram. Isso levou a grandes baixas contábeis com o colapso dos preços do gás nos EUA.

Quando Chapman deixou o cargo, no fim de 2012, a ação da empresa acumulava queda de 30% desde o início daquele ano.

Ela então atravessou um período turbulento. O diretor-presidente seguinte, Chris Finlayson, deixou o cargo depois de apenas 16 meses, criando um intervalo de quase um ano até que o novo diretor-presidente, Helge Lund, assumisse. A cotação da ação do BG caiu cerca de 35% em 2014. Poucas semanas depois de Lund assumir o cargo, em fevereiro de 2015, a Shell apresentou sua oferta pelo BG.

Fonte: Valor Econômico/Por Selina Williams | The Wall Street Journal, de Londres