Interesse da Marinha

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Tela do radar mostra embarcações (quadrados verdes) navegando na costa do Rio Grande do Sul em área monitorada pelo equipamento. As linhas tracejadas azuis revelam suas trajetórias

O almirante Paulo José Rodrigues de Carvalho, ex-chefe de Estado-Maior do Comando de Operações Navais da Marinha, afirma que o radar da Iacit pode ser útil para o patrulhamento da costa. “O OTH é uma contribuição direta para o ambicioso projeto de vigilância marítima da Marinha, o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul [SisGAAz]. Com quatro equipamentos dá para monitorar as jazidas de óleo e gás das bacias de Campos e Santos, nos litorais fluminense e paulista”, diz. No fim de março, a Iacit apresentou o equipamento para o alto almirantado da Marinha. “Mantemos conversas com a Marinha e esperamos que ela seja a primeira a operar o radar”, conta Hissi, informando que seriam necessárias em torno de 14 unidades similares para vigiar toda a costa brasileira – o preço do radar não é divulgado pela empresa.

Antena de transmissão do radar (em primeiro plano) instalado no Farol do Albardão, área da Marinha situada no litoral gaúcho IACIT

O desenvolvimento do OTH teve início em 2011 e seu índice de nacionalização é superior a 80%. “O último subsistema finalizado por nossa equipe foi o de rastreio, que permite visualizar o deslocamento das embarcações. Ele ficou pronto este ano”, conta. Feito com recursos do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe), da FAPESP, o rastreador associa detecções consecutivas de um mesmo alvo, dando informações como direção e velocidade. Sem isso, o radar apenas identificaria pontos no mapa, mas não mostraria de onde eles vieram nem para onde estariam indo.

Com base nas informações de rastreio, o operador pode analisar, por exemplo, se duas embarcações estão em rota de colisão, assim como o comportamento de alvos suspeitos. A análise da trajetória descrita pelos alvos pode ajudar a identificar navios que transportam mercadorias contrabandeadas ou que estão pescando em áreas proibidas – as tais embarcações não cooperativas.

Processador nacional

O próximo desafio da Iacit é nacionalizar o processador de sinal, um componente vital do radar e o único que ainda é importado. Sua função é transformar o eco refletido pelas embarcações e captado pelas 23 antenas de recepção do OTH em um mapa de detecções, mostrando a localização de cada uma delas. O subsistema de processamento instalado no radar em operação no farol do Albardão foi fornecido pela empresa israelense Elta, que mantém acordo de cooperação tecnológica com a Iacit.

“Assim como o rastreador, projetar e construir o sistema de processamento de sinais não é trivial. Já concluímos o algoritmo do processador, que se mostrou funcional em testes laboratoriais, e agora precisamos avançar nas etapas de engenharia de sistemas, que incluem a integração do algoritmo com hardwares, testes internos e de qualificação e ensaios em campo”, informa Hissi. A estimativa é de que o novo processador fique pronto em 18 meses.

A nacionalização do subsistema de processamento de sinais está sendo feita com recursos próprios, mas a Iacit busca apoio de linhas de financiamento para acelerar sua construção. De acordo com Luiz Carlos Teixeira, presidente da empresa, a decisão de utilizar o processador israelense na construção do primeiro OTH foi tomada para que o radar pudesse ser finalizado mais rapidamente. “Com isso, houve um ganho significativo de tempo para o radar ficar pronto”, comenta Teixeira, ressaltando que o apoio logístico da Marinha, com a cessão da área do farol do Albardão, também foi fundamental para a realização do projeto.

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