>Faxina no fundo mar

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por Diniz Júnior com fotos de Guga VW

_MG_2238 A dragagem em Rio Grande vai ampliar em 30% a capacidade de movimentação de cargas

Desde agosto deste ano, a dragagem está sendo feita nos canais de acesso ao porto gaúcho. Com esta obra, a profundidade do canal de acesso ao porto passará dos 14 para 18 metros no canal externo (fora dos Molhes da Barra) e de 14 para 16 metros no interno (entre os Molhes e o Píer Petroleiro).

O consórcio da Jan de Nul e Odebrecht foi contratado pelo Ministério dos Portos para realizar o serviço, que consiste num investimento de R$ 196 milhões, dos quais R$ 147 milhões provenientes do governo federal, por meio do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), e R$ 48,5 milhões de contrapartida do Governo do Estado.

O aprofundamento do canal possibilitará que os grandes navios (Pós-_MG_2311Panamax) que já operam em Rio Grande e não utilizam sua capacidade máxima de carga devido ao calado atual, possam completar sua carga, o que reduzirá significativamente os custos de frete. Esses navios operam com carga média de 60 mil toneladas. “Com a dragagem, Rio Grande se credencia para ser um hub port (porto concentrador) de cargas para o Brasil, Argentina e Uruguai”, diz o diretor da Odebrecht Serviços de Engenharia, Mauro Darzé. No cais público, a dragagem prevista pelo Estado aumentará a capacidade de carga das embarcações de 40 mil para quase 60 mil toneladas.

A responsável pela limpeza dos canais é uma gigante que tem 157, 7 metros de comprimento e 27,8 metros de largura. Conta com dois tubos de sucção com 1,1 metro de diâmetro, podendo dragar a uma profundidade máxima de 54,5 metros.

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A draga Juan Sebastián de Elcano foi construída na Espanha e é a maior em operação na América Latina. Ela deverá trabalhar por um ano, tirando 450 mil metros cúbicos de sedimentos por semana. Cerca de 18 milhões de metros cúbicos estão sendo lançados a 20 quilômetros do canal, em alto mar. “ É a maior operação de dragagem já efetuada no Brasil, com recursos do PAC”, comenta o holandês Marcos Roks, diretor comercial da Jan de Nul no Brasil.

Com capacidade de armazenar 16,5 mil metros cúbicos de sedimentos extraídos do fundo do mar por dois grandes aspiradores, a embarcação faz doze viagens por dia do ponto de escavação ao local onde o material é descarregado, a 20 quilômetros da costa.

A tripulação da Juan Sebastián de Elcano é formada por 32 pessoas que se revezam em três turnos durante 24 horas por dia, sete dias por semana.

Os 15 brasileiros, todos gaúchos das cidades de Rio Grande, Pelotas e São Lourenço do Sul, ficam três semanas a bordo e três em terra, enquanto 18 belgas, holandeses e croatas cumprem períodos de seis semanas na draga e o mesmo intervalo em seus países de origem. Para suportar o isolamento prolongado, dispõem de uma boa infraestrutura, com alojamentos individuais, academia de ginástica, restaurante e até um “pub” para descontrair. Apesar das várias nacionalidades, o idioma que predomina é o inglês.

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No comando da logística operacional, está o argentino Martin Urbieta, engenheiro de 26 anos, há um ano na Jan de Nul. Segundo ele é necessário muita organização e precisão para atender escalas de serviços, fornecimento da alimentação para a draga e tudo que se refere a parte operacional. “É um trabalho desafiador e interessante”, revelou o argentino da Província de Formosa.

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Com 30 anos de experiência no comando de dragas, e no currículo dragagens nos principais portos da Europa, o holandês Cornelis Goedknegt, de 53 anos fala com orgulho do trabalho. Para ele, o maior desafio na dragagem do porto gaúcho, é realizar o trabalho de profundidade e ao mesmo tempo controlar as mudanças repentinas dos ventos e das marés.

“ A atenção tem que ser redobrada, por causa do movimento intenso de entrada e saída de navios”, disse Goedknegt. Apesar da maioria da tripulação ser europeia, o comandante destaca a troca de experiências. “ Estamos aprendendo algumas palavras em português e os brasileiros estão aprendendo a falar inglês. É uma verdadeira torre de babel”, concluiu o holandês.

_MG_1903 Na faxina realizada no fundo do mar, nada escapa da potente draga que tem um gerador capaz de fornecer energia elétrica para uma cidade com cerca de 300 mil habitantes. Em apenas uma hora de navegação, foram retirados dos canais grande quantidade de lixo como redes de pesca, hélices de navios, pneus, restos de embarcações e cordas.

Obs.: A reportagem impressa está na Revista Conexão Marítima (www .conexaomaritima.com.br)

jandenul_[1] http://www.jandenul.com/