Loures era o interlocutor de Michel Temer, diz diretor de terminal em depoimento à PF

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Loures ficou conhecido como o homem da mala de Temer (Foto: Bruno Santoa/Folhapress)
            Loures ficou conhecido como o homem da mala de Temer (Foto: Bruno Santoa/Folhapress)

O ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) era o interlocutor do presidente Michel Temer com o setor privado e atuou para resolver problemas do segmento portuário, afirmou o diretor do Grupo Rodrimar Ricardo Mesquita em depoimento à Polícia Federal (PF), conforme reportagem divulgada nesta segunda-feira (12)  no site da revista Época.

 O depoimento foi feito na sede da PF em Brasília, na última quinta-feira (08), e integra o inquérito aberto para investigar Michel Temer. Loures ficou conhecido como o homem da mala de Temer, após ter sido indicado pelo presidente à JBS como seu interlocutor e ter recebido R$ 500 mil em propina.

Na investigação da PF, conversas de Mesquita e Loures foram gravadas. Elas tratavam das negociações dentro do Governo sobre o novo Decreto dos Portos, sancionado no início do mês passado e que mudou as regras do setor para impulsionar investimentos. O texto atendeu vários pleitos do segmento, menos a renovação de contratos de arrendamento de terminais portuários firmados antes de 1993 (ano da Lei de Modernização dos Portos, que incentivou a concessão de terminais), defendido pela Rodrimar, que tem uma instalação no Porto de Santos nessa condição. No depoimento, o diretor informou que esse pedido ainda seria atendido.

“Segundo o declarante tomou conhecimento, será editada uma medida provisória ou um projeto de lei visando suprir especificamente essa lacuna do marco regulatório quanto aos terminais pré-93”, revelam os registros obtidos por Época.

Ricardo Mesquita afirmou à PF que conheceu Rocha Loures em 2013, quando o parlamentar era assessor de Relações Institucionais da Vice-Presidência, ocupada por Temer à época. Mesmo que os deveres do vice-presidência não envolvessem o setor portuário, havia uma orientação para procurar Loures, que falava por Michel Temer, para tratar dessas questões.

Mesquita disse que o setor portuário tinha dificuldades para debater com Brasília “questões relacionadas à nova Lei dos Portos, editada em junho de 2013”. “Diante da dificuldade de acesso ao Palácio do Planalto e demais órgãos da estrutura do Governo Federal, o setor foi orientado a procurar por Rodrigo da Rocha Loures, uma vez que ele realizava a interlocução entre a Vice-Presidência da República e representantes do setor privado”, registra o depoimento. Mesquita disse não saber de quem foi a orientação para procurar Loures.

Sobre o encontro gravado com Loures e o diretor da JBS, Ricardo Saud, em 24 de abril passado, pouco depois de os dois tratarem sobre pagamento de propina, Mesquita afirmou que só tratou de amenidades.

Em relação a ter sido considerado por Saud e Loures para pegar a propina da JBS em nome do deputado, Ricardo Mesquita disse que “nunca participou de operações envolvendo a atividade de apanhar valores em espécie no interesse de agentes políticos” e relatou que “lhe soou estranho” ter sido indicado para receber valores em espécie.

A Tribuna procurou Ricardo Mesquita. Sua assessoria de imprensa confirmou que ele deu o depoimento à Polícia Federal na última quinta-feira, mas disse que ele não comentaria o que falou.

O Grupo Rodrimar, via assessoria de imprensa, informou que acompanhou as discussões do Decreto dos Portos por meio de entidades setoriais e não teve todos os seus pedidos contemplados na lei.

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