Especialistas defendem uso para lama dragada

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Atualmente, material dragado do estuário é lançado em uma área de descarte na costa de Guarujá (Foto: Carlos Nogueira)
Atualmente, material dragado do estuário é lançado em uma área de descarte na costa de Guarujá
(Foto: Carlos Nogueira)

por Fernanda Balbino / Tribuna de Santos

A realização de estudos sobre a qualidade dos sedimentos dragados no Porto de Santos e, dependendo dos resultados obtidos, a utilização e a comercialização desse material foram defendidas pelos pesquisadores Guilherme Lotufo, do Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos (Usace), e Sérgio Pompéia, da brasileira Consultoria, Planejamento e Estudos Ambientais (CPEA). Segundo eles, os volumes dragados podem até se tornar uma fonte de recursos para as autoridades do segmento.

O tema foi discutido na quinta-feira (18), durante o 1º Workshop Internacional de Gerenciamento de Material Dragado, promovido a partir de uma parceria entre a CPEA e os laboratórios de análises químicas Eurofins e Tecam. O evento aconteceu durante a tarde, no Hotel Mercure, no Boqueirão, em Santos.

De acordo com Lotufo, existem formas de uso benéfico dos sedimentos dragados, além do descarte em áreas pré-estabelecidas pelas autoridades ambientais, como acontece no Porto de Santos. No entanto, no Brasil e em muitos outros países, esses resíduos ainda são desperdiçados.

“Com o aquecimento global e o aumento do nível do mar, existe a necessidade de material para se manter os ambientes, para se fazer obras de proteção. Esse é o uso benéfico (dos sedimentos dragados). Um recurso muito valioso que, muitas vezes, é desperdiçado. A sociedade, os pesquisadores e os governos devem se voltar mais para essa pesquisa e tentar entender os riscos associados ao uso benéfico para que isso não seja desperdiçado”, destacou o pesquisador da Usace.

O Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos é uma referência mundial em diversos campos da engenharia. Áreas como meio ambiente, navegação fluvial e prevenção a cheias estão entre os focos de estudos realizados por seus pesquisadores, tanto civis como militares.

“A realidade é que aqui e em muitos países, muitos materiais são colocados no mar, mas têm um valor que está sendo desperdiçado. Lá fora também é desperdiçado. Em alguns casos, não tem que estudar mais procedimentos. Tem só que entender o que já foi pesquisado”, destacou Lotufo.

Análises e contaminantes

Apesar de parecer viável, a comercialização dos sedimentos depende de intensas análises. O processo é necessário para saber a exata composição do material, que, em Santos, é contaminado e precisa de uma destinação adequada.

Segundo Sérgio Pompeia, no material orgânico retirado do canal de navegação do Porto de Santos, há muitos contaminantes ligados à cadeia de hidrocarbonetos. Eles podem ser decorrentes de processos de queima de produtos, ocorridos no Polo de Cubatão no século passado. Também há incidência de metais, em menor quantidade.

“Tem um processo histórico das décadas de 50, 60, 70 de contaminação por conta da atividade industrial e urbana. A gente não pode esquecer que, durante muitos anos, a Baixada Santista também recebeu águas que vinham da Billings com contaminantes. Mas isso faz parte da história. Hoje, é completamente diferente, temos controle bastante rígido de todas as atividades”, explicou o presidente da CPEA.

Para o pesquisador, o processo de dragagem do Porto até propicia uma espécie de limpeza do estuário, com resultados ambientais que devem ser destacados. “Esse processo se reflete no surgimento de espécies que não eram observadas, seja na parte de tartarugas – a gente vê uma grande quantidade delas se alimentando no estuário – ou dos botos, ou diversas espécies de aves que não eram vistos nessa quantidade de hoje”, cita Pompéia.

São muitas possibilidades para a destinação do material dragado. Mas, segundo os especialistas, tudo depende do volume e dos tipos de contaminantes e sedimentos encontrados. “Você tem um leque de possibilidades, desde soluções de deposição em locais seguros, confinados, onde podem ficar permanentemente, até soluções de uso benéfico ou mesmo algum tratamento, mas isso tudo varia de caso a caso. Não existe solução mágica e ela é de acordo com cada tipo de situação”, destacou Pompéia.