O lado ingrato do jornalismo investigativo em ‘Conspiração e Poder’

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Robert Redfort interpreta o veterano Dan Rather, anchor do Programa 60 Minutes, da emissora americana CBS News
Robert Redfort interpreta o veterano Dan Rather, anchor do Programa 60 Minutes, da emissora americana CBS News

O jornalismo investigativo voltou a ganhar destaque nos cinemas ao ser retratado em Spotlight – Segredos Revelados, eleito o melhor filme do ano pela Academia de Hollywood no Oscar. Assim, é quase impossível assistir a Conspiração e Poder, que estreia nesta quinta-feira no Brasil, sem pensar na premiada produção dirigida por Tom McCarthy. O novo longa, protagonizado por Cate Blanchett, também conta a história real de uma equipe de repórteres que decidem investigar um escândalo – no caso, um que envolve o ex-presidente americano George W. Bush. Existe uma importante diferença entre as duas tramas: Spotlight enaltece essa vertente jornalística e narra um caso de sucesso, enquanto Conspiração e Poder apresenta ao público o lado inglório e vulnerável da profissão.

No filme, Cate Blanchett interpreta Mary Mapes, produtora do programa 60 Minutes, da emissora americana CBS News. Junto com os jovens jornalistas Mike Smith (Topher Grace) e Lucy Scott (Elisabeth Moss), ela é responsável por todo o trabalho de bastidores da reportagem, ou seja, ir atrás de fatos, provas e fontes. Mas quem aparece diante das câmeras realizando as entrevistas é o veterano Dan Rather, interpretado por Robert Redfort, que também é o âncora da atração. Alguns meses antes reeleição do então presidente americano, George W. Bush, em 2004, a equipe buscava evidências sobre um escândalo envolvendo o republicano. Eles tentavam provar que, nos anos 1970, o político havia sido indicado à Força Aérea Nacional do Texas, mas não cumpriu o serviço por lá, para, assim, se livrar da Guerra do Vietnã.

Pressionados pelo prazo de entrega da reportagem, os jornalistas iniciam uma corrida contra o tempo para buscar fontes e provas da acusação, deixando pequenos detalhes passarem desapercebidos. O impacto da reportagem, exibida em rede nacional, é enorme, especialmente por se tratar do presidente dos Estados Unidos. Mas há uma reviravolta: a veracidade de alguns dos documentos apresentados passa a ser questionada pelo público e pela própria imprensa americana. E, assim, os jornalistas – e não mais George W. Bush – se tornam a manchete de diversos veículos de comunicação. Com dificuldade de comprovar a história, Mary vê ameaçada não só a sua carreira e a de seus colegas, mas também o posto de âncora de Dan Rather, a reputação da CBS News e a tranquilidade de suas fontes.

O longa marca a estreia como diretor de James Vanderbilt, roteirista de filmes como O Espetacular Homem Aranha (2012) e O Ataque (2013). A trama envolve um número grande de informações, nomes e datas, mas talvez a experiência de Vanderbilt com roteiro tenha ajudado a tornar o tema mais acessível ao público.

Conspiração e Poder se assemelha a Spotlight ​ao reforçar a importância do jornalismo investigativo para a sociedade – “Se você não fizer as perguntas, os americanos é quem saem perdendo”, diz Dan Rather para o iniciante Mike Smith em determinado momento. Além disso, o filme ressalta o valor do trabalho daqueles que atuam nos bastidores da notícia, em especial na televisão. A trama, porém, aborda um só ponto de vista, que é o de Mary Mapes – autora do livro Truth and Duty, que inspirou a produção. A protagonista é tratada como heroína, uma profissional incansável, que troca horas de sono e a convivência com marido e filho pelo trabalho. No entanto, a produtora comete falhas e lida com as consequências. Isso mostra que não é apenas de boas intenções que vive o jornalismo investigativo.