Floriano Carlos Martins Pires Jr, professor do Programa de Engenharia Oceanica – COPPE – UFRJ

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A entrega da sondas no prazo será um enorme desafio para os novos estaleiros. O senhor acredita que a indústria naval brasileira conseguirá cumprir esses prazos?

Acredito. Entretanto, como você diz, é um enorme desafio. Se não forem estabelecidas, urgentemente, ações integradas de capacitação tecnológica e de recursos humanos, e se a implantação de novos estaleiros não seguir uma estratégia racional, o risco será extremamente elevado.

 

Quais os gargalos que devem ser superados para que isso ocorra?

 

Recursos humanos qualificados, capacitação tecnológica e gerencial, estrutura da cadeia de fornecedores.

 

Com o preço baixo dos navios construídos no exterior e a ociosidade de alguns estaleiros nacionais, o desafio não se torna maior?

 

Sim. A comparação com preços e prazos de entrega fica mais desfavorável para a indústria nacional.

Quais os países que servem como referência para o Brasil na área da indústria naval?

 

Os principais produtores são Coréia, China e Japão. No caso de plataformas, podemos incluir Cingapura. Mas há um grupo de países emergentes, como o Brasil, na construção naval, que têm perspectivas de expansão, em condições mais parecidas com a brasileira: Vietnam, Indonésia, India, etc.

 

Está claro que a sustentabilidade da construção naval brasileira ainda depende de fatores como investimentos em pesquisa e desenvolvimento e a formação de recursos humanos, atrelados às políticas para o setor. O que o Brasil tem que fazer para reverter esse quadro?

Implantar uma política afirmativa de capacitação tecnológica e de formação de recursos humanos, integrada às políticas de financiamento, contratação e estímulo a implantação de novos estaleiros. Introduzir critérios de desempenho (custo, produtividade e prazo de produção) na concessão de financiamentos e no acompanhamento de projetos e programas.Privilegiar o fortalecimento/adensamento dos polos existentes de construção naval, evitando implantação de novos projetos fora desses polos.

A indústria naval brasileira tem potencial para tornar-se competitiva internacionalmente.

 

 

Em quanto tempo o senhor acha que o Brasil vai alcançar os padrões de desempenho comparáveis aos internacionais?

No cenário de uma nova política nacional de construção naval, o prazo poderia ser de cinco a 10 anos.

 

A dispersão geográfica dos estaleiros, com um em cada lugar, não é um fator complicador para o Brasil no futuro?

Sim. O principal erro nas decisões governamentais que temos testemunhado,indica falta de entendimento da dinâmica do setor, pelos decisores mais importantes.

 

No seu entendimento o correto, o mais viável, não deveria ser fortalecido os polos já existentes com maior volume de investimentos?

Sem dúvida.

É inegável que a indústria naval brasileira foi retomada, mas os custos são altos para a construção de navios, em comparação a concorrentes internacionais. Isso não seria um grande agravante?

 

A indústria naval brasileira tem potencial para tornar-se competitiva internacionalmente. Certamente maior do que diversos outros setores econômicos, que são permanentemente protegidos no Brasil.Entretanto, após longo período de desativação, é inevitável um período de evolução gradual até que sejam atingidos padrões de desempenho minimamente competitivos.

 

Com tantas encomendas e investimentos, não seria a hora de fortalecer a cabotagem no Brasil, seguindo até um novo modelo que vai ocorrer no Rio Grande do Sul com a criação do Polo Naval do Jacuí? O que deve ser feito nesse sentido para evitar erros do passado?

O desenvolvimento da cabotagem no Brasil dependerá da evolução do sistema logístico como um todo.

Hoje no Brasil o cenário é otimista, mas no futuro próximo o perfil do trabalhador não poderá mudar (com novas características), exigindo cada vez mais a qualificação?

Sim. O desafio é atender, em quantidade, a demanda presente de trabalhadores, e, ao mesmo tempo, investir na formação dos trabalhadores que serão requeridos num patamar mais avançado do setor.O perfil de recursos humanos nos estaleiros mais competitivos do mundo é muito diferente do que se encontra no Brasil. Investir HOJE pesadamente em formação técnica de nível médio é uma necessidade para viabilizar a sustentabilidade da indústria naval no FUTURO (próximo).