Magia e realidade unem mães e filhos em fábrica de brinquedos nos Estados Unidos

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Por Marlise Brenol, Enviada Especial/Buffalo-Niagara*marlise.brenol@zerohora.com.br
Laboratório reproduz uma creche, onde mães e filhos testam ideias antes de entrarem em produção

Situada ao extremo norte dos Estados Unidos, quase fronteira com o Canadá, no conglomerado urbano Buffalo-Niagara, há uma empresa que parece saída de uma fábula. Como nos textos de Monteiro Lobato, o universo de trabalho não parece estruturado pela lógica dos adultos, mas pelas crianças. Para Lobato, os pequenos gostavam de ler seus livros porque ele escrevia a partir dos relatos deles.

Herman Fisher, um pequeno empreendedor americano do início do século passado, tinha algo em comum com o escritor brasileiro: o interesse em ser porta-voz das crianças. Na década de 1960, quando fabricava brinquedos em madeira, Fisher queria entender por que determinados brinquedos faziam sucesso, e outros, não. Em vez de contratar adultos, montou um espaço para atrair crianças para a sua empresa.

Passados mais de 50 anos, o espaço cresceu e hoje ocupa grande parte da sede da Fisher-Price em Buffalo. Chamado de playlab, o ambiente reproduz uma creche, um jardim de infância, uma cozinha e sala de estar, um estúdio fotográfico e um camarim. Mas esse mundo de fábula tem entrada restrita. Selecionadas em um banco de candidatos que passa de 10 mil inscrições, a cada ano 4 mil crianças e 1,5 mil mães participam das atividades do laboratório. A opinião é recompensada em vale-compras de brinquedos.

Na cidade, participar das atividades é motivo de orgulho para as mães como Emily Michael, 25 anos, mãe de Addison de nove meses.

– É como um trabalho. O meu filho é a minha carreira e participar me mantém ativa enquanto cuido dele – conta Emily, que ganha crédito de US$ 50 a cada rodada de conversa com outras mães sob observação atenta de pesquisadores posicionados atrás de um vidro reflexivo.

Designers e engenheiros são estimulados a participar de todas as etapas. As reuniões de criação muitas vezes levam cinco dias seguidos. A originalidade dos adultos precisa passar pelo teste da empatia infantil antes de entrar em produção. Quando um brinquedo, ainda em estágio inicial de desenvolvimento é bem aceito, os criadores já sabem que o sucesso é garantido. Por outro lado, uma proposta considerada brilhante pode se revelar um fracasso.

– Foi o caso de um polvo bolado pela equipe. O protótipo com tantas pernas confundia a criança, não era funcional. Após conversa com as mães, o polvo se transformou em uma zebra – conta Gary Weber, diretor de Produto e Design.

Apesar de a equipe viajar o mundo, a participação de mães e crianças é restrita aos moradores da região onde fica a empresa. Os laços entre real e imaginário estão em toda parte, até no aeroporto da cidade. Enquanto os pais aguardam o embarque, os filhos podem se divertir em um espaço repleto de brinquedos.

Não é coincidência Buffalo figurar na lista da revista Forbes entre as 10 melhores cidades dos Estados Unidos para criar os filhos. A brincadeira pode não estar entre os critérios de avaliação da revista, mas o ambiente lúdico ajuda a preservar a magia no cotidiano da comunidade.
* Marlise Brenol viajou para Buffalo-Niagara a convite da Fisher Price