Estive em duas oportunidades na Antártida a convite da Marinha Brasileira. Nas duas missões, não consegui visitar esse abrigo por causa das péssimas condições climáticas e que agora a Revista National Geographic retrata em uma série de fotos incríveis do abrigo antártico utilizado pela Expedição do inglês Robert Falcon Scott, batizada de “Terra Nova”, realizada entre 1910 e 1912, que pretendia ser a primeira a alcançar o Polo Sul.Scott alcançou seu intento em 17 de Janeiro de 1912 , mas seu rival norueguês Amundsen, que tinha mais conhecimentos sobre as latitudes polares e como sobreviver a elas, já tinha alcançado o Pólo em 14 de Dezembro de 1911, um mês antes, frustrando as expectativas inglesas. A história é incrível.
Durante o retorno, tempestades terríveis e temperaturas que só seriam registradas novamente 50 anos mais tarde fizeram com que todos os membros da expedição de Scott morressem de fome e frio, sendo que os últimos foram encontrados a poucos km de um depósito de suprimentos, selando a sorte da expedição inglesa. Durante a Expedição, em 1911, Scott utilizou um abrigo na Ilha de Ross (em local próximo de onde hoje se localiza a base americana de McMurdo, a maior do continente).
Apesar de outras equipes terem usado o abrigo até cerca de 50 anos atrás, ele permanece quase exatamente como foi deixado por eles a 100 anos atrás. O clima frio e seco da região manteve até os mantimentos deixados pela expedição em inacreditável estado de conservação.
O Polo Sul é cheio de histórias de superação, companheirismo e feitos incríveis. Se o final da história de Scott foi trágica, outras histórias tiveram finais felizes, como a fantástica história de Shackleton, que teve seu navio preso no gelo antártico e conseguiu salvar toda a sua tripulação, numa das maiores aventuras de todos os tempos.Parte dessa história está narrada no livro “O Endurance”, com tradução de Caroline Alexander.Em “O Endurance” (Planeta, 2015) – com o sub-título “Encurralados no gelo” -, Caroline dá-nos um relato fascinante da expedição de Shackleton, que entrou para a história como um dos maiores épicos de sobrevivência.Recomendo a leitura, li e reli várias vezes. Paralelamente ao relato de Caroline, o livro apresenta o trabalho fotográfico – e pioneiro – de Frank Hurley, o fotógrafo australiano que integrou a expedição – falhada, uma vez mais – de Shackleton, trabalho que nunca havia sido antes publicado na íntegra. Apesar de uma vez mais ter fracassado na sua missão inicial de percorrer a pé a Antárctida, Shackleton levou a bom porto a missão hercúlea de salvamento e, paralelamente, de manter a tripulação unida na desgraça, mostrando-se como um líder que, mais do que a glória, soube dar valor à vida humana. Um documento histórico extraordinário sobre um dos mais primários e fascinantes instintos humanos: a sobrevivência.