Aposta na área de construção naval frustra japoneses

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O maior problema dos estaleiros é a derrocada da Sete Brasil, empresa criada por uma associação da Petrobras com instituições financeiras para encomendar em estaleiros nacionais 29 sondas de perfuração para a área do pré-sal ao custo de US$ 30 bilhões/ Foto William Silva

Entre os principais investimentos de empresas do Japão no Brasil, o mais complicado está na área de construção naval, fortemente impactada pela crise da Petrobras pela Operação Lava-Jato. As japonesas IHI , Kawasaki e Mitsubishi investiram no total R$ 1 bilhão nos estaleiros Atlântico Sul (PE), Enseada (BA) e Rio Grande (RS).

O maior problema dos três estaleiros é a derrocada da Sete Brasil, empresa criada por uma associação da Petrobras com instituições financeiras, fundos de pensão e o fundo FI-FGTS para encomendar em estaleiros nacionais 29 sondas de perfuração para a área do pré-sal ao custo de US$ 30 bilhões. As sondas seriam construídas entre 2014 e 2018 e 28 delas seriam alugadas à Petrobras a valores em torno de US$ 450 mil por dia.

Um consórcio de bancos (Banco do Brasil, Caixa, Itaú, Bradesco e Santander) emprestou US$ 3,6 bilhões à Sete Brasil na expectativa de receber quando o BNDES liberasse o empréstimo de longo prazo para a empresa. Vieram a queda dos preços do petróleo e dos equipamentos de perfuração, a crise da Petrobras e a Lava-Jato. A Petrobras não aceitou pagar os alugueis originais, muito acima do valor de mercado, desistiu de pelo menos nove unidades e o BNDES recusou conceder o financiamento a longo prazo. A Sete Brasil entrou em crise e, com ela, os estaleiros que deixaram de receber valores pactuados.

Das 29 sondas, sete seriam feitas no Atlântico Sul, seis no Enseada e três no Rio Grande

Por falta de pagamento por parte da Sete Brasil, as obras do estaleiro Enseada, na Bahia, do qual a Kawasaki tem 30% (o restante foi dividido entre os grupos Odebrecht, OAS e UTC) foram paralisadas no começo do ano, quando 82% já estavam prontas e R$ 2,7 milhões dos R$ 3,2 bilhões previstos já tinham sido investidos, informa o diretor de Relações Institucionais e de Sustentabilidade da empresa, Humberto Rangel. Segundo ele, não há previsão de retomada.

Dados do Sindicato Nacional da Indústria de Construção Naval (Sinaval) indicam que cinco petroleiros do Atlântico Sul foram entregues entre maio de 2012 e maio deste ano. Diante da crise financeira da Petrobras, não é certo que o restante da encomenda de navios seja mantido. Em fevereiro o Atlântico Sul rompeu o contrato das sondas da Sete Brasil dada a inadimplência de US$ 125 milhões da contratante. Além do consórcio liderado pela IHI (33,3% do capital), o estaleiro de Pernambuco tem como sócios a Camargo Corrêa e a Queiróz Galvão. Já no Rio Grande, que tem 30% de capital japonês e 70% da Engevix, três das oito sondas previstas foram deslocadas para estaleiros no exterior.

Um grupo de trabalho criado por pressão dos sócios japoneses examina a situação dos três estaleiros, mas o clima é de total incerteza com relação ao futuro.

Fonte: Valor Econômico/Chico Santos | De São Paulo