Com Joe Biden, indústria brasileira vê chances de novos acordos

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Em outubro deste ano, os EUA anunciaram a imposição de tarifas de US$ 1,96 bilhão em produtos de folha de alumínio importados de 18 países, entre eles o Brasil.

A vitória do democrata Joe Biden para a Casa Branca animou setores da indústria brasileira, que veem chance de o presidente eleito dos Estados Unidos reverter decisões tomadas por Donald Trump que restringiram o acesso de produtos brasileiros ao mercado americano.

O setor de alumínio, que sofre com a imposição de tarifas por parte do governo americano, acredita que Biden dará maior previsibilidade ao comércio internacional. Em outubro deste ano, os EUA anunciaram a imposição de tarifas de US$ 1,96 bilhão em produtos de folha de alumínio importados de 18 países, entre eles o Brasil.

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O presidente-executivo da Associação Brasileira de Alumínio (Abal), Milton Rego, avalia que, até março, quando termina a investigação do governo americano sobre se essas economias exportam os bens a preços inferiores aos valores de mercado para prejudicar o produto americano, não haverá mudança. Por outro lado, vê chance de aumento do consumo do produto por conta da agenda ambiental de Biden:

EUA: Trump reduz cota de importação de aço brasileiro em quase 83% no 4º tri

— Do ponto de vista do setor de alumínio, o positivo é que a agenda democrata é muito mais pró-economia verde e sustentabilidade. E todas essas coisas aumentam a demanda por alumínio. Isso mais cedo ou mais tarde vai ser precificado.

O aço também passa por restrições para ser exportado para os EUA. Neste caso, há cotas. O Brasil pode exportar 3,5 milhões de toneladas de aço semiacabado para o mercado americano por ano. Acordo fechado em 2018 determinou um limite de até 30% deste total por trimestre. Neste último trimestre, porém, Trump reduziu a cota de importação do aço brasileiro em 83%.

O Instituto Aço Brasil, que reúne as siderúrgicas brasileiras, vai buscar junto ao novo governo americano o fim das cotas para o produto semiacabado, argumentando que essa é uma matéria-prima fundamental para a indústria americana.

— A expectativa é que a gente possa tentar manter contato com a nova administração para ver se retira o Brasil dessa restrição. Se não for possível o todo, que pelo menos tire o semiacabado — disse o presidente do Aço Brasil, Marco Polo Mello, citando que o Brasil é maior importador de carvão metalúrgico dos EUA, com US$ 1 bilhão por ano.

Para o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Alceu Moreira (MDB-RS), a vitória do democrata deve contribuir para a acomodação do dólar, o que pode ser positivo para o setor. Ele argumenta que os impactos dependerão da habilidade diplomática do Brasil com seu parceiro comercial histórico:

— Não teremos com a eleição do Biden um cenário que seja conhecido imediatamente, é um corpo multilateral com muitos interesses. Terão setores que serão beneficiados, outros serão prejudicados. O que se precisa agora é de uma diplomacia altamente qualificada e tratar dessa questão no grau de interesse. Países não têm amigos, países têm interesses. (É preciso) Parar de fazer discurso ideológico e tratar dos interesses nacionais.

Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) considera que a vitória de Biden “permitirá a continuidade das negociações dos acordos bilaterais entre Brasil e Estados Unidos”, já que, durante a presidência de Barack Obama, da qual Biden foi vice, agendas importantes avançaram, como acordos de “céus abertos”, previdenciário e de cooperação econômica e comercial.

“Esperamos que essa agenda seja acelerada nos próximos anos”, afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, no texto.

Maior previsibilidade

Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e sócio da consultoria BMJ Consultores Associados, observa que a principal caraterística da eleição do democrata é a previsibilidade:

— Ele vai ser um presidente muito mais previsível, ortodoxo e político. Isso traz mais estabilidade para o mundo. E a relação com o Brasil é muito estável, sendo muito difícil um grande aumento ou grande queda de comércio.

Fonte: O Globo