Charqueadas amarga fechamento de indústrias

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A empresa já manifestou a intenção de interromper a operação em 31 de agosto por não conseguir conciliar eficiência e retorno financeiro / Fredy Vieira

por Jefferson Klein, Jornal do Comércio – RS
Com uma economia que, no passado, girava em torno do charque (o que lhe rendeu o nome), Charqueadas, que ficou conhecida por abrigar o maior complexo penitenciário do Estado, viu, ao longo dos anos, um leque de opções se abrir nas áreas de geração de energia e industrial – o município sedia players de peso, como Gerdau e GKN. Nos últimos anos, a cidade ensaiou um surto de desenvolvimento, com a possibilidade de aumentar a produção de eletricidade e com a instalação de um polo naval, às margens do rio Jacuí. No entanto, pouco a pouco, as iniciativas começaram a fazer água, e as expectativas foram naufragando. Agora, Charqueadas está prestes a ver um empreendimento cinquentenário dar adeus à cidade: a termelétrica a carvão da Tractebel tem dia e hora para fechar as portas.
A empresa já manifestou a intenção de interromper a operação em 31 de agosto por não conseguir conciliar eficiência e retorno financeiro. Apesar do impacto que a descontinuidade dessa usina implicará, essa não será a maior decepção na área de energia vivida pela comunidade local. Distante cerca de 60 quilômetros de Porto Alegre, quem chega a Charqueadas vindo da Capital pode logo perceber na entrada da cidade um esqueleto de dezenas de metros: a termelétrica Jacuí 1. A térmica teria 350 MW de capacidade instalada (cinco vezes mais do que a usina que ainda opera no município) e chegou a receber cerca de US$ 150 milhões em investimentos.
O empreendimento, que trocou de proprietários várias vezes, chegou a estar envolvido com um esquema de fraudes e nunca foi concluído. Mais recentemente, o fechamento do estaleiro da Iesa Óleo e Gás, companhia que sofreu com dificuldades financeiras e perdeu um contrato bilionário de módulos para plataformas de petróleo, feito com a Tupi BV (que tinha como acionistas a Petrobras, o BG Group e a Petrogal), ocasionou a demissão de cerca de 1 mil trabalhadores, em 2014. Agora, se confirmar a interrupção da térmica da Tractebel, a estimativa do Sindicato dos Mineiros do Rio Grande do Sul é que sejam desempregados em torno de 2,4 mil trabalhadores ao longo da cadeia produtiva.
O prefeito de Charqueadas, Davi Gilmar de Abreu Souza, admite que existe um clima de apreensão. O chefe do Executivo municipal enfatiza que se soma à crise econômica e política que o País atravessa os problemas locais. Souza diz que o município ainda não se recuperou do desfecho em relação à Iesa, que proporcionou uma enorme decepção quanto à perspectiva de formação de um verdadeiro polo naval na região. “Embora a Metasa esteja trabalhando, com muita dificuldade, não era o desenho que tínhamos para o polo naval”, aponta. A Metasa abriu uma planta na cidade com o principal objetivo de atender aos pedidos da Iesa.

Empresa reitera a intenção de desligar a usina

 De acordo com o diretor de Geração da Tractebel, José Laydner, a data de encerramento das atividades da usina de Charqueadas foi definida considerando todas as medidas necessárias para que aconteça de forma programada. “Até o momento, estas ações estão ocorrendo dentro do planejado, e, uma vez que esta data foi aprovada pelo Conselho de Administração da empresa, não vemos razões para alterar”, sustenta.
Em termos de operação do sistema, Laydner afirma que a geração da usina de Charqueadas não é necessária, conforme manifestação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O dirigente acrescenta que a companhia vê com naturalidade as manifestações e as preocupações das comunidades, sindicatos e políticos. “Informamos e explicamos, a todos, os nossos compromissos com os acionistas e que temos a responsabilidade de diminuir os riscos de uma operação prolongada de equipamentos tão antigos”, reforça.
A respeito da possibilidade de a Aneel exigir a continuidade do funcionamento da térmica, Laydner ressalta que a Tractebel está sujeita às determinações do agente regulador do setor elétrico. No caso da termelétrica de Charqueadas, a empresa solicitou à Aneel a revogação da outorga da usina e está aguardando o pronunciamento, mas não vê razões para que o pleito não seja atendido.