Cidades portuárias: as joias da Coroa

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Halifax tem o 3º porto mais importante do país, que é chamado pelos canadenses de “The Canadian Ocean Playground”

Reportagem e fotos Diniz Júnior

 Em nossa missão jornalística ao Canadá no ano passado conhecemos um país muito interessante sob vários pontos: cultural, econômico, educacional, social e político. Visitamos várias províncias, e cidades como Belledune, Saint John, Saint John’s, Halifax. Todas respiram frutos do mar. Foi Halifax, que pelo menos a mim, chamou mais a atenção. Por lá, os locais que visitamos restaurantes, pubs,portos, aeroportos, em tudo, os pratos são a base de lagostas, ostras, salmão, e a preços bem acessíveis. Nos aeroportos regionais é comum ver enormes tanques com lagostas vivas. Para voos de 3 horas as pessoas levam em caixas lagostas fresquinhas. Muito legal isso. A cidade respira também o seu porto. Tudo é feito pensando no porto que por lá é a joia da coroa.

Caminhando pela zona portuária, que margeia a cidade, lembro das zonas portuárias em nosso Brasil. Nada se assemelha ao que vimos por aqui. Evidente que a questão é cultural, mas os governos em todas as esferas poderiam dar mais atenção.  Esquecidas e desprezadas, as zonas portuárias no mundo em geral, mas especialmente no Brasil, eram redutos de prostituição, cheia de cortiços e de sujeira. Halifax soube resgatar bem a sua história portuária e integrá-la a cidade, como em todas as localidades que visitamos no chamado Canadá Atlântico.

Halifax esta localizada em Nova Scotia (Nova Escócia). É uma cidade que é pouco conhecida aqui no Brasil. Fica na costa leste na Província de Nova Scotia. Essa parte do Canadá também é bem diferente das outras cidades já citadas. Halifax é pequena, interessante e bem moderna contando com inúmeras atrações e um estilo bem europeu sendo a cidade mais cosmopolita do leste canadense. Tem o 3º porto mais importante do país, o porto de Halifax e é chamada pelos canadenses de “The Canadian Ocean Playground”. O centro de Halifax não tem muitos prédios altos e é caracterizado pela existência de muitos prédios e construções antigas protegidas pelo governo.

No Brasil já existem alguns projetos parecidos. Com os Jogos Olímpicos de 2016, o Cais do Porto do Rio de Janeiro começa a renascer. Com suas obras de construção e restauração, tem tudo para seguir o caminho da Lapa, bairro carioca que ressuscitou e virou um charmoso endereço de boemia. O Museu de Arte do Rio (MAR) e a Escola do Olhar, primeira de ensino público de arte na cidade, já foram inaugurados e marca o início dessa nova fase no Rio.

Grandes eventos são ótimas oportunidades para municípios transformarem áreas degradadas, como costumam ser as portuárias. Barcelona é o exemplo clássico disso. Para a Olimpíada de 1992, os catalães modernizaram a região do Barcelona Port Vell para sediar a Vila Olímpica. Investimentos em urbanização, hotelaria e turismo foram às prioridades.

Voltamos ao Brasil. A Microsoft vai recuperar o prédio da primeira fábrica de gás do Rio para transformá-lo em um escritório de investimentos em novas empresas e o magnata americano Donald Trump erguerá cinco torres de 38 andares comerciais, ao estilo das Trump Towers espalhadas pelo mundo. A área ainda vai receber o Porto Olímpico, conjunto residencial que abrigará os árbitros durante os jogos do Rio e depois terá suas unidades postas à venda, a exemplo do que ocorreu em Barcelona.

Maquete do projeto do Rincão da Cebola em Rio Grande (RS). Promessas e promessas.

Enfim, há muito que ser feito pelas zonas portuárias brasileiras. O Rio deu o ponta pé inicial. Em Porto Alegre o projeto do Cais Mauá não sai do papel e se transforma em um sonho, fruto de pura politicagem e interesses. Políticos, não a grande maioria, não pensam no bem público, e sim no quanto vão ganhar. O projeto do Cais Mauá tem cerca de 30 anos. O mesmo ocorre em Rio Grande com o projeto de revitalização no Rincão da Cebola Entra e sai governo e sempre a mesma história. Reuniões intermináveis, e improdutivas Quem sabe a gente não é a hora de começarmos a ter o olhar dos canadenses, que elegeram seus portos “jardins de suas casas”? É o que escutei por lá em todas as palestras que assisti, em todos os lugares que visitei. Funciona assim em Hamburgo, na Alemanha, Amsterdã e Roterdã, na Holanda, Antuérpia, na Bélgica,enfim, na maioria das grandes cidades por esse mundo afora. Um olhar não só das comunidades, mas dos governantes, da iniciativa privada. Já é um belo e promissor começo. Afinal, é só um olhar.

Abaixo algumas fotos da área portuária de Halifax no Canadá.