“Roubo de cargas é um crime nacional. Devemos parar de tratá-lo como varejo”

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Delegado da Polícia Federal, Getúlio Bezerra Santos, acredita ser primordial criar sistema integrado de informações sobre os casos
Delegado da Polícia Federal, Getúlio Bezerra Santos, acredita ser primordial criar sistema integrado de informações sobre os casos
por Natália Pianegonda /Agência CNT de Notícias
O primeiro delegado da Polícia Federal a comandar a Diretoria de Combate ao Crime Organizado e promover uma atuação especializada no combate ao roubo de cargas na corporação, Getúlio Bezerra Santos, defende a implantação de sistemas de informação mais eficientes sobre o tema. Segundo ele, que hoje é diretor-presidente da FBCP (Fundação Brasileira de Ciências Policiais), o roubo de cargas é um “crime nacional”, mas vem recebendo “tratamento de varejo”.

Em entrevista à Agência CNT de Notícias, o delegado defendeu a parceria das forças de segurança com o setor privado e falou sobre os avanços obtidos após a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) Mista do Roubo de Cargas, realizada há cerca de 15 anos pelo Congresso Nacional. O relatório da CPI, concluído em 2002, indiciou 156 pessoas.

A CNT participou, nessa segunda-feira (5), do IV Encontro de Chefes de Delegacias de Repressão a Crimes contra o Patrimônio e ao Tráfico de Armas, para debater o trabalho conjunto no enfrentamento a essa prática. O evento ocorre em Florianópolis (SC) até sexta-feira (9).

Como ampliar a integração entre as forças de segurança e o setor privado e de que maneira isso pode fortalecer o combate ao roubo de cargas?

Eu acho que começamos certo. Depois da CPI do Roubo de Cargas, houve a formação da Diretoria de Combate ao Crime Organizado na Polícia Federal, com um segmento específico para crimes contra o patrimônio. Isso foi fruto da experiência e das recomendações da CPI. Foi um aprendizado para nós. Primeiro, temos que criar uma cultura de cooperação. Eu costumo fazer uma adaptação de uma frase, trazendo para o roubo de cargas, que é a seguinte: o crime é nacional e estamos dando tratamento de varejo, com ilhas.

Informação estatística é algo importante para mudar esse tratamento?

O trabalho ainda é muito amador. Precisamos de profissionalismo com dados. Hoje, informações estatísticas, quem tem, é São Paulo. Precisamos ter esses dados integralizados e concentrados, ou dentro da própria CNT, que é a estrutura maior do segmento, ou dentro da PF ou de outra agência. Atualmente trabalhamos no achismo. As unidades das polícias não se comunicam, não há uma centralização dessas informações. Então, estabelecer uma sinergia, uma cultura de boa vontade e mão estendida e criar mecanismos mais práticos é preciso para retomar o conhecimento do fenômeno. Basta um dedo para acrescentar informação de um roubo dentro de um sistema. Depois, vem capacitação, que deve ser desenvolvida pelas duas partes. E, no final, queremos resultados.

A CPI do Roubo de Cargas trouxe avanços? Quais?

Nós avançamos. Houve uma proposta legislativa aprovada para que a Polícia Federal pudesse, sem prejuízo de outros órgãos, intervir na investigação desses crimes de repercussão interestadual, como o roubo de cargas, o que não era possível. Isso foi uma evolução a partir da CPI. Outro reflexo foi uma mudança de estrutura da Polícia Federal, com a criação da Diretoria de Combate ao Crime Organizado, com uma unidade de crimes contra o patrimônio, que incluía o roubo de cargas. Isso, mais a aproximação da PF com a CNT, foram passos importantes.

Outro resultado da CPI foi a criação da Lei Complementar 121/2006, que criou o Sistema Nacional de Sistema Nacional de Prevenção, Fiscalização e Repressão ao Furto e Roubo de Veículos e Cargas. Um grupo de trabalho está tratando da regulamentação da lei. Ele pode ajudar a superar algumas das barreiras que existem hoje?

Sim, porque cria protocolos, obrigações, normatiza o tratamento que os órgãos de segurança devem dar para isso.