Estaleiros do polo naval terão ao menos 1,5 mil demissões até o fim de outubro

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Estaleiro EBR, em São José do Norte, tem atualmente 2,8 mil trabalhadores, dos quais 500 devem ser demitidos na próxima semana

Sem novas encomendas à vista e com o trabalho hoje em execução chegando ao fim, dois estaleiros do polo naval do Sul do Estado devem demitir ao menos 1,5 mil pessoas no prazo de um mês. Em São José do Norte, o EBR está terminando a instalação dos módulos da plataforma P-74 e, com isso, cerca de 500 operários devem ser dispensados na próxima semana, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande, que diz ter sido informado pela própria empresa.

O empreendimento, conforme a entidade, soma hoje cerca de 2,8 mil empregados. Como a plataforma será entregue em janeiro e não há novos contratos, os demais trabalhadores devem ter o mesmo destino. A EBR não se manifesta.

Na vizinha Rio Grande, a situação é parecida. O estaleiro QGI tem previsão de terminar no final de outubro a montagem dos módulos das plataformas P-75 e P-77. Ainda há com a Petrobras contrato para integrar os módulos aos cascos, mas não há previsão de quando isso irá acontecer. Os cascos, atrasados há mais de um ano, passam por conversão na China e não há certeza de quando devem chegar a Rio Grande. Com isso, dos 1,2 mil trabalhadores da empresa, cerca de mil devem ser dispensados até o encerramento do próximo mês. Ocupados com tarefas administrativas e manutenção do canteiro, outros 200 devem permanecer.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande, Benito Gonçalves, sustenta ainda que os módulos de uma das plataformas podem ser levados para a China. Com isso, apenas uma delas seria finalizada na cidade. Mas há outra versão: os módulos que serão embarcados para a Ásia estariam apenas depositados no canteiro da empresa pela Petrobras e não fariam parte da encomendas da QGI.

— De qualquer forma, mesmo que os cascos venham, é trabalho para dois meses e acabou. É o fim do polo naval — lamenta Gonçalves.

Embora não exista previsão de quando os cascos aportam em Rio Grande, a chegada de pelo menos um garantiria a recontratação de pelo menos 700 pessoas. Se os dois chegassem ao mesmo tempo, o número seria maior. Mesmo assim, por poucos meses.

O quadro de desânimo se repete no estaleiro Rio Grande, operado pela Ecovix, empresa em recuperação judicial. No local, também restam apenas 200 pessoas trabalhando na manutenção do canteiro após a Petrobras levar a construção de cascos para a Ásia e rescindir contratos. Havia a reivindicação para que a petroleira aproveitasse a P-71, com mais da metade do casco concluído no dique seco. Mas a decisão da estatal foi outra. O aço no canteiro, da P-71 e P-72, acabou vendido como sucata. O corte das chapas, pelo menos, gerou cerca de 100 empregos.

O vice-reitor da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Danilo Giroldo, também presidente do Arranjo Produtivo Local (APL) Polo Naval e de Energia, ainda espera que, após o fim das discussões sobre o mínimo de conteúdo local para as plataformas a serem contratadas para exploração de petróleo no Brasil nos próximos anos, os estaleiros da região ganhem novo fôlego.

Sonho e frustração

  • – O polo naval do Sul do Estado já movimentou de forma direta R$ 15,9 bilhões. Cerca de R$ 2,4 bilhões na construção dos estaleiros e outros R$ 13,5 bilhões de contratos de cascos e plataformas.
  • – O auge da movimentação foi em 2013. À época, eram mais de 20 mil pessoas diretamente empregadas no estaleiros. Hoje são pouco mais de quatro mil e há o risco de todos os postos acabarem eliminados se novas encomendas não forem feitas.
  • – Os problemas começaram com a crise financeira da Petrobras e se agravaram após a descobertas de casos de corrupção envolvendo os contratos da Petrobras com os estaleiros.
  • – A Petrobras também alega que as encomendas no Brasil são mais caras e demoradas. Por isso, tem priorizado contratos na Ásia.
 Fonte Gaúcha ZH

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