Como a Petrobras sobreviveria numa economia de baixo carbono?

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Plataforma de petróleo da Petrobras. A companhia deveria investir mais em outras fontes de energia? (Foto: Rich Press/Getty Images)

A Petrobras deu um passo  importante em direção à recuperação de sua credibilidade com a publicação de seu balanço auditado de 2014. Ele  mostra um prejuízo total de R$ 21,6 bilhões e uma baixa nos ativos de R$ 44 bilhões que, segundo analistas, veio de ajustes de investimentos que não serão recuperados em virtude de mudanças no ambiente de mercado, como preços de matéria-prima e câmbio, entre outros fatores.  Apesar dos números, foi positivo por permitir a criação de um ambiente de maior transparência e confiança.

No entanto, este ímpeto de transparência precisa ser estendido também a questões estratégicas geralmente não consideradas nos balanços financeiros. Por exemplo, quais serão os critérios de longo prazo que definirão os investimentos da Petrobras?

O futuro das empresas que atuam com combustíveis fósseis, e especificamente o da Petrobras, é bastante incerto no contexto de alta variabilidade dos preços internacionais do petróleo e de constante queda nos preços das fontes renováveis de energia. Tanto que, neste momento, registra-se um crescimento estonteante na participação de mercado da energia solar e eólica, uma vez chamadas de alternativas, mas que hoje compõem o segmento que mais avança no setor energético internacional.

Não é conversa de ambientalista. O HSBC publicou recentemente  um relatório no qual afirma que as empresas que operam com combustíveis fósseis, ou alguns de seus ativos, vão se tornar “inviáveis”.  E isto não vai acontecer somente devido às ações para a proteção do clima, mas também em razão das mudanças econômicas e do impacto de novas tecnologias, como a solar e a eólica.

>> O que aconteceria com o clima se as empresas de petróleo explorarem suas reservas?

É importante, então, que os acionistas da Petrobras, e todos os brasileiros, que de uma forma ou outra apostaram na empresa, estejam protegidos contra os efeitos comerciais de uma transição energética. E isso só será possível se a gestão da empresa abordar o impacto das políticas de combate às mudanças climáticas e tomar medidas para mitigá-los.

O aquecimento global não deve ser tratado de maneira diferente de outros riscos da indústria, como variações de preços no mercado internacional, câmbio, custos excessivos, atrasos de projeto, mudanças políticas potenciais e incertezas fiscais.

Este cenário de transição energética, aliás, pode representar uma grande oportunidade para a empresa, dado o grande potencial do Brasil em energia renováveis.

Mas não há tempo a perder. A Petrobras tem de aproveitar este momento para se reposicionar no mercado. Deve decidir se quer continuar sendo simplesmente uma empresa de petróleo, atrelada portanto a um mercado fincado no passado, ou se vai se consolidar como uma empresa provedora de soluções de energia, aberta às múltiplas e promissoras possibilidades oferecidas pelas fontes de energia renovável, como a solar e a eólica.

* Ricardo Scacchetti, engenheiro com mestrado em economia e gestão ambiental, é diretor do Instituto Ekos Brasil.