Conheça a nova casa do Brasil na Antártida

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     Mudança de casa. Antiga moradia formada por contêineres-1984
No mesmo local uma moderna estação com com 4,5 mil m². É quase o dobro da antiga, que tinha 2,6 mil m². A nova estação custou US$ 99,6 milhões – 2020       Foto Guga Volks

por Diniz Júnior / Expedição Bravo Zulu

Endereço: Ilha do Rei George, a 130 quilômetros da Península Antártica, na baía do Almirantado. Latitude 62°05′12″ S   Longitude: 58°23′31″ O

Habitantes: 16 militares da Marinha do Brasil e inúmeros animais marinhos e aves (petréis, focas, baleias, pinguins, elefantes marinhos e leões marinhos, etc…

Esta reportagem abre uma série, até o próximo sábado (18) preparadas pelo jornalista Diniz Júnior que participou de parte da 38 Operação Antártica, a bordo do navio Polar Almirante Maximiano da Fonseca e produziu a série BRAVO ZULU. Dela ainda sairão um livro, uma exposição fotográfica e um videocumentário.

Uma comitiva com 45 autoridades, militares, pesquisadores e assessores  aguardam na cidade de Punta Arenas a melhora do tempo para embarcar no avião Hércules C 130 para participar da reinauguração da estação Comandante Ferraz na Antártida amanhã às 17 horas. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desistiu de ir. Será substituído pelo vice, Hamilton Mourão. Três ministros também confirmaram presença: Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), Fernando Azevedo e Silva (Defesa) e Marcos Pontes (Ciência). Na inauguração, será feita a entrega provisória da estação pela empresa chinesa – a definitiva só deve ocorrer com o fim do pagamento, previsto em contrato para 2022. Segundo a Marinha, US$ 60 milhões já foram pagos.

A nova estação brasileira hoje é a maior estrutura de pesquisas da Península Antártica. E certamente está entre as três maiores estações de pesquisa antártica do mundo. São 17 laboratórios de pesquisa – 14 internos e 3 externos, que servirão principalmente para estudos de Microbiologia, Biologia Molecular, Química Atmosférica, Medicina, Ecologia e mudanças ambientais.

Planejada pelo escritório de arquitetura Estúdio 41 e construída pela chinesa Ceiec, vencedora de concorrência internacional, a nova estação custou US$ 99,6 milhões e impressiona pela estrutura à prova de ventos de até 200 km/h, solos congelados e abalos sísmicos. A nova estação foi construída no mesmo local da estrutura antiga, instalada em 1984. A primeira estação abrigou pesquisadores até fevereiro de 2012. Um incêndio onde ficavam os geradores de energia, destruiu quase toda a estrutura e provocou a morte de dois militares.

Nova estação na Antártida qualifica o Brasil no cenário científico

Para o Capitão de Fragata Rodrigo kristoschek da Secretaria da Comissão Interministerial para os recursos do Mar (Secirm), as capacidades de apoio que a nova estação vai proporcionar são muito superiores em relação à antiga. Segundo ele tecnologicamente Comandante Ferraz é uma das mais modernas, se não for a mais moderna, que está instalada no continente antártico. “É uma referência na parte ecologicamente correta, geração de energia, tratamento de resíduos. Ela vai proporcionar aos pesquisadores todas as facilidades para atuarem neste local. A capacidade para receber as pessoas é a mesma da Estação antiga, mas as facilidades são inúmeras e coloca o Programa Antártico Brasileiro em outro patamar mostrando a capacidade do Brasil de fazer pesquisas e ficar na Antártida realizando pesquisas de alto nível”, analisou Kristoschek em entrevista concedida a bordo do navio Polar Almirante Maximiano da Fonseca em novembro de 2019 durante a realização da 38 OPERANTAR.

O local foi projetado para suportar as condições extremas de clima no local, que pode chegar a temperaturas abaixo de -50°C. Por isso, a estação possui pilares de sustentação pesando até 70 toneladas para que a estrutura fique a mais de três metros do solo e longe da neve. “O Brasil é um país tropical, então não estamos acostumados com essas condições”, disse Emerson Vidigal, um dos responsáveis pelo projeto.

A nova Estação receberá profissionais que atuam no Programa Antártico Brasileiro, o Proantar, criado em 1982 para desenvolver as pesquisas nas áreas de oceanografia, biologia, glaciologia e meteorologia. As pesquisas na Antártida são divididas da seguinte forma:

40% são realizados no oceano a bordo do navio Polar Almirante Maximiano da Fonseca;

25% na Estação Comandante Ferraz;

20% em acampamentos instalados em diferentes regiões da Antártida;

15% são feitas no módulo Criosfera 1, instalado no continente antártico, a cerca de 2,5 quilômetros da estação.

 MAIS INFORMAÇÕES ACESSE

https://www.mar.mil.br/estacao-antartica/

QUEM FOI FERRAZ

Luís Antônio de Carvalho Ferraz, o Comandante Ferraz, (São Luís do Maranhão, 21 de fevereiro de 1940) foi um militar, engenheiro, hidrógrafo e oceanógrafo, pioneiro brasileiro da exploração da Antártica.

Capitão-de-fragata da Marinha do Brasil (patente equivalente a tenente-coronel nas outras forças) visitou o continente antártico por duas vezes a bordo de navios britânicos. A primeira foi em 1975, como tripulante das embarcações Bransfiels e Endurance, depois de ter ido ao polo norte. Ferraz desempenhou importante papel ao persuadir o Brasil a desenvolver um programa antártico, participando da subcomissão encarregada de elaborar o PROANTAR (Programa Antártico Brasileiro), sob responsabilidade da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM)

Em homenagem póstuma ao seu legado a base brasileira na Antártica foi batizada com seu nome: Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) . Ferraz morreu subitamente, aos 42 anos, enquanto participava da V Assembleia Oceanográfica Conjunta e da Reunião Geral do Comitê Científico para Pesquisas Oceanográficas, em Halifax, no Canadá, quatro meses antes da partida da primeira expedição brasileira à Antártica.

GALERIA DE FOTOS  / GUGA VOLKS EXPEDIÇÃO BRAVO ZULU

 

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