Efeito causado por bancos pode provocar encalhes, analisa comandante

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Capitão de longo curso acredita que encalhe do mega navio em Suez pode ter sido causado por falha humana, e não pelos fortes ventos que teriam provocado o deslocamento cargueiro ao atingir sua área vélica

Efeitos dinâmicos causados por bancos de areia podem ocasionar encalhes como o que ocorreu, no último dia 23 de março, com o porta-contêineres Ever Given, no Canal de Suez. O capitão de longo curso, Lupércio Araújo, comandante com mais de 30 anos de experiência, acredita que, pelas informações preliminares, o encalhe do cargueiro pode ter sido causado por falha humana, e não pelos fortes ventos que teriam provocado o deslocamento do mega navio ao atingir sua área vélica. O navio, com 20 mil TEUs de capacidade nominal, tem 400 metros de comprimento e pesa mais de 200 mil toneladas.

Para o comandante, essa é uma razão plausível que descreve que as dificuldades são mais complexas na vida real do que é percebido olhando de fora. Ele observa que, na navegação com um rumo paralelo à margem de um rio ou um canal, podem surgir pressões assimétricas em toda a carena — parte do casco que fica submersa, afetando imediatamente o governo do navio. Lupércio explicou que, supondo dois navios parados e uma massa d’água deslocando-se no sentido de proa-popa, ambas embarcações tendem a se aproximar, devido às pressões laterais externas, ao passo que as proas tendem a se afastar.

Segundo o comandante, também é possível imaginar um navio como a imagem refletida do outro e o espelho como um plano que dividisse ambas as imagens simetricamente. Se, no lugar do espelho, for considerada uma parede ou um banco vertical, o efeito hidrodinâmico não sofre alterações, o navio é empurrado para o banco e a proa tenderá a separar-se dele. “Claramente, a navegação ao longo da linha equidistante às margens, meio do banco, deveria evitar o efeito dos bancos, pois os mesmos seriam cancelados por simetria. Porém, isso seria verdade se, e somente se, o banco fosse uniforme. Para se compensar esta guinada, o leme deve ser posicionado com um determinado ângulo para o mesmo bordo da margem”, analisou Lupércio.

O comandante ressaltou que, quando os navios navegam com determinada velocidade em águas restritas e mar aberto, não com a mesma intensidade das águas restritas, seus campos de pressão podem combinar-se e causar um deslocamento lateral nas embarcações, muitas vezes indesejados e catastróficos. O fenômeno é chamado de interação. Lupércio citou o teorema de Bernoulli, o qual diz que uma embarcação está sujeita, hidrodinamicamente, a duas pressões no mar: pressão dinâmica e pressão estática. “Esse campo de pressões ao redor do navio gera forças distribuídas quase uniformemente ao longo das obras vivas, ou carena. Quando esses campos de pressões interagem, denominamos interação”, destacou.

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