Funcionários denunciam demora no socorro a vítimas em acidente no Porto

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              Entrada no Portocel em Aracruz, no Espírito Santo (Foto: Frideberto Viegas/ TV Gazeta)

Trabalhadores da categoria portuária denunciaram que houve demora no socorro aos funcionários que morreram em um navio atracado em Aracruz, no Norte do Espírito Santo. Um funcionário, que trabalhava no pátio do porto no dia do acidente, disse a espera levou em torno de 50 minutos. A causa da morte de três trabalhadores ainda está sendo apurada.

Em nota, o Portocel disse que “o atendimento à ocorrência foi realizado com a urgência exigida pela situação”. O Ministério do Trabalho, por meio do superintendente no Espírito Santo, Alcimar Candeias, informou que todas as denúncias levantadas estão sendo investigadas.

O funcionário que relatou a situação ao G1 pediu para não ser identificado. No dia do acidente ele atuava no pátio próximo ao navio Sepetiba Bay, onde tudo ocorreu, e disse que o aviso para paralisar as operações veio por volta das 12h20. Segundo ele, quase uma hora depois, as vítimas ainda não haviam sido atendidas.

“Nós percebemos que estava acontecendo algo. Todo mundo parou a operação e nós ficamos na beira do navio aguardando, mas não tinha ninguém socorrendo os colegas. Chegaram ambulâncias vazias, o Corpo de Bombeiros da fábrica, mas socorrendo mesmo não tinha ninguém. Saímos do terminal 13h10 e ainda assim não tinha socorrido ninguém”, disse.

Outros funcionários, que também não quiseram ser identificados, disseram que foi um portuário avulso, que também é bombeiro militar, quem coordenou o socorro.

Além disso, há denúncias de que o Portocel não tinha o equipamento necessário para fazer o resgate e que as máscaras de oxigênio usadas para acessar o local onde estavam as vítimas tiveram que ser emprestadas pelo navio.

“Quando chegaram cilindros de oxigênio para salvar, demoraram muito. Se tivesse entrado mais rápido, se tivesse esse cilindro dentro da ambulância, tinha salvado. As ambulâncias que têm lá servem só para torção, machucados mais leves”, disse o funcionário.

O acidente aconteceu no início da tarde de terça-feira. A suspeita inicial é de um vazamento de gás. As causas do ocorrido estão sendo investigadas. As atividades do porto chegaram a ser suspensas e voltaram, parcialmente, às 21h desta quarta-feira (26).

Portocel

Em nota, o Portocel disse que os médicos, bombeiros e as ambulâncias que fizeram o atendimento chegaram ao local em tempo adequado para os procedimentos de emergência.

O porto também garantiu que as ambulâncias que atenderam a ocorrência são equipadas com todo o aparato necessário em emergências, inclusive cilindro de oxigênio.

“O atendimento foi realizado com agilidade, tanto assim que as vítimas foram resgatadas em processo de reanimação e uma delas foi reanimada. Infelizmente, três delas faleceram, não por conta do processo de resgate, e sim pela gravidade do acidente”, diz a nota.

O acidente

Os trabalhadores estavam no porão do navio, trabalhando na retirada da madeira. Clóvis Lira foi o primeiro a desmaiar. Adenilson de Carvalho e Luiz Carlos Milagres tentaram socorrer o colega mas também desmaiaram no porão.

Os três foram levados para o Hospital São Camilo, mas já chegaram sem vida. O estivador Vitor Olmo também desmaiou no porão do navio, mas sobreviveu.

O gás

O químico Gilberto Maia de Brito explicou que, a princípio, o gás sulfídrico pode ter causado as mortes. Esse gás é resultado da decomposição de matéria orgânica. Por isso, pode ter sido liberado pela decomposição da própria madeira, ou pode ser fruto de algum tipo de produto químico aplicado nela.

De acordo com ele, em concentrações menores, o gás tem cheiro de ovo podre e não é letal ao ser humano. No entanto, em concentrações maiores, o gás inibe o olfato, dificulta a visualização e pode matar uma pessoa em questão de segundos.

Por meio de nota, o Portocel informou que a madeira é transportada in natura, sem adição de qualquer tipo de produto ou tratamento químico, pois a destinação final das toras é a produção de celulose.

 

Investigação

O Ministério Público começou a investigar as causas do acidente no porão do navio.

“A gente faz análise do local de trabalho. Tem que analisar toda a documentação da empresa, prevenção de risco ambiental, entrevistar trabalhadores, equipes especializadas. Nosso objeto é a atuação humana, as condições de trabalho dos cidadãos que atuam naquela determinada operação” disse.

O Ministério Público do Trabalho (MPT-ES) disse que os trabalhos de investigação foram atribuídos à unidade do MPT em Colatina.

“O procedimento de investigação será instruído com relatórios de perícias técnicas a serem elaboradas pela Superintendência Regional do Trabalho (SRT), pela Polícia Judiciária e por outras equipes técnicas especializadas em segurança e medicina do trabalho”, disse.

Em nota, a Marinha disse que as causas e responsabilidades sobre o fato serão apuradas em inquérito que será instaurado pelo órgão.