George Petrie: “O oceano é a próxima fronteira da humanidade”

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Por FELIPE PONTES / Revista Época

A ideia de morar no oceano pode parecer ficção científica, mas George Petrie acredita que ela se tornará real em poucos anos. Ele é diretor de engenharia do Instituto Seasteading, uma organização sem fins lucrativos que pesquisa e estimula empreendedores a criar plataformas marítimas que possam abrigar pessoas e, um dia, se tornarem cidades autônomas e soberanas. Fundada em 2008 com US$ 500 milhões doados por Peter Thiel, bilionário fundador do PayPal, a organização quer testar novos tipos de governança envolvendo com impostos baixos e uma liberdade econômica jamais vista no mundo. Petrie garante que a iniciativa não servirá somente para indivíduos ricos. “Queremos que pessoas comuns também se mudem para o mar”, afirma. A palavra “seasteading” foi criada na década de 1980 para designar o conceito de moradias permanentes no mar, batizadas de “seasteads”. O Instituto Seasteading planeja entregar um prêmio para a companhia que construir até 2015 a primeira comunidade com 50 residentes em tempo integral. “Não é otimismo. Basta encontrarmos algum empresário com uma abordagem inspirada e pragmática para provar a viabilidade do projeto”, diz.

ÉPOCA – Por que o senhor decidiu trabalhar com o Instituto Seasteading?


George Petrie –
Eu conheci a organização há quatro anos, durante uma conferência em Xangai. Quando vi que teria uma palestra sobre cidades marítimas, me interessei porque queria acompanhar como funcionariam os aspectos técnicos da ideia. E, após a apresentação, me empolguei com as implicações comerciais, sociais e políticas daquilo. Por sorte, o instituto estava procurando um diretor de engenharia e eu me candidatei à vaga.

ÉPOCA – Qual é o intuito de promover comunidades marítimas?


Petrie –
O oceano é a próxima fronteira da humanidade. Nós queremos ajudar pioneiros a criar comunidades permanentes em águas internacionais para eles testarem em paz uma série de ideias novas para sistemas políticos e sociais. As seasteds terão um grau de flexibilidade que é impossível de atingir atualmente, em parte porque os governos existentes não permitem experiências de pequena escala com novas leis. Os cidadãos estão presos aos seus respectivos governos por uma questão geográfica. As comunidades no mar permitirão uma relação mais dinâmica do cidadão com seu governo. Se estiver insatisfeito, pode pleitear melhor por mudanças ou se mudar para outra comunidade.

 

ÉPOCA – O Instituto Seasteading planeja lucrar com isso, se transformando numa consultoria ou construtora no futuro?


Petrie –
Como uma organização sem fins lucrativos, nós focamos principalmente em pesquisas e atividades relacionadas a construções móveis. O instituto procura por soluções de vários problemas associados à sustentabilidade em longo prazo destas comunidades marítimas, indo de conforto e segurança a viabilidade econômica. Nós não queremos construir essas seasteds por conta própria. Nossa meta é fornecer as ferramentas e conhecimento necessários para uma comunidade de empreendedores, investidores e entusiastas da ideia. Eles sim serão capazes de fazer comunidades marítimas uma realidade rentável.

ÉPOCA – É possível construir uma comunidade marítima totalmente autossuficiente?


Petrie –
Elas serão autônomas principalmente por ter suas próprias regras. Nós não acreditamos que é estritamente necessário ter autossuficiência material. Alguns tipos de recursos, como a carne bovina, serão especialmente difíceis de produzir no meio do oceano porque as plataformas terão um espaço limitado. Mas a comunidade poderá importar produtos e serviços.