Todo ano, empresas de transporte da Europa, EUA e China fazem um grande negócio: recebem dinheiro para abandonar na costa sul da Ásia os navios cuja vida útil acabou. Três países em especial aceitam o descarte de bom grado: para Índia, Paquistão e Bangladesh, esses restos são um importante incremento econômico. O problema é que, nesse processo, 100 mil pessoas — incluindo 10 mil menores de 18 anos — trabalham em condições precárias, a temperaturas de até 43 °C, expostas a substâncias tóxicas e recebendo um salário de US$ 3 por dia. Os turnos são de 12 horas, sem folga, férias nem assistência médica. Quando se acidentam, muitas vezes, os operários recebem como indenização uma passagem para casa.
Mais de 250 empresas asiáticas operam neste segmento, entre as maiores estão a indiana ShreeKrishna Enterprise e a paquistanesa Al HamzaShipBreaking. Juntas, elas processam anualmente cerca de 640 dos 800 navios descartados no mundo — 88% vindos da Europa e EUA — e geram 3,6 milhões de toneladas de aço, vendidos para grandes empresas da construção civil e indústrias de peças para veículos.
Segundo a ONG Shipbreaking Platform, sediada na Bélgica que denuncia as condições desumanas de trabalho nos portos de reciclagem da Ásia,trabalhadores são dispensados e substituídos todos os dias, sem que nenhuma empresa preste contas aos governos locais. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) considera a atividade em desmanche de navios um dos dez empregos mais perigosos do mundo, no mesmo nível de risco de ser soldado ou minerador.