Dono da Engevix prometeu delatar Temer em 2016, mas desistiu

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Homologada no ano passado, colaboração de José Antunes Sobrinho também contribuiu para prisão do político do PMDB

Preso pela primeira vez em setembro de 2015 durante a 19ª fase da Operação Lava-Jato , o engenheiro José Antunes Sobrinho decidiu, em janeiro de 2016, que seria colaborador das investigações. Ele tinha nas mãos, já naquela época, um trunfo capaz de explodir o movimento em curso pela deposição da presidente Dilma Rousseff (PT) e a ascensão do vice Michel Temer ao cargo. Sobrinho apresentava provas de que pagou R$ 1,1 milhão ao coronel Lima, interlocutor de Temer em São Paulo. O dinheiro era uma forma de agradecimento pela participação da Engevix em um contrato de R$ 162 milhões da Eletronuclear , referente à construção da usina de Angra 3.

Sobrinho assinou acordo de confidencialidade e apresentou aos procuradores da Lava-Jato, em Curitiba, pelo menos três propostas, onde citava principalmente políticos e operadores do PT e do PMDB. Ficou pouco tempo preso, porque seus advogados conseguiram a conversão em prisão domiciliar. Na primeira investigação contra ele, foi denunciado por suspeita de pagamento de propina ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, em troca de favorecimento à empresa em contratos da Petrobras.

Depois de ser absolvido neste processo, por falta de provas, sua defesa informou, em junho de 2016, que ele desistia da delação, surpreendendo integrantes da força-tarefa que negociavam o acordo. A decisão unilateral gerou desconfiança, em especial pelo contexto político. Na época, o processo de impeachment já havia sido aceito pela Câmara dos Deputados, Temer já era presidente interino e estava cada vez mais perto de ser confirmado no posto em votação do Senado.

Em sua tentativa de acordo, Sobrinho contava ter ido duas vezes ao escritório de Temer no Itaim Bibi, em São Paulo, acompanhado de um dos donos da empresa Argeplan, o coronel da PM João Baptista Lima Filho, que ele trata como “pessoa de total confiança de Michel Temer”, para tratar de contratos na Eletronuclear. Por meio de uma parceria com um fornecedor internacional, a AF Consult, Lima conseguiu em 2012 um contrato de R$ 162 milhões na estatal e subcontratou a Engevix para realizar a obra.

Depois dos encontros com o político do PMDB, Sobrinho diz ter sido cobrado por Baptista a pagar R$ 1 milhão de propina. De acordo com executivo, o pagamento foi realizado por meio de uma fornecedora da Engevix. Com o avanço da Lava-Jato, em 2014, Lima teria tentado devolver o valor a Sobrinho, mas ele não aceitou. O executivo disse que Temer era o padrinho do ex-presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, acusado de receber propina, em processo também investigado na Lava-Jato.

Atualmente, Sobrinho trabalha para tentar reerguer a Engevix, empresa a qual se dedica desde os anos 80. Era diretor quando, e 1996, o proprietário resolveu vendê-la aos funcionários que tivessem interesse. Nesta época, virou dono, junto com dois colegas. Por causa da Lava-Jato, teve contas na Suíça bloqueadas. A pressão sobre o político do PMDB. Depois disso, Sobrinho voltou a conversar com a PGR. Em outubro do ano passado, o ministro do STF, Luís Roberto Barroso, homologou sua colaboração, também citada como peça fundamental para a prisão do ex-presidente nesta quinta.