Grupo Ecovix pretende retomar produção no polo naval

0
589
IMPRIMIR
Em seu auge, em 2013, o polo naval gaúcho chegou a empregar 24 mil funcionários diretos, segundo o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Rio Grande e São José do Norte. Hoje, são cerca de 400, calcula a entidade / Guga Volks

Responsável por um dos maiores projetos privados no setor portuário e na construção de estaleiros no Brasil na última década em Rio Grande, o Grupo Ecovix pretende retomar as atividades na cidade da zona sul gaúcha. A empresa, que venceu concorrência da Petrobras em 2010 e entregou cinco plataformas de exploração de petróleo, está em recuperação judicial desde dezembro de 2016, com o objetivo de reestruturar a dívida e preservar ativos estimados hoje em US$ 1 bilhão.

– O alto investimento realizado e a megaestrutura montada não podem ser perdidos. Sem operar, como se encontra atualmente, não estão sendo gerados nem empregos nem receitas – afirma Christiano Morales, diretor executivo da Ecovix.

Dentro do prazo que determina a lei, o Grupo Ecovix elaborou um plano de recuperação judicial, tarefa cumprida após negociação com os credores. Está em vias de ser aprovado, tão logo a Justiça permita a realização da assembleia geral de credores.

Novas oportunidades

A potencialidade da operação em Rio Grande vai além da construção de plataformas de petróleo. A partir de estudo realizado por consultoria do setor, o Grupo Ecovix analisa a possibilidade de ingressar nas seguintes áreas:

1) Atividade portuária, com atracação de embarcações e movimentação de cargas;

2) Reparos em plataformas petrolíferas e embarcações;

3) Processamento de aço para a indústria metalomecânica;

4) Finalização da plataforma P-71.

A movimentação de carga em nada afetaria a operação naval. Já há empresas instaladas no Estado interessadas em montar uma estrutura para a carga e descarga de mercadorias. Da mesma forma o processamento de aço. Os equipamentos instalados na área têm condições de entregar diferentes cortes e perfis.

– É como uma fábrica dentro de um porto ou um porto dentro de uma fábrica. Funcionaria desta forma: uma empresa recebe matéria-prima que chega numa embarcação. O material é processado ali mesmo, embarca e segue para o destino final. A logística fica facilitada. Não há nada parecido no Brasil – destaca Morales.

Com cerca de 30% da estrutura montada, a plataforma P-71 pode ser finalizada com a prospecção de um comprador no mercado. A ideia está sendo desenvolvida em parceria com o grupo japonês Toyo, que mantém estaleiro em São José do Norte. A retomada representaria de imediato a criação de 600 empregos diretos, chegando a 1 mil no auge da atividade. A Ecovix chegou a ter cerca de 10 mil funcionários na cidade portuária. Além dos postos de trabalho, a operação geraria receitas tributárias para o município e para o Estado.

Entre as plataformas produzidas pelo grupo em Rio Grande e entregues para a Petrobras, um dos destaques é a P-66. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), a unidade integra o top 10 das plataformas brasileiras, produzindo petróleo e gás no país.

Aguardo de decisão judicial

Agora, o Grupo Ecovix aguarda a liberação da Justiça para a realização de uma assembleia geral de credores porque houve divergência com um sócio indireto, a Funcef. O assunto está em análise no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, na 6ª Câmara Cível, sob a relatoria do desembargador Luís Augusto Coelho Braga.

No dia 26 de abril, a Justiça deve decidir se libera a realização da assembleia. Sem a assembleia não haverá nem a apreciação nem a votação de um plano de recuperação judicial. Isso inviabilizaria a empresa, a retomada do polo naval e a utilização dos ativos, com a implementação de atividades complementares que tendem movimentar a economia da região sul gaúcha.

Uma agenda com o governo do Estado está sendo ajustada para a próxima semana, com a finalidade de o Grupo apresentar os projetos na cidade portuária. Entre as estruturas da Ecovix em Rio Grande, está o maior dique seco do Hemisfério Sul – doca onde são construídas ou reparadas plataformas e embarcações que, depois, se enche de água para a saída rumo ao mar. É equipado com dois pórticos, um com capacidade para movimentar 600 toneladas e outro, para 2.000 toneladas – também entre os maiores do mundo. A área permite o trabalho em duas plataformas de forma simultânea.

Mercado em alta

O dique seco e outras estruturas foram construídas no polo naval de Rio Grande a partir da descoberta de petróleo em águas profundas (pré-sal). Desde então, a Petrobras teve a necessidade de ter novas plataformas, que começaram a ser produzidas em Rio Grande. A cidade passou por um rápido crescimento entre 2005 e 2013, com o aumento dos indicadores econômicos e elevado nível de contratação.

Com os preços do petróleo em alta, cria-se uma onda positiva. O barril está acima de US$ 60, o que torna os investimentos no pré-sal ainda mais atrativos. Em 2014, a produção do pré-sal era de 300 mil barris por dia. Atualmente, está em 1,4 milhão.

LEIA MAIS SOBRE A CRISE NA INDÚSTRIA NAVAL