Navegação costeira ganha espaço como opção de transporte de carga

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                         Desde 2008, essa alternativa de transporte registrou crescimento anual médio de 10%.

Negócios de eletroeletrônicos, químicos, aço, bens de consumo, produtos agrícola e alimentação. Não para de crescer a lista de setores empresariais que sondam o potencial da cabotagem —a navegação costeira entre portos do mesmo país.

O porto do Rio Grande (RS), por exemplo, viu aumentar desde 2013 o transporte de arroz para Suape (PE), Fortaleza, Manaus e Itaguaí (RJ). De 2016 para cá subiu também o carregamento de móveis do Sul para o Nordeste.

“No primeiro semestre deste ano alcançamos 13% de expansão”, afirma o presidente da Abac (Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem) e vice-presidente do Syndarma (Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima), Cleber Cordeiro Lucas.

O gerente-executivo de relacionamento do Poder Executivo da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Pablo Cesário, explica que as empresas estão fazendo as contas e tentando reduzir os custos criados pelo tabelamento.

“Com a tabela de frete, o transporte rodoviário se tornou menos competitivo, e as empresas já estudam a mudança de modal”, diz Cesário.

De acordo com ele, um movimento mais forte de migração aguarda a definição sobre a constitucionalidade do tabelamento que será analisada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no fim deste mês.

Quem já optou pela mudança se declara satisfeito com o resultado. A Mallory, indústria de eletroportáteis do Ceará, já investiu na troca do transporte rodoviário pelo aquaviário.

Antes do tabelamento, gastava R$ 6.500 por frete; depois passou a desembolsar R$ 18 mil pelo mesmo transporte.

“Com a cabotagem, nossos custos caíram para R$ 9.200 para a mesma quantidade de carga”, diz Alan Costa, diretor de operações da empresa.

Ele explica que, como o Nordeste não concentra muitas indústrias e boa parte da produção consumida por lá vai do Sul e do Sudeste, o caminhoneiro autônomo costumava cobrar valores menores no retorno para Sul e Sudeste, já que ele ia carregado e, teoricamente, voltaria vazio.

No entanto, com o preço mínimo, mesmo a volta tem de ser paga conforme a tabela, o que elevou muito os custos.

Satisfeito com o novo modal, Costa descarta a volta para o frete com caminhoneiros autônomos e diz que a empresa avalia frota própria para complementar a cabotagem.

A sócia-executiva do Ilos (Instituto de Logística e Supply Chain), Maria Fernanda Hijjar, comenta que desde a entrada em vigor da nova lei do frete a entidade recebe de duas a três empresas por dia pedindo uma revisão estratégica de transporte para reduzir o impacto da tabela.

“No passado, mesmo empresas que tinham frete típico de cabotagem [longa distância e com saída perto da costa] não colocavam toda a carga nesse modal por ser mais demorada e a opção da via rodoviária era financeiramente atrativa. Há uma tendência de mudança, e muitas empresas avaliam a cabotagem”, diz Hijjar.

A Log-In foi outra empresa que há alguns meses adotou um projeto-piloto para transportar milho do Centro-Oeste para o Nordeste com cabotagem nos trechos finais.

O superintendente da Federação e Organização das Cooperativas do Paraná, Nelson Costa, afirma que vários produtores da região também avaliam a cabotagem.

O diretor de produto marítimo da DHL Global Forwarding, Ricardo Carui, diz que o movimento é mais intenso nas grandes empresas.

“Já existe conversão do transporte rodoviário para a cabotagem particularmente nas empresas com departamento de logística mais maduro”, afirma.

A petroquímica Braskem, que já usava a cabotagem, confirmou à reportagem que avalia ampliar o uso desse modal.

Porém, pequenas e médias empresas estão aderindo pela possibilidade de dividir contêineres.

“O contêiner seria como um ônibus que vai parando de porto em porto para pegar carga. Enquanto o granel seria o táxi, a empresa contrata para uma rota específica e apenas sua mercadoria é transportada naquele espaço”, afirma Hijjar, do Ilos.

Fonte: Folha SP